da BBC Brasil
A ativista e cineasta brasileira Iara Lee, detida por tropas israelenses na ação militar contra embarcações que levavam ajuda humanitária à Gaza na segunda-feira passada, disse que passageiros do barco em que viajava "'viram soldados atirando corpos no mar".
Iara viajava no barco Mavi Marmara, que foi palco dos episódios de violência  que resultaram na morte de nove ativistas. Em entrevista à BBC Brasil, de  Istambul, onde chegou nesta quinta-feira de madrugada junto com um grupo de  cerca de 450 ativistas deportados de Israel, Iara disse não ter testemunhado as  mortes, mas que "outras pessoas que estavam no barco contaram ter visto soldados  atirando corpos no mar".
"Nossa contabilidade é de que 19 pessoas  morreram. Ainda há gente desaparecida, não sabemos o que aconteceu com eles. E  ainda há feridos muito graves, praticamente morrendo, que não conseguimos  retirar do hospital em Tel Aviv." Iara contou que os atiradores de elite do  Exército de Israel entraram no principal navio da frota "atirando para  matar".
Ela disse que o operador de internet do Mavi Marmara foi morto  com um tiro na cabeça.
"Ele estava na sala de operações, perto da ponte,  por onde entraram os atiradores de elite. O corpo dele foi encontrado com um  tiro na cabeça", disse ela nesta quinta-feira, antes de embarcar para os Estados  Unidos, onde vive.
Iara contou que estava embaixo do convés no momento do  ataque, mas quando subiu para procurar seu cinegrafista, viu quatro corpos e  vários feridos.
"Era muito sangue, eu comecei a passar mal, tive ânsia de  vômito e até desisti de procurá-lo." Violência desproporcional Para a cineasta,  a violência usada pelas tropas na ação foi desproporcional.
"Nos barcos  pequenos, eles usaram balas de borracha, gás lacrimogêneo e armas de choque. Mas  no nosso barco, eles chegaram usando munição de verdade", conta.
"Foram  atiradores de elite, todos vestidos de preto, armados".
A cineasta contou  que a abordagem israelense ocorreu por volta de 04h30 da madrugada, no escuro, e  que foi muito rápida.
"Tinha dois barcos da Marinha. Quando a gente  piscou apareceram dezenas de barcos de borracha, helicópteros, atiradores de  elite descendo no barco. A marca registrada deles é o silêncio, fomos pegos de  repente", ela lembra.
Iara acredita que os soldados ficaram assustados  com o número de passageiros a bordo - mais de 600 - e que, por isso, ele podem  ter optado por uma ação rápida com o objetivo de assumir imediatamente o  controle do barco.
"Esperávamos que eles atirassem para o alto, em  direção aos nossos pés, para nos assustar. Imaginávamos que eles fossem tentar  jogar redes nos nossos motores, deixar a gente à deriva no meio do mar, mas  nunca imaginamos isso." Depois da abordagem, as embarcações da tropa foram  levadas para o porto de Ashdod, em Israel, com todos os passageiros algemados.  "Quando mandaram a gente descer do barco, já tinham jogado todo o conteúdo de  nossas malas no chão, estava tudo misturado. Eram roupas, laptops, pijama,  escova de dentes, tudo junto." Os ativistas voltaram para a Turquia apenas com a  roupa do corpo e seus passaportes. Segundo a cineasta, todas as câmeras,  telefones celulares e blackberries foram confiscados pelo Exército. Ela diz que  perdeu US$ 150 mil em câmeras e lentes.
Mas Iara disse que os ativistas  conseguiram salvar registros do ataque que teriam sido escondidos em peças de  roupas.
"A gente conseguiu salvar algumas fitas com imagens do ataque,  que costuramos nas nossas roupas e não foram encontradas pelas autoridades  israelenses." Iara Lee saiu do Brasil em 1989 e passou 15 anos nos Estados  Unidos, onde é radicada. Nos últimos cinco anos, ela morou em diversos países,  entre eles Irã, Tunísia e França, onde filmou  documentários.
 
 

 
 
 
 
 
 
 
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