Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

25 outubro 2010

Magistral resposta do Prof. Theotonio dos Santos à "Carta Aberta" de FHC a Lula

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Publicado hoje no blog de Theotonio dos Santos, professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável
http://theotoniodossantos.blogspot.com/2010/10/carta-aberta-fernando-henrique-cardoso.html
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SEGUNDA-FEIRA, 25 DE OUTUBRO DE 2010


CARTA ABERTA A FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
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Meu caro Fernando
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Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete comtudo este debate teórico. Esta carta assiada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).
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Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.
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O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.
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No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?
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Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.
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Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.
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E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS, PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. VERGONHA FERNANDO. MUITA VERGONHA. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo... te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.
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Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.
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Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais.
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Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso faze-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.
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Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.
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Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.
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Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço
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Theotonio Dos Santos
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thdossantos@terra.com.br, /theotoniodossantos.blogspot.com/
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Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Aos que não tiveram acesso à carta de Fernando Henrique segue abaixo seu conteúdo.


CARTA ABERTA DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO A LULA / PT


SEM MEDO DO PASSADO


Fernando Henrique Cardoso


O presidente Lula passa por momentos de euforia que o levam a inventar inimigos e enunciar inverdades. Para ganhar sua guerra imaginária, distorce o ocorrido no governo do antecessor, autoglorifica-se na comparação e sugere que se a oposição ganhar será o caos. Por trás dessas bravatas está o personalismo e o fantasma da intolerância: só eu e os meus somos capazes de tanta glória. Houve quem dissesse “o Estado sou eu”. Lula dirá, o Brasil sou eu! Ecos de um autoritarismo mais chegado à direita.


Lamento que Lula se deixe contaminar por impulsos tão toscos e perigosos. Ele possui méritos de sobra para defender a candidatura que queira. Deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores. Para que, então, baixar o nível da política à dissimulação e à mentira?


A estratégia do petismo-lulista é simples: desconstruir o inimigo principal, o PSDB e FHC (muita honra para um pobre marquês…). Por que seríamos o inimigo principal? Porque podemos ganhar as eleições. Como desconstruir o inimigo?


Negando o que de bom foi feito e apossando-se de tudo que dele herdaram como se deles sempre tivesse sido. Onde está a política mais consciente e benéfica para todos? No ralo.


Na campanha haverá um mote – o governo do PSDB foi “neoliberal” – e dois alvos principais: a privatização das estatais e a suposta inação na área social. Os dados dizem outra coisa. Mas os dados, ora os dados… O que conta é repetir a versão conveniente. Há três semanas Lula disse que recebeu um governo estagnado, sem plano de desenvolvimento. Esqueceu-se da estabilidade da moeda, da lei de responsabilidade fiscal, da recuperação do BNDES, da modernização da Petrobras, que triplicou a produção depois do fim do monopólio e, premida pela competição e beneficiada pela flexibilidade, chegou à descoberta do pré-sal.


Esqueceu-se do fortalecimento do Banco do Brasil, capitalizado com mais de R$ 6 bilhões e, junto com a Caixa Econômica, libertados da politicagem e recuperados para a execução de políticas de Estado.


Esqueceu-se dos investimentos do programa Avança Brasil, que, com menos alarde e mais eficiência que o PAC, permitiu concluir um número maior de obras essenciais ao país. Esqueceu-se dos ganhos que a privatização do sistema Telebrás trouxe para o povo brasileiro, com a democratização do acesso à internet e aos celulares, do fato de que a Vale privatizada paga mais impostos ao governo do que este jamais recebeu em dividendos quando a empresa era estatal, de que a Embraer, hoje orgulho nacional, só pôde dar o salto que deu depois de privatizada, de que essas empresas continuam em mãos brasileiras, gerando empregos e desenvolvimento no país.


Esqueceu-se de que o país pagou um custo alto por anos de “bravata” do PT e dele próprio. Esqueceu-se de sua responsabilidade e de seu partido pelo temor que tomou conta dos mercados em 2002, quando fomos obrigados a pedir socorro ao FMI – com aval de Lula, diga-se – para que houvesse um colchão de reservas no início do governo seguinte. Esqueceu-se de que foi esse temor que atiçou a inflação e levou seu governo a elevar o superávit primário e os juros às nuvens em 2003, para comprar a confiança dos mercados, mesmo que à custa de tudo que haviam pregado, ele e seu partido, nos anos anteriores.


Os exemplos são inúmeros para desmontar o espantalho petista sobre o suposto “neoliberalismo” peessedebista. Alguns vêm do próprio campo petista. Vejam o que disse o atual presidente do partido, José Eduardo Dutra, ex-presidente da Petrobras, citado por Adriano Pires, no Brasil Econômico de 13/1/2010.


“Se eu voltar ao parlamento e tiver uma emenda propondo a situação anterior (monopólio), voto contra. Quando foi quebrado o monopólio, a Petrobras produzia 600 mil barris por dia e tinha 6 milhões de barris de reservas. Dez anos depois, produz 1,8 milhão por dia, tem reservas de 13 bilhões. Venceu a realidade, que muitas vezes é bem diferente da idealização que a gente faz dela”. (José Eduardo Dutra)


O outro alvo da distorção petista refere-se à insensibilidade social de quem só se preocuparia com a economia. Os fatos são diferentes: com o Real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza continuou caindo, com alguma oscilação, até atingir 18% em 2007, fruto do efeito acumulado de políticas sociais e econômicas, entre elas o aumento do salário mínimo. De 1995 a 2002, houve um aumento real de 47,4%; de 2003 a 2009, de 49,5%. O rendimento médio mensal dos trabalhadores, descontada a inflação, não cresceu espetacularmente no período, salvo entre 1993 e 1997, quando saltou de R$ 800 para aproximadamente R$ 1.200. Hoje se encontra abaixo do nível alcançado nos anos iniciais do Plano Real.


Por fim, os programas de transferência direta de renda (hoje Bolsa-Família), vendidos como uma exclusividade deste governo. Na verdade, eles começaram em um município (Campinas) e no Distrito Federal, estenderam-se para Estados (Goiás) e ganharam abrangência nacional em meu governo. O Bolsa-Escola atingiu cerca de 5 milhões de famílias, às quais o governo atual juntou outras 6 milhões, já com o nome de Bolsa-Família, englobando em uma só bolsa os programas anteriores.


É mentira, portanto, dizer que o PSDB “não olhou para o social”. Não apenas olhou como fez e fez muito nessa área: o SUS saiu do papel à realidade; o programa da aids tornou-se referência mundial; viabilizamos os medicamentos genéricos, sem temor às multinacionais; as equipes de Saúde da Família, pouco mais de 300 em 1994, tornaram-se mais de 16 mil em 2002; o programa “Toda Criança na Escola” trouxe para o Ensino Fundamental quase 100% das crianças de sete a 14 anos. Foi também no governo do PSDB que se pôs em prática a política que assiste hoje a mais de 3 milhões de idosos e deficientes (em 1996, eram apenas 300 mil).


Eleições não se ganham com o retrovisor. O eleitor vota em quem confia e lhe abre um horizonte de esperanças. Mas se o lulismo quiser comparar, sem mentir e sem descontextualizar, a briga é boa. Nada a temer.    . . . . . . (Fernando Henrique Cardoso)

20 outubro 2010

O "E AGORA JOSÉ" DE UM CERTO JOSÉ DE AGORA: extraordinário

Transcrito do http://quemtemmedodolula.blogspot.com/2010/10/jose-ao-espelho.html
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Esta paródia pra lá de séria do poema do Drummond (não é nenhum achincalhe!) vem correndo a net com a informação de que seu autor tem razões que o impedem de assumir o nome publicamente. Extremamente séria, fundamentada e bem realizada, acredito que devemos pô-la pra circular mesmo assim!
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José ao espelho


Toda manhã você para aqui
O aparelho de barbear em punho firme
Zás zás mas
A cara nova não redime, né?

Vamos conversar um pouco, José?

Você teve um tio
Na Segunda Guerra confinado
Em campo de concentração, José.
Com se sente nesta eleição
Sendo apoiado por neonazistas,
Pela TFP, pela União Nacional Republicana
Nome pomposo de provocadores
De ultradireita fascista?

E agora, José?

E agora,você que foi pobre
E tem a seu lado Daniel Dantas
Que foi estudioso
E, ainda este ano
Governador de São Paulo,
Enviou a alunos da rede pública
Livros com pornografia,
Apostilas com 3 Paraguais
Na América do Sul
Cadernos de alunos
Recomendando site de prostituição?

E agora, José?

Você que foi vítima da ditadura,
Como se sente agredindo,
Apenas por razões eleitorais,
Sua adversária candidata
Que sofreu na carne
A tortura da mesma ditadura
Da qual você fugiu para o Chile?

Hoje de madrugada,
Antes de repousar,
Você veio aqui se olhar.

Lembra, José?

Você ficou me olhando
Em busca de uma ideia.
Eu, cá, deste lado do espelho
Matutando.

Mas ideia não veio
Sentimento não veio
Não veio a lembrança de outros tempos
Quando você lutou pela anistia
Não veio a memória da luta pelas Diretas-Já
Não veio o discurso contra a tortura.

E a noite esfriou
O riso não veio
Não veio a utopia
E seu vice do DEM
Te deu uma agonia
E você me olhou
Com a barba mal-dormida
Querendo uma dica...

E eu te dei, lembra?
Eu disse:
- José, ainda dá tempo
De salvar sua biografia:
Vota na Dilma!
Ninguém vai saber,
Só eu e você, José!

Mas você foi dormir
E agora volta com esse prestobarba
E a cara lambuzada de creme macio
Por que assim me olha, José?

Cadê sua coerência?
Sua jaqueta blue jeans?
Suas idéias libertárias?

Em que acordo com
O Bornhausen, o Civita, os Frias, os Mesquita, os Marinho
Perdeu-se sua biografia?

José, cadê sua coragem?
Sua independência dos poderosos?
Sua utopia?

Com esse prestobarba na mão
E a cara lambuzada
De macio creme de barba
José, você quer mais uma dica.

Se você gritasse
Se você gemesse,
Se você chorasse
Se você se arrepedesse
Ainda dava tempo
Pra salvar sua biografia
Do Brejo das Almas

Mas sozinho com seu prestobarba
Diante de sua imagem espelhadaEstupefata
Qual bicho capturado
Pela TFP, pela UNR, pelo DEM
Sem teologia
Sem ideologia
Sem utopia
Festejado por neonazistas
E ex-torturadores
Ladeado por Jorge Bornhausen
E Jair Bolsonaro
Ex-militar raivoso
Que pede o fuzilamento do presidente Lula

José, você marcha.
José, para onde?

19 outubro 2010

Foto imperdível da noite de 18.10.2010 - para a memória do Brasil

18.10.2010: arrepiado e de olhos úmidos, só consigo pensar: NENHUMA GERAÇÃO JAMAIS AMOU O BRASIL COMO ESSA, e não há de sair de cena sem haver resgatado todo o potencial de dignidade da sua gente ...



18 outubro 2010

A baixaria da campanha torna o PT e o Sr.Serra iguais?

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A vespa e a abelha começaram a discutir sobre a propriedade de um favo cheio de mel. A vespa dizia que era dela. Chamaram o juiz, que disse: "é simples: quero que as duas façam mel aqui na minha frente para eu ver" - e naturalmente só a abelha fez. A abelha e a vespa podem ter usado precisamente as mesmas palavras para se xingarem, mas isso não as torna iguais: uma já deu mel ao mundo, a outra não.

escrito ao receber reagindo a mais uma 'denúncia' falsamente ética dos apoiadores do candidato anti-social

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Pois é, minha amiga, desde o começo foi essa a marca dessa campanha: criar situações que permitam ao falso apontar o outro como falso e agressor.
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Nem estou lendo mais esses emails cheios de inverdades pseudo-documentadas. Nelas não entra em jogo o único critério que realmente importa: resultados - não em termos de indicadores isolado, mas em termos de MELHORA DE VIDA DO CONJUNTO DE UM POVO.
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Só bati o olho numa frase e a comento rapidamente: a pessoa chama de agressão e ignorância alguém do lado petista ter chamado de cretinice alguma fala do Hélio Bicudo.
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Ora: está em curso um dos maiores projetos de libertação social já acontecidos na História - e isso sem por armas, mas pelo mero remanejo de alguns fatores institucionais e econômicos. Um processo histórico grandioso. As forças que compraram o PSDB ao longo das duas útlimas décadas visam especificamente
frear esse processo, através de políticas sociais não-libertadoras, que mantenham as massas em posição subordinada a serviço das classes média e alta (eu teria exemplos relativos ao sistema de ensino profissional e superior, mas ficam para outra ocasião).
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Que alguém que participou da construção desse projeto de libertação social, projeto levou décadas de esforços e sacrifícios para chegar onde chegou, agora se volte contra ele - para isso "cretinice" é pouco.
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Não paro de dizer: mesmo sem ser petista, não é possível que alguém não se emocione com a obra histórica liderada pelo Lula e não se sinta honrado em apoiá-la e em participar, a não ser que sofra de
deficiência de entendimento, deformação ética (pôr o interesse próprio e dos seus acima do de dezenas de milhões de pessoas), ou as duas.
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Não vou nem dizer as palavras populares que ocorrem espontaneamente para "deficiência de entendimento" e "deficiência ética", para não se chamado de agressor ignorante. Mas não sou eu quem diz, são os fatos!  Como é que pessoas que se colocam tão acintosamente contra a evidência dos fatos ainda querem ser respeitadas?
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Não é por "ser petista", mas por ter investido a vida na superação da sociedade baseada na exploração, que tenho que afirmar: DEFENDER SERRA É SINAL DE DEFICIÊNCIA DE ENTENDIMENTO OU DE DEFORMAÇÃO ÉTICA, OU DAS DUAS JUNTAS. Frente aos fatos não há como escapar.
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Então, serristas, não usei nenhuma palavra feia, de gente ignorante... mas sintam-se xingados sim: não são as palavras, é o conteúdo da opção anti-social de vocês que fede.
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São vocês mesmos que se auto-achincalham ao fazer essa opção que, sejam honestos consigo mesmos: visa apenas o seu próprio bem-estar, e objetivo nobre absolutamente nenhum!
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Ralf Rickli, pedagogo e escritor, e sobretudo
um sujeito que não leva nem um átomo de vantagem pessoal por defender esta posição

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17 outubro 2010

Refletindo sobre a semana na manhã de domingo...

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O governo do 'ignorante' torneiro mecânico deu ao Brasil DIGNIDADE como nunca tinha tido. Lembro BEM do olhar irônico dos europeus diante de qualquer tentativa de afirmação da nossa relevância! 


Hoje passamos de piada a exemplo admirado. Espantoso que alguns queiram destruir essa conquista REAL pela 'volta' a uma dignidade anterior imaginada, que nunca existiu!

16 outubro 2010

Mônica Serra, que acusa Dilma de querer 'matar criancinhas', já fez aborto voluntário

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Como disse Luis Nassif," esse tema ganha relevância exclusivamente pela falta de escrúpulos de Mônica Serra durante a campanha, acusando Dilma de 'assassinar criancinhas'":
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Folha de S.Paulo : sábado, 16 de outubro de 2010http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1610201011.htm
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Monica Serra contou ter feito aborto, diz ex-aluna
Reportagem tentou ouvir mulher de candidato tucano por dois dias, sem sucesso
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA 

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O discurso do candidato à Presidência José Serra (PSDB) de que é contra o aborto por "valores cristãos", que impedem a interrupção da gravidez em quaisquer circunstâncias, é questionado por ex-alunas de sua mulher, Monica Serra.
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Num evento no Rio, há um mês, a psicóloga teria dito a um evangélico, segundo a Agência Estado, que a candidata Dilma Rousseff (PT), que já defendeu a descriminalização do aborto, é a favor de "matar criancinhas".
Segundo relato feito à 
Folha por ex-alunas de Monica no curso de dança da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a então professora lhes contou em uma aula, em 1992, que fez um aborto quando estava no exílio com o marido.
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Depois do golpe militar no Brasil, Serra se mudou para o Chile, onde conheceu a mulher. Em 1973, com o golpe que levou Augusto Pinochet ao poder, o casal se mudou para os Estados Unidos.
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OUTRO LADO
Folha tentou falar com Monica Serra durante dois dias para comentar o relato das ex-alunas, sem sucesso.
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Um dia depois do debate da TV Bandeirantes, no domingo, 10, a bailarina Sheila Canevacci Ribeiro, 37, postou uma mensagem em seu Facebook para "deixar a minha indignação pelo posicionamento escorregadio de José Serra" em relação ao tema.

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Ela escreveu que Serra não respeitava "tantas mulheres, começando pela sua própria mulher. Sim, Monica Serra já fez um aborto". A mensagem foi replicada em outras páginas do site e em blogs.

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"Com todo respeito que devo a essa minha professora, gostaria de revelar publicamente que muitas de nossas aulas foram regadas a discussões sobre o seu aborto traumático", escreveu Sheila no Facebook. "Devemos prender Monica Serra caso seu marido fosse [sic] eleito presidente?"

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À 
Folha a bailarina diz que "confirma cem por cento" tudo o que escreveu. Sheila afirma que não é filiada a partido político. Diz ter votado em Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) no primeiro turno. No segundo, estará no Líbano, onde participará de performance de arte.
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Se estivesse no Brasil, optaria por Dilma Rousseff (PT). Sheila é filha da socióloga Majô Ribeiro, que foi aluna de mestrado na USP de Eva Blay, suplente de Fernando Henrique Cardoso no Senado em 1993. Majô foi pesquisadora do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da USP, fundado pela primeira-dama Ruth Cardoso (1930-2008).

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Militante feminista, Majô foi candidata derrotada a vereadora e a vice-prefeita em Osasco pelo PSDB.

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A socióloga disse à 
Folha estar "preocupada" com a filha, mas afirma que a criou para "ser uma mulher livre" e que ela "agiu como cidadã". 
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Sheila é casada com o antropólogo italiano Massimo Canevacci, que foi professor de antropologia cultural na Universidade La Sapienza, em Roma, e hoje dirige pesquisas no Brasil.
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Folha localizou uma colega de classe de Sheila pelo Facebook. Professora de dança em Brasília, ela concordou em falar sob a condição de anonimato.
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Contou que, nas aulas, as alunas se sentavam em círculos, criando uma situação de intimidade. Enquanto fazia gestos de dança, Monica explicava como marcas e traumas da vida alteram movimentos do corpo e se refletem na vida cotidiana.

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Segundo a ex-estudante, as pessoas compartilhavam suas histórias, algo comum em uma aula de psicologia.

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Nesse contexto, afirmou, Monica compartilhou sua história com o grupo de alunas. Disse ter feito o aborto por causa da ditadura.

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Ainda de acordo com a ex-aluna, Monica disse que o futuro dela e do marido, José Serra, era muito incerto.

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Quando engravidou, teria relatado Monica à então aluna, o casal se viu numa situação muito vulnerável.

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"Ela não confessou. Ela contou", diz Sheila Canevacci. "Não sou uma pessoa denunciando coisas. Mas [ela é] uma pessoa pública, que fala em público que é contra o aborto, é errado. Ela tem uma responsabilidade ética."


Colaboraram LIGIA MESQUITA e MARCUS PRETO , de São Paulo

14 outubro 2010

por que pessoas escolhem Serra apesar do sucesso histórico de Lula & equipe, e a razão metafísica da minha opção

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Bom dia... aqui fala Ralf Rickli, brasileiro, 53 anos, que define sua atividade como "arte em ideias, palavras & educação", e peço licença de enviar a você uma única vez as razões do meu posicionamento na situação eleitoral atual. Não insistirei, mas se gostar peço que passe adiante a mensagem, ou pelo menos o link deste post.
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I
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De um lado, me surpreendo com o apoio a Serra por parte de algumas pessoas que parecem ter consciência social e sentimento ético. Não quero duvidar de que estão falando de boa fé, mesmo se tenho razões para considerá-la mais um caso de boa fé equivocada.
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Essa me parece ser a
razão 1: informação insuficiente (porque colhida unilateralmente) e, sim, ingenuidade. 

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É preciso entender que não foi por acaso nem por incompetência administrava que o Brasil chegou a 2002 como um país rico porém com a pior distribuição de renda do mundo: foi, ao contrário, por muita competência... no exercício da imoralidade, no exercício da gestão em benefício da minoria-de-que-se-faz-parte em detrimento da grande maioria. E não falo do governo FHC e sim de todos os 502 anos desde o descobrimento.
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Como imaginar que essas minorias beneficiadas pela má distribuição iriam deixar as coisas mudarem sem reagir? 
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Nunca foram outra coisa senão sua reação, em benefício próprio, as ferozes campanhas de imprensa que, a partir de um ou outro "mosquito" (como é impossível evitar que haja em qualquer situação humana) buscam retratar o governo do PT como uma horda de dragões.
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Sei que para alguns é difícil crer que uma Editora Abril, que na virada 1960-70 ajudou a iluminar o país com publicações como a mensal Realidade, e depois a Veja dos tempos iniciais, dirigida por Mino Carta (atual diretor da Carta Capital) tenha se tornado a organização mafiosa que se tornou, capaz de pagar a jornalistas mercenários sem qualquer escrúpulo para fornecerem ao país uma imagem brutalmente deturpada dos fatos, fazendo crer que os mafiosos são os outros, e isso tudo em defesa da permanência de seu grupo de interesses no poder.
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Mas vejam a vida nas periferias de São Paulo, vejam o interior do Nordeste, vejam a imagem e o papel real do Brasil na arena internacional,
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... por outro lado recordem cuidadosa e honestamente o país que tínhamos antes, em todos esses níveis, com o domínio das elites que bancam as Vejas da vida para defendê-las...
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... e aí por favor relembrem o antigo ditado É PELOS FRUTOS QUE SE IDENTIFICA A NATUREZA DA ÁRVORE.
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II
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Mas no que acabo de dizer já está implícito que além da razão dos enganados existe a razão dos enganadores - e é aqui que a coisa se torna mais delicada, pois
não há ser humano que não passe pela tentação de enganar para garantir confortos a si mesmo - inclusive se auto-enganar encontrando razões "justas" para o injusto. 

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Com isso quero dizer: a
razão 2 e mais decisiva para alguém escolher o Serra não é o Serra, e sim apenas afastar o PT do poder seja com o que for. E isso, por sua vez, se dá por este motivo preciso: o receio (mesmo que inconsciente, pouco consciente, ou disfarçado sob quilos de "desculpas") "quem vai trabalhar a preço de banana para mim e os meus, se essa distribuição de renda continuar?"
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Os "andares de cima" deste país foram formados por pessoas que eram zés-ninguém na Europa, e descobriram aqui o encanto de ter em quem mandar: qualquer um desses zés-ninguém logo virou sinhô, sinhá, comendador, em cima do trabalho de índios & africanos, trabalho que lá na Europa eles & os seus é que estariam fazendo.

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É
esse o pânico ancestral que sobe das tripas, mesmo sem que se o entenda, quando se vê as grades da escada sendo retiradas e o pessoal do rés-do-chão começando a subir.
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CONCLUSÃO
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Como antídoto para a informação insuficiente e/ou ingenuidade, sugiro o que eu costumo fazer: ler (quase) todos os dias um pouco dos dois lados. Pois não deixo de ler as informações da fonte Folha/UOL, e às vezes também do/da Globo, Estadão e Abril...
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... mas também leio todos os dias um pouco desse admirável exemplo de busca de equilíbrio e sensatez que é o
Luis Nassif e também do Luiz Carlos Azenha, e muitas vezes olho também essa escola de pensar ético e responsável que é o o blog do Leonardo Sakamoto, e espio ainda a Agência Carta Maior. Nem sonhem, aliás, que esses sejam sites extremados de esquerda, existe coisa léguas mais à esquerda do que eles! - que também consulto às vezes, e não cabe explicar agora por que não lhes dou prioridade.
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Digo que, dessa leitura dos dois lados, qualquer pessoa que tenha buscado cultivar um certo senso-de-verdade tão isento quanto possível sai com uma impressão bastante clara de quem é que está blefando na imensa maioria das vezes.
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Já quanto à ancestral e universal tentação de ser senhor de escravos
, só posso sugerir exame de consciência profundo. Ninguém é realmente isento dessa tentação, mas podemos aprender a identificá-la em nós e a nos posicionarmos contra ela
por princípio - um princípio que teremos que lutar todos os dias para não esquecermos, e para não desistirmos de tentar pôr em prática, apesar de atuar na contramão do nosso próprio conforto.
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Mas por quê optar por um princípio assim incômodo?
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Porque, acreditem:
o ato de um ser dominar outro em benefício próprio é o ato fundamental do mal. Todos os outros males derivam precisamente disso, e de nada mais.
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Eu também tenho essa tentação, como todos - mas decidi, como disse, que jamais a aceitarei como legítima, e enquanto tiver ainda que um fio de consciência tentarei combatê-la antes de mais nada em mim mesmo.
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Se você também considera essa tentação ilegítima, e a sua superação o objetivo maior da humanidade, prazer: somos colegas. Por mais insuficientes que ainda sejamos na nossa realização.
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Mas se você considera legítimo que alguns dominem outros em benefício próprio... não, isso não é apenas mais uma opção com a qual se pode conviver: você com isso se faz cúmplice voluntário na culpa por todos os sofrimentos da espécie humana. Você optou por ser parte do problema da humanidade, e não das tentativas de solução.
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E aí o melhor sentimento que posso ter em relação a você é torcer para que você ainda mude de atitude e de time - pois tolerância quanto a
essa posição você jamais terá de mim, em nenhum tempo em que eu exista como consciência. Se busco ser parte da solução, como poderei tolerar uma parte do problema sem tentar resolvê-la, dissolvê-la?
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DEIXANDO BEM CLARO: NÃO identifico PT como "time do bem" e PSBD como "time do mal": a coisa é MUITO mais sutil que isso!!  Mas neste momento em que temos que participar de uma escolha binária: ou ficará X no poder, ou ficará Y, e não existe terceira opção - está abolutamente claro que uma das opções já mostrou na prática que tem por objetivo reduzir o poder da dominação de um humano sobre outro, enquanto a outra opção mostrou que tem quando muito o objetivo de amaciar a dominação com algum creminho, mas jamais combatê-la de fato.
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E então diante dessa urna eu não tenho nenhuma dúvida do que minha consciência me manda fazer.

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08 outubro 2010

Sidarta Ribeiro, um dos mais importantes cientistas brasileiros atuais, sobre o governo Lula e o que espera de Dilma

Mente Cérebro
outubro de 2010

l i m i a r
neurociências
A hora é esta,
presidente!

Sidarta Ribeiro
neurobiólogo, chefe do laboratório do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, professor titular da UFRN

NO BRASIL, NUNCA SE INVESTIU TANTO EM PESQUISAS SOBRE O FUNCIONAMENTO DA MENTE COMO NO ATUAL GOVERNO
 
Quase oito anos atrás, assisti comovido à posse do primeiro presidente vindo da classe operária do Brasil. Começava ali um imenso experimento social. Diante das dificuldades postas em 2003, o sucesso de Lula é quase um milagre. Somos um país com enorme força criadora, mas moralmente movediço e burocraticamente perverso. A façanha de Lula foi orquestrar o caos em prol do bem comum, mobilizando capital humano para imprimir direção progressista à sociedade.
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Relendo agora o discurso de posse, verifico que quase todas as promessas foram integralmente cumpridas. 0 país voltou a "crescer, gerando empregos e distribuindo renda". Incrementou-se “o mercado interno e investiu-se fortemente em capacitação tecnológica e infraestrutura". Lula disse: "Este é um país que pode dar, e vai dar, um verdadeiro salto de qualidade". Foi o que aconteceu. Rumamos para ser "uma nação (...) consciente da própria importância no cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz de (...) acolher todos os seus filhos". Embora muitas vezes Lula tenha cedido para avançar, teve sempre como bússola a opção pelos mais fracos.
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No discurso de posse, educação e ciência aparecem associadas à confiança em nosso capital humano: "Este é o país do novo milênio (...) por sua competência intelectual e científica, (...) pelos dons e poderes do seu povo". No governo Lula, os ministérios da Educação, da Cultura e Ciência e Tecnologia catalisaram a geração e disseminação do conhecimento. Houve concessão de bolsas e aumentos de salário, expansão do número de vagas e criação de muitos pontos de cultura, escolas técnicas, universidades e institutos de pesquisa. Nunca se financiou tanto a mente brasileira como agora, num processo que ampliou oportunidades na base da sociedade e impulsionou a pesquisa de ponta.
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Escrevo a um mês das eleições. A julgar pelas pesquisas, teremos a primeira mulher presidente do Brasil. Alguns a criticam por ser radical. Trata-se de uma pessoa que teve a coragem física de resistir à ditadura. Uma mulher inteligente que valoriza e articula com eficácia o saber técnico. Lidera ampla aliança partidária e pode ter maioria no Congresso. Governará uma economia pujante, vasta riqueza biológica e mineral e uma população relativamente pequena para nosso imenso território. Se tiver a bússola tão firme quanto a de Lula poderá completar nossa transformação em um país de todos.
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Mas para isso será necessária certa radicalidade. Por favor, presidente: adote ideias radicais na educação. Cumpra a carta-compromisso da educação, avaliando e oferecendo formação continuada a todos os professores, premiando os bons mestres e tratando com atenção aqueles inaptos a ensinar. Crie bolsas de estudos para todo aluno pobre, premie o desempenho escolar e garanta que nenhum aluno se desgarre pelo caminho. E por favor, vá além: federalize a carreira de professor, equiparando salários em todos os níveis aos vencimentos dos docentes universitários.
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Parece uma ideia louca, mas na verdade é apenas justa e necessária. O mais importante para o futuro são as nossas crianças. A revolução está ao alcance de suas mãos, presidente. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
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Sidarta Ribeiro
Revista Mente Cérebro - Duetto Editorial - outubro de 2010
Foto: Ayrton Vignola | Folhapress
Ilustração: Gonçalo Viana

01 outubro 2010

o porquê dos meus votos, em poucas palavras

Compartilho com os amigos minhas opções para as eleições de 3 de outubro, com algumas poucas palavras explicando por quê.
Os de outros estados me desculpem, mas começo com a escolha mais crítica para os eleitores de São Paulo, como eu atualmente:
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MERCADANTE 13 governador
Moro no estado de SP há 23 anos, 13 deles na capital, frequentando-a intensamente nos outros 10.
Vi pessoas desesperadas tentando chegar ao trabalho sobre o teto dos ônibus ou penduradas nas portas nos tempos de Jânio Quadros, vazio tenebroso na cultura nos tempos de Maluf e Pitta, legiões de cidadãos vivendo nas calçadas sob Serra e Kassab. Mas vi o transporte, a cultura, a educação e a moradia melhorarem inacreditavelmente em prazos de 2 anos nas gestões do PT: Luiza Erundina e Marta Suplicy. O estado de São Paulo como um todo precisa ter a chance de experimentar isso - e para tanto agora só precisamos garantir que o candidato do psdb não ganhe no primeiro turno: depois temos mais um mês para virar o jogo por inteiro.
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DILMA 13 presidente
Admiro Marina Silva, vejo nela uma grandeza pessoal análoga à do Lula, e ainda quero vê-la presidente - mais adiante.
Pois o que tenho de conhecimento & entendimento me força a reconhecer Lula como um dos maiores gênios políticos da história. Sua construção da viabilidade interna do país com movimentos de escala internacional mostra-o como o primeiro líder a entender o alcance da força da globalização e a começar a inventar meios de domá-la.
Óbvio que se pode encontrar imperfeições na sua realização, pois humanos perfeito não existem, mas alguns se queixam de Lula deixar um buraco na estrada sem atentar pra que ele fez a estrada subir um Everest. E, se na reta final dessa imensa realização histórica, ele aponta Dilma como a pessoa ideal para o momento, não é agora que irei duvidar do seu tino.
(Obs.: quanto a Plínio, vejo nele o perfil de um excelente senador, jamais de um presidente).
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SARGENTO FERNANDO 4010 (PSB) deputado federal
Pela bravura de combater a corrupção, o arbítrio e a formação imbecilizante dentro do exército a ponto de pôr em risco a própria vida, e de  dar visibilidade nacional à sua relação estável com outro sargento em defesa da sua causa e da vida do companheiro - mostrando a milhões de jovens como ele que sua orientação sexual não é incompatível com caráter, coragem e responsabilidade social - e naturalmente por seu belo programa de luta pela dignidade humana nas mais diferentes frentes: veja www.sargentofernando.com.br
Obs.: se pudesse dar 2 votos para esse cargo, votaria mais uma vez na brava Luiza Erundina 4021 - curiosamente, também no PSB.
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CARLOS NEDER 13999 deputado estadual
Voto nele confiando no aval do meu representante municipal, vereador Nabil Bonduki - entre outras coisas porque isso irá viabilizar a continuidade de Nabil na câmara, posição de onde já deu contribuições inestimáveis nas questões de habitação e plano diretor, além uma das maiores contribuições já feitas à cultura da cidade de São Paulo (o Programa VAI). Mas confesso que minha ligação com a região de Santos também me tenta a votar mais uma vez em Telma de Souza 13004.
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MARTA 133 e NETINHO 650 senadores
Claro que aqui eu preferia votar em Plínio de Arruda Sampaio, se este tivesse tido a grandeza maior de pôr-se a serviço, mas já que preferiu uma posição de onde pode falar o que quer sem ter que bancar, sejamos pragmáticos: precisamos de PT e aliados com força no legislativo, ou a capacidade de ação do executivo estará inviabilizada.
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EM TEMPO:  na minha terra natal, Paraná, é óbvio que apoio com toda força Osmar Dias 12 pra governador, e quero ver o PT no Senado: Gleise 131. Sobre os outros cargos confesso que não estou suficientemente informado.