Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

20 setembro 2013

AMORES DE GUERREIROS ANCESTRAIS nº 2

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Publicado originalmente em 13/09/2013 na coluna Espaço LGBT do jornal ES Hoje
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Contam antigos papiros que Baskã reinava sobre o pequeno mas aguerrido povo de Akã, nos confins da Ásia. Colérico e instável, era menos querido que o filho Hediyê, autor de proezas nas lutas constantes com os vizinhos rakip - mas nenhuma comparável à do desconhecido boieiro Sevgili, que surpreendeu a todos abatendo o maior guerreiro rakip, pelo quê Baskã o convidou ao palácio. Sevgili sentiu-se honrado, mas nada à vontade na presença do rei - até que chegou o príncipe e (dizem os papiros) “a alma de Hediyê se ligou à alma de Sevgili”.

De olho numa junção de talentos guerreiros, Baskã mandou Sevgili ficar no palácio. Mal cabendo em si, Hediyê tirou e lhe deu sua túnica principesca e, sentindo que era pouco, entregou também o cinto, as melhores roupas, o arco, a espada - como querendo que o outro dividisse com ele o seu lugar na roupa e na vida, pois “o amava como à sua própria alma”.

Sevgili acompanhava Baskã nas batalhas, e tudo ia bem até que o rei reparou que o povo gabava mais os feitos de Sevgili que os seus. Alarmado, mandou que o matassem, mas Sevgili foi avisado e escapou para um esconderijo no mato, onde Hediyê o encontrava. O príncipe tentou demover o pai - mas este se enfureceu ainda mais e por pouco não acerta a lança no próprio filho, gritando “pensa que eu não sei que te juntaste ao boieiro, para vergonha tua e da vida-torta que te pôs no mundo?”
 

Assim Sevgili entendeu que precisava partir para outras terras, e se despediram beijando-se, abraçando-se e chorando em abundância, e Hediyê lhe dizia: “Tu vais vencer. Teus inimigos terão até os nomes varridos da Terra - mas meu nome há de ficar porque eu fiquei contigo. Até meu pai já entendeu que tu serás o rei, e eu serei o teu braço direito, e o nosso Deus Supremo unirá a tua descendência e a minha para sempre”. Pois (dizem os papiros) “Hediyê amava Sevgili com todo o amor da sua alma”.

Muito tempo passou, e muitos conflitos sangrentos naquela terra conturbada - até que um dia Baskã e seus filhos foram emboscados e, sem Sevgili para ajudar, trucidados pelos rakip. Ao sabê-lo, Sevgili chorou amargamente a batalha perdida e a morte do rei que, apesar de tudo, ele havia querido como a um pai - culminando seu pranto na declaração “Hediyê, meu irmão, a dor por ti me transpassa! Tu eras minha alegria, e o teu amor mais desejável para mim que o amor das mulheres”. Pouco depois Sevgili se tornou rei de Akã, e mandou buscar o filho de Hediyê para o proteger.

Que tremenda história de amor gay! Ou não? Homens que assumem sua natureza homoafetiva reconhecem de imediato o sentimento de cada frase. Se emocionam que há 3 mil anos alguém tenha descrito com tal precisão sensações que conhecem tão bem! Mas há quem não admita - pois essa história é da Bíblia, apenas mudei os nomes Jônatas, Davi, Saul e Israel por palavras turcas. Ninguém vê razão para negar que heróis bíblicos matassem, tivessem mulheres mil - mas que amassem um ao outro de corpo e alma, isso “não pode estar lá”. Não procure a razão: não há.

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13 setembro 2013

Os tais ex-gays e o caso bi

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Publicado originalmente no jornal ES Hoje, em 09.08.2013
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É uma minoria barulhenta, entre os religiosos, quem insiste em julgar a diversidade natural como anormal e abominação. E essa deu de apregoar que uma meia dúzia de ex-gays ou ex-travestis seriam prova de que o caminho certo para todos os 20 milhões de LGBTs brasileiros é aceitar a religião deles para virarem normais. Ativistas LGBT retrucam com fúria que orientação sexual não muda e os ditos ex só estão mentindo a si mesmos. Não é sem razão - mas parece que travamos nesse -É! -Não é! e não vamos adiante. Que tal tentar enfrentar a questão com um pouco mais de ginga?

Vejam: tem muito homem que nunca sonhou fazer sexo com outro, viveu um casamento convencional por anos ou décadas, até que um dia, por brincadeira ou bebedeira, consentiu em uma aproximação - e aí não quer mais ficar sem o sexo entre iguais. Alguns desses conservam o interesse em mulheres, outros perdem completamente. E aí: houve mudança de orientação sexual, não houve? Acreditem: não!

Kinsey apontou 7 variações do desejo, conforme seus objetos: 0: Só diferentes, nenhum igual. 1: Um igual vez ou outra. 2: Iguais com considerável frequência, mas os diferentes ganham. 3: Diferentes e iguais na mesma medida. 4: Diferentes com considerável frequência, mas os iguais ganham. 5: Diferentes só vez ou outra. 6: Exclusivamente iguais. Como se vê, 5 dos 7 tipos são capazes de prazer com os dois sexos, só 2 não são. A população de gays/lés 100% é relativamente pequena, mas a de 100% héteros também. Em períodos longos sem contato com o sexo oposto, a maior parte se descobre capaz de desejo por iguais. Dos que não chegam a praticar, a maioria se contém com esforço e por medo incutido, bem poucos por nem chegarem a desejar.

Nenhum hétero exclusivo optou por ser assim: simplesmente é. O mesmo vale para gays/lés exclusiv@s. Já o bissexual, tampouco optou por desejar os dois, mas tem sim 3 opções para realizar o desejo: só com iguais, só com diferentes, ou com os dois. Sua história de vida pode ter levado a começar por um dos lados, e esse ter sido satisfatório o bastante para ele nem desconfiar que o outro lhe poderia ser igualmente bom, ou ainda melhor. Supostos ex-gays, se estão felizes, são é bissexuais explorando outra de suas possibilidades. Ex-héteros podem ser a mesma coisa, ou são gays quase-exclusivos que haviam se deixado dominar pela doutrinação social heteronormativa. Alguns destes se libertam sozinhos ou com ajuda de amigos, outros só com ajuda psicológica.


Reconheçamos: também existem héteros quase-exclusivos que a vida levou a viver como homossexuais ou mesmo travestis em situações p.ex. de prostituição forçada por penúria ou escravização. Quando essas condições cessam, tais héteros reencontram sua orientação sem psicólogo nem pastor, pois no rumo hétero a sociedade inteira ajuda. Mas se ser ex-gay te custa esforço, terapia ou oração, meu bem… então seu caso não é esse - e aí só posso dizer: despacha da tua vida esses parasitas, se solta… e (re)começa a ser feliz sendo o gay que Deus te fez!
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02 setembro 2013

DAS GRACIOSAS ESTRATÉGIAS DOS QUE QUEREM VER UM MUNDO EM CHAMAS

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Com um pé no em nosso nível natural-animal, outro no nosso nível cultural, BRINCAR sempre foi exercitar simuladamente, na infância, habilidades que serão aplicadas pra valer na vida adulta, com a adolescência como uma fase de transição gradual entre a simulação e o pra valer (não importa A MÍNIMA que a adolescência só tenha começado a ser NOMEADA a partir do século tal - antes que me venham com esse tipo de clichê acadêmico europeu).

Também não me venham com aquele papo de que "se jogos violentos produzissem pessoas violentas, jogar Banco Imobiliário produziria ricos". Pois jogar Banco Imobiliário de fato pode estimular o espírito competitivo-especulativo, mas FICAR RICO É UM CRIME DE EXECUÇÃO MUITO MAIS DIFÍCIL que sair dando tiros em alguém - e é por isso que tão pouca gente consegue, mesmo que tenha jogado Banco Imobiliário.

De resto, se apenas 1% dos que jogam games violentos forem induzidos por isso a serem violentos na vida real, isso significará um estrago bárbaro na vida coletiva. Provavelmente são bem menos que 1% os que partem para violência aberta - e mesmo isso JÁ VEM fazendo um estrago bárbaro - à parte determinado tempero nas atitudes de vida mesmo daqueles que não chegam à violência aberta.

Enfim: A CHAVE DO SISTEMA DE DOMINAÇÃO do Império Mundial dos Psicopatas, dominação sob a qual vivemos, é manter todos em conflito com todos, ou a ponto de, tanto na escala microssocial (indivíduos, famílias, grupos de trabalho), quanto na meso (empresas médias, política local e regional) e na macro (grandes corporações, relações internacionais, etc).

Para eles, não importa o credo ideológico que as pessoas recitem, o importante é que estejam em conflito, incapacitadas de construírem consensos e estabelecerem laços. O avô de Bush viabilizava o acesso de Hitler ao aço e o acesso de Stálin ao petróleo, no mesmo momento em que estes guerreavam um com o outro. George Orwell identificou e exemplificou o jogo naquela peça supostamente de ficção que é "1984": QUEM CONTROLA OS DOIS LADOS DO CONFLITO CONTROLA O RESULTADO. E para isso é essencial que tudo ESTEJA sempre em conflito, pois aí as peças estão soltas, móveis, manipuláveis.

Por isso vamos, vamos meninos: vamos brincar de surto e de psicose!!  É DIVERTIDO... e, não, não, não pode ter nenhuma consequência nociva, isso é papo de careta que não entende o dinamismo e a ludicidade da vida das crianças e adolescentes de hoje...

Com vocês, então, o Lança Chamas (Flammen-werfer) disponilbilizado por essa nobre instituição educacional que é o UOL-Folha, para você brincar de DESTRUIR CIDADÃOS, e DETONAR FORÇAS POLICIAIS (neste caso representando o papel que DEVERIAM ter: protetores dos tais cidadãos) - enquanto GANHA DINHEIRO e APERFEIÇOA SUAS HABILIDADES... DE DESTRUIÇÃO,

... oh bravos jovens soldados das novas S.A. (Divisões de Assalto) que apenas não cantam mais 'Deutschland über alles' e sim "o clarão vermelho dos foguetes e as bombas estourando no ar" - visão essa que *é o atestado de que a 'bandeira decorada de estrelas' está dominando o lugar* (conforme reza a primeira estrofe do hino nacional da Matriz).
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