Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

27 março 2010

informação aos amigos: o Programa VAI 2010 e o futuro do TÚLIO

Caros amigos,
 
saiu a relação dos projetos selecionados para realização em 2010 com apio do Programa VAI (da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo). A uma simples batida de olho reconheci a presença de vários conhecidos, com maior ou menor proximidade - como por exemplo:
 
    BT 034 Bicicloteca - No meio do caminho tem um livro.
    SA 021 Afroarteperiferica
    SA 038 Projeto Koteban de Vivência e Religação com a África-Oeste
    SA 066 Registro Samba do Monte
    SA 067 Barzinho cultural Monte Azul
    SA 080 Correspondência Poética
    SA 081 Revista Cooperifa
Dá uma grande alegria ver os amigos ganhando apoio para seus belos projetos, então dou meus parabéns e desejo a todos o maior sucesso na realização do projeto.
 
Por outro lado, pela segunda vez não foi selecionado o projeto de reedição do meu livro O dia em que Túlio descobriu a África. Juro que por mim não estou chateado; acho perfeitamente compreensível essa não seleção. Só um pouco triste por duas outras pessoas: o extraordinário artista plástico Michel Onguer, que vai ver frustrada pela segunda vez a possibilidade de ser financiado para ilustrar o Túlio; e o amigo Jorge Maia (o da campanha co cursinho), que também atuaria no projeto, o que seria ótimo para ele em vários sentidos.
 
Enfim, o que quero contar é que depois dessa segunda negativa tomei uma decisão: depois de uma breve atualização, vou publicar o Túlio na internet na íntegra.
 
Uma, porque não quero que ninguém use esse livro como matéria prima para produzir uma mercadoria de sua propriedade (que é o que editores fazem). O proprietário desse livro é o povo brasileiro, ou ainda mais: toda a humanidade.
 
Além disso, acho que há aí mais um preconceito a vencer: os livros em forma virtual são não só muito mais democráticos quanto muito menos anti-ecológicos que os livros impressos em papel. Espontaneamente tem-se certo apego às velhas formas em que conhecemos as coisas (livros de papel, discos de vinil etc...) mas, honestamente, isso é pura bobeira nossa, a ser superada em prol de valores maiores.
 
O processo de atualização e preparação da publicação levará ainda alguns meses. Dentro de algum tempo vocês receberão alguma informação a mais sobre o andamento do projeto e - é claro - haverá ampla divulgação quando ele for efetivamente lançado. Aguardem!
 
Abraços a tod@s,
Ralf
 
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Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
http://ralf.r.tropis.org • (11) 8552-4506 • S.Paulo
 
"Não aprendemos a fazer o que nos dizem:
aprendemos a fazer o que nos fazem."
(formulação de Marcos Ferreira Santos
para a chave de toda educação)

22 março 2010

Reflexões informadas e maduras sobre a indefensabilidade de um Estado criminoso: Israel

 
Longo, porém fundamental. Trata-se de uma das questões nucleares da História Mundial ao longo de milênios, e está integralmente ativa. Não dá pra estar-no-mundo com a consciência sem acompanhar este assunto - infelizmente! (Zé Ralf)

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/finkelstein-em-gaza-israel-foi-longe-demais.html


22 de março de 2010 às 16:24

Finkelstein: Em Gaza, Israel foi longe demais

3/3/2010 - “A devastação de Gaza pelos israelenses, contra uma população civil cercada – e usando bombas, dinheiro e cobertura diplomática dos EUA – foi tão brutal e horrenda que mudou para sempre o modo como o mundo vê o conflito no Oriente Médio” [Glenn Greenwald, blogueiro de Salon.com, durante a guerra de Gaza].

por Norman Finkelstein, em Counterpunch
 
A indignação mundial gerada pela invasão de Gaza não nasceu do nada nem foi repentina. De fato, foi a culminação de uma curva que há muito tempo marcava o crescente declínio do apoio a Israel em todo o mundo. Como mostram dados de pesquisas recolhidos nos EUA e Europa, todos os públicos, de judeus e não-judeus, foram-se tornando cada vez mais críticos das políticas israelenses ao longo de toda a última década. As imagens horrendas de morte e destruição mostradas pela televisão em todo o mundo durante a invasão de Gaza aceleraram aquele processo. “A frequência brutal e sempre crescente de guerra naquela região volátil fez mudar a tendência da opinião internacional” – escreveu o British Financial Times em editorial, um ano depois da invasão de Gaza –, “fazendo lembrar que Israel não está acima da lei. Israel não pode continuar a di tar os termos dessa discussão.”


Pesquisa feita nos EUA logo depois do ataque israelense a Gaza mostrou que o número de eleitores norte-americanos que se autodefiniam como apoiadores de Israel havia caído de 69% antes do ataque, para 49% em junho de 2009; e o número de eleitores que acreditavam que os EUA deveriam continuar a apoiar Israel, caiu de 69% para 44%.
 
Consumida pelo ódio, cheia de arrogância e confiante de que poderia controlar ou intimidar toda a opinião pública, Israel atacou Gaza com fúria de assassino que confia que jamais será apanhado, mesmo que promova assassinatos em massa à luz do dia. Mas, embora o apoio oficial a Israel não se tenha alterado no ocidente, a carnificina fez crescer uma onda sem precedentes de indignação popular em todo o mundo. Seja porque o ataque contra Gaza veio depois da devastação que Israel provocou no Líbano, ou por causa da incansável perseguição contra o povo de Gaza, ou seja, porque o ataque a Gaza foi ataque covarde, fato é que o ataque a Gaza em dez.-jan. 2009, parece ter marcado um ponto de virada na opinião pública em relação a Israel. O mesmo tipo de mudança aconteceu também depois do massacre de negros em Sharpeville, em 1960, na África do Sul.
 
Nas organizações oficiais da diáspora judaica, que têm laços antigos com Israel, o apoio continuou como sempre, cego. Ao mesmo tempo, contudo, organizações de judeus progressistas começaram a afastar-se de Israel, umas mais, outra menos. Enquanto, antes, todos os judeus mais conhecidos no mundo sempre apoiaram as guerras de Israel, muitos, dessa vez, mostraram-se ambivalentes durante a invasão, com uma maioria mais idosa e declinante que saiu em defesa de Israel e uma minoria crescente, mais jovem, que declaradamente fez oposição à invasão de Gaza. Entre o crescente incômodo dos mais jovens em face do belicismo israelense e as muitas vacilações ante a tarefa de apoiar Israel, o massacre de Gaza marcou uma primeira grande fissura no, antes, irrestrito apoio dos judeus a todas as guerras de Israel. Muitos constataram que, ao mesmo tempo em que em todo o ocidente as manifestações contra os ataques a Gaza foram sempre multiétnicas (com a presença de muitos judeus), as demonstrações ‘pró’ Israel sempre reuniram quase exclusivamente judeus.
 
A evidência de que a oposição ativa à política de Israel – por exemplo, nas universidades – já extrapolou os limites do mundo árabe-muçulmano e já alcançou públicos aos quais antes não chegava, ao mesmo tempo em que encolheu o apoio ativo a Israel, já confinado a uma fração do núcleo mais conservador dos judeus étnicos, é importante indicador da direção para a qual as coisas estão andando. A era da “bela” Israel já passou, parece que para sempre; foi substituída por uma Israel desfigurada que, nos últimos tempos ocupa a consciência pública e provoca embaraço cada dia maior. Não se trata apenas de Israel agir ainda mais mal do que antes, mas, sobretudo, de as ações de Israel terem ultrapassado o limite do que as consciências toleram.
 
Já não é possível negar ou desqualificar o que todos veem. A documentação do conflito árabe-israelense estabelecida por historiadores conhecidos conflita com versões popularizadas por livros como Êxodo de Leon Uris. Há evidências de inúmeras violações por Israel dos direitos humanos básicos dos palestinos, todas documentadas por organizações conhecidas; essas evidências não confirmam os discursos israelenses e o muito alardeado compromisso com “a Pureza das Armas” [heb. Tohar HaNeshek; ing. Morality in Warfare; é o código ético do Exército de Israel: “moralidade/pureza na guerra”]. As deliberações de corpos políticos e jurídicos respeitados ma nifestam graves dúvidas quanto ao alardeado compromisso de Israel com a resolução pacífica de conflitos. Por muitos anos, os ‘apoiadores’ de Israel conseguiram evitar o impacto da documentação que se foi acumulando; na maioria dos casos, ocultaram-se por trás de duas espadas gêmeas sempre em riste: o Holocausto e um “novo antissemitismo”.
 
Houve quem dissesse que os judeus não poderiam ser avaliados pelos padrões morais/legais comuns, depois do inexcedível sofrimento pelo qual passaram durante a II Guerra Mundial e que toda e qualquer crítica às políticas de Israel seriam sempre motivadas por um jamais extinto ódio aos judeus. Quanto a isso, além do desgaste que sofrem todos os argumentos excessivamente usados, esse argumento perdeu muito da eficácia que algum dia teve quando as críticas às políticas de Israel chegaram, afinal, às correntes mais amplas da opinião pública. Incapazes de responder àquelas críticas, os apologistas de Israel conjuram hoje as mais bizarras teorias para explicar o ostracismo ao qual se condenaram. Para George Gilder, guru ‘econômico’ do governo Reagan, o sistema de livre mercado teria modo específico para desencadear os potenciais humanos; e que portanto, sob sistemas de livre mercado, os judeus d everiam “estar sempre representados não proporcionalmente nos escalões superiores”, porque seriam seres humanos naturalmente mais bem dotados que outros. Inversamente, se os judeus não estiverem no comando, comprovar-se-ia que o sistema econômico não alcançou a perfeição.
 
O antissemitismo brotaria do ressentimento provocado pela “superioridade e excelência dos judeus” e pela “manifesta supremacia dos judeus sobre todos os demais grupos étnicos”; e o ódio contra Israel, do fato de Israel ter evoluído (sob a inspirada tutela de Benjamin Netanyahu) num perfeito sistema de livre mercado que “concentra o gênio dos judeus,” fazendo de Israel “uma das potências capitalistas mundiais líderes” e inveja do mundo: “Israel é odiada sobretudo por suas virtudes.”
 
Se há judeus que criticam Israel, tratar-se-ia de pura inveja: “os judeus destacam-se tanto e tão rapidamente nos campos intelectuais, que deslocam e derrotam todos os rivais antissemitas.” O ocidente deve tratar, isso sim, de proteger Israel e os israelenses contra “as quimeras mundiais de soma-zero e as fantasias de vingança e morte dos jihadistas”, e contra “as massas bárbaras”, porque foram os talentos e dotes dos judeus que levaram a humanidade “a crescer e prosperar”; em conclusão, porque os judeus são “decisivos para a raça humana”.
 
E prossegue: “se Israel for destruída, toda a Europa capitalista morrerá; e os EUA, epítome do capitalismo criativo e produtivo empurrado pelos judeus, estará sob grave risco”; “Israel é a vanguarda da próxima geração de tecnologia; está na linha de defesa de uma nova guerra racial contra o capitalismo, contra a individualidade e o gênio judeu”; “Assim como o livre mercado é necessário à sobrevivência das populações humanas sobre a face da Terra, a sobrevivência dos judeus é necessária para garantir o triunfo das economias livres. Se Israel for calada ou destruída, todos sucumbiremos ante as forças que hoje combatem o capitalismo e a liberdade em todo o mundo.”
 
Do outro lado do Atlântico, Robin Shepherd, diretor de assuntos internacionais da Henry Jackson Society, sediada em Londres, garante que Israel foi alvo de críticas fortes pelo ocidente, não porque seja campeã da defesa dos direitos humanos, mas porque é Estado capitalista democrático obrigado a lutar na linha de frente, ao lado dos EUA, contra o islã radical que seria “ameaça civilizacional”: “Israel tornou-se inimiga não por algo que tenha feito”, mas “porque estava do lado errado das barricadas”. A “principal plataforma de energização no ocidente” para essa “maré incontrolável de histeria, mistificação e distorções contra o Estado judeu” são “os marxistas totalitários e a esquerda liberal, viajantes que, desapontados pelo proletariado ocidental e desiludidos das lutas de libertação do Terceiro Mundo, uniram-se em causa comum com “o islã militante” para destruir a ordem mundial liberal-capitalista. Embora esses críticos de Israel não seja antissemitas no tradicional sentido “subjetivo” de desprezar os judeus por serem judeus, são agentes de um antissemitismo “objetivo”, porque Israel tornou-se fator central da identidade dos judeus no mundo contemporâneo.
 
Mas a oposição a Israel também emanaria dos ‘sangue-azul’ do antigo regime que sonham com restaurar as hierarquias do velho mundo, devolvendo-as ao ponto em que teriam sido rompidas pelos arrivistas judeus. Essa conspiração neoantissemita reuniria “quase todos” os que acusam Israel de ter cometido crimes de guerra e de outras violações das leis internacionais. Evidentemente, deve-se entender que, por trás da condenação de Israel pela Anistia Internacional e pela Corte Internacional de Justiça, Jimmy Carter e Mairead Corrigan Maguire ganhadores do Prêmio Nobel, o Financial Times e a BBC, age a mão oculta da gangue dos radicais esquerdistas fanáticos aristocratas islâmicos. Para os que queiram saber mais, Shepherd recomenda “fortemente” que leiam The Case for Israel, de Alan M. Dershowitz.
 
Embora falte credibilidade a essas explicações para o isolamento de Israel, não há dúvidas de que as ações de Israel entraram em queda livre. Embora Israel tenha conquistado muitos simpatizantes ocidentais depois de fulgurante vitória de junho de 1967, a verdade é que, nos anos mais recentes, já está reduzida a Estado pária, sobretudo entre os europeus. Pesquisa de 2003 feita pela União Europeia, classificou Israel como principal ameaça à paz do mundo. Em 2008, pesquisa de opinião pública global classificou Israel como o principal obstáculo à paz no conflito Israel-Palestina. Em pesquisa do BBC World Service, feita imediatamente depois da invasão de Gaza, 19 dos 21 países pesquisados manifestaram opinião negativa sobre Israel.
 
Simultaneamente, sob o título “Second Thoughts about the Promised Land” [“Pensando melhor sobre a Terra Prometida”][1], a revista The Economist reporta em 2007 que “embora a maioria dos judeus da diáspora ainda apóiem Israel, aumentaram as dúvidas e a ambivalência.” Vozes de judeus discordantes começam a fazer-se ouvir na Grã-Bretanha, na Alemanha e em outros países, desafiando a hegemonia das organizaçõe s judias oficiais que repetem como papagaios a propaganda israelense. Nos EUA as tendências ainda não são muito claras, mas nem por isso menos significativas. Avaliando-se pelos dados de pesquisa, pode-se dizer que os norte-americanos sempre tenderam consistentemente mais a favor de Israel que dos palestinos. Mas os norte-americanos cada vez mais claramente também apóiam que os EUA trabalhem para mediar o conflito; mais recentemente, já há pesquisas que mostram “níveis equivalentes de simpatia” pelos dois lados, e minoria já substancial opinou que as políticas dos EUA favorecem (ou favorecem muito) Israel; uma robusta maioria de norte-americanos “opinaram que Israel não está fazendo bem a parte que lhe cabe de esforços para resolver o conflito”; e já há muitos norte-americanos que pregam o uso de sanções para conter Israel.
Significativamente, a maioria dos norte-americanos também apoiaram um acordo de dois Estados sobre as fronteiras demarcadas em junho de 1967, com total retirada dos israelenses dos territórios ocupados na guerra de junho. “Sim, as pesquisas mostram forte apoio a Israel,” observou em 2007 M. J. Rosenberg, diretor de análises políticas do Israel Policy Forum, a respeito das tendências de então; contudo “esse apoio a Israel, como mostram as pesquisas, é amplo mas não é muito profundo.” Esse fenômeno observa-se quase todos os dias nas “Cartas do Leitor”. Cada vez que aparece alguma coluna sobre Israel, sobretudo se critica Israel, aparecem várias cartas de leitor. A maioria apoia a posição israelense. E quase sem exceção as cartas são assinadas por judeus. A vasta maioria [de não judeus norte-americanos] que se supõe que sejam também favoráveis às posições de Israel não escrevem. Conforme pesquisa de 2007 feita pela Liga Antidifamação [ing. Anti-Defamation League (ADL)] a opinião de norte-americanos a favor de Israel é acentuadamente menos favorável do que suas opiniões favoráveis pró Grã-Bretanha e Japão; e é praticamente tão favorável quanto as opiniões pró Índia ou México. Quase a metade dos respondentes entendem que os EUA devem trabalhar aliados a Estados árabes “moderados”, “mesmo que isso contrarie Israel”.
 
Metade ou mais dos norte-americanos pesquisados culpam igualmente Israel e o Hizbollah pela guerra do Líbano, no verão de 2006, e apoiaram uma posição (mais) neutra dos EUA. Além disso, em anos recentes, vários grupos religiosos, como a Igreja Presbiteriana dos EUA, o Conselho das Igrejas, a Igreja Unida de Cristo e a Igreja Metodista Unida têm apoiado iniciativas, inclusive a favor do desinvestimento em corporações, para forçar o fim da ocupação da Palestina. Em pesquisa de 2005, feita por Steven M. Cohen, judeu, constatou-se que “a ligação dos judeus norte-americanos com Israel enfraqueceu de modo mensurável nos últimos dois anos, (…) seguindo tendência que se observava há muito tempo.” Menos respondentes, em relação a pesquisas anteriores, declararam prontamente seu apoio a Israel, que conversavam sobre Israel ou que participavam de atividades de apoio a Israel.
 
Significativamente, não houve declínio semelhante em outras mensurações de identificação com os judeus, incluindo práticas religiosas, observação de preceitos religiosos ou afiliação comunitária. A pesquisa mostrou 26% que se declaram “muito” emocionalmente ligados a Israel, menos que os 31% que se viram em pesquisa de 2002. Cerca de 2/3, 65%, declararam que acompanham de perto o noticiário sobre Israel, menos que os 74% da pesquisa de 2002; e 39% disseram que conversam regularmente com amigos judeus; menos que os 53% de 2002.
 
Israel também caiu nas pesquisas como componente da identidade judaica pessoal dos respondentes. Quando lhes eram mostrados vários fatores, entre os quais religião, justiça social e comunidade, ao lado de “preocupação com o destino de Israel”, e perguntados “quanto, de cada um desses fatores, pesa no seu sentimento de ser judeu?”, 48% responderam que Israel pesa “muito”; em 2002, foram 58%. Apenas 57% afirmaram que “a preocupação com o destino de Israel é parte muito importante do meu sentimento de ser judeu”; em pesquisa idêntica, de 1989, foram 73%. Pesquisa de 2007, feita pelo Comitê Judeu Norte-americano [ing. American Jewish Committee] mostrou que 30% dos judeus sentiam-se “distantes” ou “muito distantes” de Israel. “No longo prazo”, prevê Cohen, haverá uma “polarização nos judeus norte-americanos: um grupo cada vez menor de judeus mais fortemente religiosos cada vez mais ligados a Israel; e um grupo maior, que se afastará do grupo menor.”
 
Pesquisa de 2006 mostrou que, entre os judeus norte-americanos de menos de 40 anos, 1/3 declarou-se “distante” e “muito distante” de Israel; pesquisa de 2007 mostrou que, entre os judeus de menos de 35 anos, 40% declarou “fraca ligação” com Israel (apenas 20% declararam “forte ligação”). Surpreendentemente, menos da metade dos respondentes responderam “sim; a destruição de Israel seria vivenciada como tragédia pessoal.” O ex-presidente da Agência Judaica [ing. Jewish Agency] fez soar sinal de alarme, ao divulgar que “menos de 24% dos judeus norte-americanos jovens participam de organizações judaicas. Menos de 50% dos judeus norte-americanos com menos de 35 anos sentem-se profundamente ligados ao povo judeu. Menos de 25% dos judeus norte-americanos com menos de 35 anos autodefinem-se como sionistas.”
 
Nas universidades norte-americanas, observa-se a queda no apoio a Israel não só entre os alunos judeus em geral, mas também, e principalmente, entre os sionistas reunidos nos Hillels [ing. Hillel Foundation for Jewish Campus Life][2]. “Alunos universitários judeus são claramente menos ligados a Israel hoje do que em gerações anteriores”, dizem vários relatórios de orga nizações de propaganda pró-Israel. “Israel está perdendo a disputa pelos corações e mentes dos judeus.” De fato, dos cerca de meio milhão de alunos judeus que frequentam instituições de ensino superior, “apenas 5% mantêm qualquer conexão com a comunidade de judeus.”
 
Observa-se a conversão da ambivalência em aberta oposição em relação a Israel também em outros setores influentes da sociedade norte-americana, mesmo entre as vacas-madrinhas da vida intelectual nos EUA e no público de leitores. Pesquisa recente descobriu que uma maioria de líderes de opinião nos EUA apóiam Israel “movidos sobretudo por insatisfação com os rumos dos EUA” em todo o mundo. Em ensaio publicado em 2003 na New York Review of Books, o historiador judeu Tony Judt escreveu que “a Israel de hoje não é boa para os judeus” e pôs em dúvida tanto a viabilidade quanto a desejabilidade de um Estado judeu. John J. Mearsheimer, da Universidade de Chicago e Stephen M. Walt da Harvard Kennedy School são co-autores de um importante ensaio, de 2006, no qual atacam a imagem idealizada da história de Israel e afirmam que Israel está convertida em “risco estratégico” para os EUA. Livro do ex-presidente Jimmy Carter, provocativamente intitulado Palestine: Peace Not Apartheid, lamenta a política de Israel para os Territórios Palestinos Ocupado e culpa integralmente Israel pela deterioração do processo de paz.
 
Apesar dos contra-ataques vitriólicos que o lobby pró-Israel lançou contra aquelas intervenções – o discurso usual que acusa todos de serem negadores do Holocausto e antissemitas –, dessa vez os contra-ataques não foram eficazes.
 
Quando em 2006 as pressões do lobby levaram ao cancelamento de uma das palestras já agendadas de Tony Judt, o caso tornou-se imediatamente cause célèbre nos círculos intelectuais dos EUA. Críticos de Judt, como Abraham H. Foxman da ADL, foram descritos como “gente que se esconde atrás de acusações sem sentido de antissemitismo” e como “anacrônicos”. Carter, por sua vez, foi acusado de plagiador, de haver sido subornado por xeiques árabes, de ser antissemita, de fazer apologia do terror, de simpatizante dos nazistas, e pouco faltou para ser acusado de negar o Holocausto.
 
Mesmo assim, o livro de Carter chegou rapidamente à lista dos mais vendidos do New York Times e lá permaneceu durante vários meses, tendo vendido mais de 300 mil cópias encadernadas. Embora duramente criticado pelo presidente da Universidade Brandeis, o ex-presidente Carter foi recebido pelos estudantes com uma retumbante ovação, ao chegar para falar naquela universidade judaica tradicional. (E metade da plateia levantou-se e saiu quando Alan M. Dershowitz, professor de Direito de Harvard, levantou-se para discursar em resposta à palestra de Carter.) Mearsheimer e Walt contrataram a publicação de seu livro com a editora Farrar, Straus and Giroux, e seu livro, The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy, também esteve por muito tempo na lista dos mais vendidos do Times.
 
Demonstração extra de que a sorte de Israel está um dando é que, durante o mandato do primeiro-ministro Ehud Olmert, nem Foxman nem Elie Wiesel, perene apoiador de Israel responderam publicamente à evidência de que Israel não se dedicava suficientemente em busca da paz. A crescente insatisfação pública em relação à política de Israel nos últimos anos chegou a ponto de ebulição e converteu-se em indignação manifesta durante a invasão de Gaza. Apesar da cuidadosamente orquestrada blitz de propaganda israelense; apesar de a cobertura jornalística ter sido, como sempre, marcadamente tendenciosa pró-Israel, sobretudo nos primeiros dias do ataque; e apesar do apoio oficial do ocidente ao ataque contra Gaza – apesar de tudo isso, houve enormes manifestações de rua por toda a Europa Ocidental (na Espanha, Itália, França e Grã-Bretanha), tão gran des que encobriram as pequenas manifestações de apoio a Israel.
 
Estudantes ocuparam universidades por toda a Grã-Bretanha, inclusive nas universidades de Oxford, Cambridge, Manchester, Birmingham, na London School of Economics, na School of Oriental and Asian Studies, Warwick, King’s, Sussex e Cardiff. Mesmo em tradicionais bastiões de apoio a Israel, como no Canadá, onde é particularmente intenso o viés de apoio a Israel da extrema direita e do establishment político e da mídia, os mais diferentes grupos de opinião pública manifestaram-se contra o ataque a Gaza; e o Sindicato Canadense de Servidores Públicos [ing. Canadian Union of Public Employees] aprovou moção em que pede um boicote acadêmico contra Israel.
 
Declarando depois do cessar-fogo que “os eventos em Gaza nos chocaram profundamente”, um grupo dos 16 juízes e investigadores mais experientes do mundo – entre os quais Antonio Cassese (Primeiro Presidente e Juiz do Tribunal Criminal Internacional para a ex-Iugoslávia e Chefe da Comissão de Investigação da ONU para o Darfur) e Richard Goldstone (Promotor-chefe do Tribunal Criminal Internacional da Comissão de Investigação da ONU para o Kosovo) – pediram que se instalasse “investigação internacional que examine as graves violações da legislação internacional de guerra cometidas pelos dois lados no conflito de Gaza.”
Como sempre, invariavelmente, os apologistas de Israel atribuíram ao crescimento do antissemitismo a crescente indignação contra a ação israelense em Gaza. Deve-se registrar que, como regra geral, quanto mais profundamente violenta é a conduta criminosa de Israel, mais aumentam, em decibéis, as ‘denúncias’ de antissemitismo. Os judeus estariam enfrentando “uma epidemia, uma pandemia de antissemitismo”, declarou Abraham H. Foxman. “É a pior, a mais intensa, a mais global onda de antissemitismo que nossa memória registra.” Não que esse tipo de diagnóstico seja novidade para Foxman que, em 2003, não se cansava de repetir que “a ameaça à segurança do povo judeu é tão grande hoje quanto foi nos anos 30s.”
 
Como no passado, sempre aparecem dados de pesquisa que confirmam esses exageros, chamados “indicadores” das “mais perniciosas noções de antissemitismo”; por exemplo, uma pesquisa que descobriu que “grandes porções da opinião pública europeia continua a achar que os judeus falam demais sobre o que lhes aconteceu no Holocausto.” Segundo um “filósofo” midiático francês, Bernard-Henri Lévy, qualquer um que ponha em dúvida que o holocausto nazista “foi um ponto de virada irreversível da história da humanidade” deve ser considerado antissemita. Na Europa, poucas das manifestações ditas antissemitas foram além de manifestações covardes ou apenas desagradáveis, como emails ou graffiti, porque o antissemitismo europeu, por mais que se deixe ver vez ou outra, empalidece completamente se compa rado à islamofobia no continente. (Observou-se de fato, recentemente, oposição crescente a judeus e muçulmanos – as duas curvas parecem estar correlacionadas –, resultado provável do ressurgimento do etnocentrismo entre os europeus mais velhos, menos letrados e de orientação política mais conservadora.)
 
Apesar de tudo, parece ser verdade que a execução, por um autoproclamado Estado judeu, de vários ataques assassinos no Líbano e em Gaza, e o apoio que esses ataques receberam de organizações oficiais de judeus em todo o mundo, determinaram um muito lamentável – embora absolutamente previsível – efeito de “respingamento” sobre todos os judeus, que parecem estar começando a ser, todos, considerados culpados. Se, como o Fórum Israelense de Coordenação da Luta contra o Antissemitismo [ing. Israeli Coordination Forum for Countering Anti-Semitism] afirmou “houve claro aumento no número e na intensidade de incidentes antissemitas” durante o massacre de Gaza; e se “com o cessar-fogo, houve marcado declínio no número e na intensidade dos incidentes antissemitas”; e “outro ataque semelhante à operação em Gaza determinará novo surto de ativ idade antissemita contra comunidades em todo o mundo”, então, método eficaz de combater o antissemitismo parece ser conseguir que Israel suspenda a prática de massacres.
 
Também é verdade que o crescente fosso entre apoio oficial aos belicistas israelenses e a rejeição popular aos mesmos belicistas parece estar servindo de combustível a mais teorias antissemitas conspiratórias. Na Alemanha, por exemplo, o establishment político e a mídia dominante não dão espaço a qualquer crítica contra Israel por causa do “relacionamento especial”, ideia que cresce na Alemanha, a partir do que se entende que seja “a responsabilidade histórica” da Alemanha. A chanceler Angela Merkel antecipou-se a outros líderes europeus na defesa de Israel durante a invasão de Gaza. Mesmo assim, pesquisas recentes mostraram que 60% dos alemães rejeitam a ideia de que os alemães tenham qualquer especial obrigação com Israel (entre os jovens, a porcentagem chega a 70%); 50% veem Israel como país agressivo; e para 60% Israel persegue seus i nteresses mediante métodos cruéis.
 
Em termos mais gerais, Gideon Levy lembrou “a cena surreal, no auge do brutal ataque contra Gaza, quando chefes de Estado da União Europeia vieram a Israel e jantaram com o primeiro-ministro, em manifestação de apoio unilateral ao lado que promovia matança e destruição.” E embora tenha sido Israel a quebrar o acordo de cessar-fogo e lançar a invasão, os líderes europeus fizeram coro aos EUA (e ao Canadá) e pregaram o desarmamento, não dos assassinos, mas das vítimas. É questão de tempo, e os europeus começarão a preocupar-se – se já não começaram – com os interesses que se escondem por trás das políticas internacionais de seus respectivos governos.
 
A acusação de antissemitismo contra os não-judeus que se indignaram contra o massacre de Gaza parece cada dia mais sem sentido e mais mal-intencionada, face à indignação crescente e claramente manifesta também entre os judeus. Ao mesmo tempo em que organizações oficiais de judeus lançavam manifestos de apoio a Israel na invasão de Gaza, por todos os lados surgiam manifestações contra o massacre de Gaza, e assinadas também por organizações de judeus.
 
Muitos judeus de alto prestígio na vida das comunidades judaicas criticaram também Israel, embora nem sempre essas falas tenham sido muito claras ou muito divulgadas. Quando Israel passou à ofensiva por terra, depois de uma semana de ataques aéreos, um grupo dos mais destacados judeus britânicos, que se autoapresentaram como “apoiadores profundos e apaixonados” de Israel, manifestaram-se “horrorizados” ante o crescente número de mortos dos dois lados” e conclamaram Israel a cessar imediatamente qualquer operação militar em Gaza. Em tom muito mais contundente, o deputado e ex-ministro de relações estrangeiras do “Shadow Cabinet” Gerald Kaufman declarou em debate na Casa dos Comuns sobre Gaza: “Minha avó estava de cama, doente, quando os nazistas chegaram à cidade dela, Staszow. Um soldado alemão matou-a a tiros, na cama. Minha avó não morreu para dar cobertura a soldados israelenses que assassinem avós palestinas em Gaza.” E acusou o governo de Israel de “explorar cruel e cinicamente o sentimento de culpa dos não-judeus pelo massacre de judeus no Holocausto, como justificação para o massacre de palestinos.”
 
Quase ao mesmo tempo, na França, Jean-Moïse Braitberg, escritor judeu muito popular exigiu que o presidente de Israel removesse o nome de seu avô do memorial no Yad Vashem dedicado às vítimas do holocausto nazista, “para que o nome do meu avô não continue a ser usado para justificar o horror praticado contra os palestinos.”
 
Na Alemanha, Evelyn Hecht-Galinski, filha de um ex-presidente do Conselho Geral dos Judeus na Alemanha, escreveu “Não o governo eleito do Hamás, mas o brutal exército ocupante (…) deve ser levado às barras do tribunal internacional de Haia”, ao mesmo tempo em que a seção alemã da organização Judeus Europeus a Favor de uma Paz Justa lançou manifesto em que se lia: “Os judeus alemães dizem NÃO à matança praticada pelo exército de Israel.
 
No Canadá, oito mulheres judias que ocupavam o consulado de Israel conclamaram “todos os judeus a manifestar-se contra esse massacre”. E Anton Kuerti, aclamado pianista canadense declarou que “Os inacreditáveis crimes de guerra que Israel está cometendo em Gaza (…) fazem-me sentir vergonha de ser judeu.” Na Austrália, dois romancistas premiados e um ex-deputado assinaram declaração em que, como judeus, condenam “o ataque tão violentamente desproporcional de Israel contra Gaza”.
 
O governo Bush e o Congresso dos EUA deram absoluto apoio a Israel durante a invasão. Resolução culpando integralmente o Hamás por todas as mortes e pela destruição de Gaza foi aprovada unanimemente no Senado e por 390 votos a favor e 5 contra, na Câmara de Deputados. Praticamente toda a mídia corporativa nos EUA também ofereceu, sem qualquer pejo, total apoio a Israel. “No Dia de Ano-Novo, o esquadrão de louvação a Israel ocupou todas as páginas de colunas assinadas de todos os principais jornais nos EUA, como se fossem quintal seu”, observou o jornalista Max Blumenthal. “De todas as colunas assinadas publicadas no Washington Post, no Wall Street Journal e no New York Times desde o início da guerra contra Gaza, apenas uma coluna manifestava alguma dúvida quanto à correção e justeza do assalto.”
 
O máximo em matéria de ouvir os dois lados, para o New York Times, consistiu em publicar, lado a lado, os delírios de Jeffrey Goldberg sobre o mal absoluto representado pelo Hamás, e os conselhos de Thomas Friedman, para que Israel infligisse “pesadas dores à população de Gaza”. O rival novaiorquino do Times, o New York Daily News publicou coluna assinada pelo rabino Marvin Hier que conclamava os líderes mundiais a “nunca mais reconstruir Gaza”, apesar do sofrimento de “muitos civis”, porque “terroristas e gente que apóia terroristas não merecem qualquer mercê por sua desumanidade, crimes e cumplicidade.” Hier é fundador e líder do Centro Simon Wiesenthal e do Museu da Tolerância. Na névoa desse esquadrão de linchamento, até organizações de defesa dos direitos humanos dedicaram-se a con denar pesadamente o Hamás.
 
Apesar dessas doses massivas de veneno, pesquisas de opinião pública mostraram que, embora a maioria criticasse sempre muito pesadamente o Hamás, apenas 40% dos norte-americanos aprovavam o ataque israelense; e entre os eleitores do Partido Democrata (onde há grande número de judeus), a aprovação caía a 30%. Numa dramática manifestação de independência, que fez lembrar Jimmy Carter ao publicar seu Palestine Peace Not Apartheid, um ícone liberal, Bill Moyers, criticou Israel em seu programa de grande audiência, “Bill Moyers Journal”: “Ao matar indiscriminadamente idosos, crianças, famílias inteiras, ao destruir escolas e hospitais, Israel fez exatamente o que fazem os terroristas.”
 
Como Carter, Moyers imediatamente se tornou também alvo preferencial de Abraham H. Foxman, que o acusou de “racismo, revisionismo histórico e complacência com terroristas”; e do professor de Direito em Harvard, Alan M. Dershowitz, que escreveu sobre a “falsa equivalência moral” que Moyers teria construído entre o terrorismo do Hamás e o exército de Israel que “inadvertidamente matou alguns poucos civis palestinos usados como escudos humanos pelo Hamás.” Mas, outra vez como Carter, Moyers não cedeu e, depois que vários outros liberais saíram em sua defesa, conseguiu emergir sem arranhões, dessa fuzilaria de críticas e calúnias.
 
Enquanto avançava a invasão de Gaza, e as imagens de uma carnificina chocante transmitidas ao vivo pela rede Al-Jazeera já não podiam ser ignoradas, começaram a surgir fissuras na corrente dos apoiadores de Israel ditos ‘moderados’. Sob o título de “A Solução dos Dois Estados perdeu a hora e a vez?” o programa “60 Minutos”, dos mais vistos nos EUA, levou ao ar matéria sobre colonos judeus na Cisjordânia, em que se viam “residências de famílias árabes ocupadas por soldados do exército de Israel”. A página dos editoriais do Wall Street Journal, tradicionalmente de direita, publicou artigo assinado pelo professor de Direito George E. Bisharat sob a manchete “Israel comete crimes de guerra.” Roger Cohen, colunista do New York Times e incansável defensor de Israel, confessou em várias colunas que “estou envergonhado de ver as ações de Israel”. Noutra coluna, Cohen especulava: “a continuada expansão das colônias, o bloqueio contra Gaza, o muro de separação na Cisjordânia e o recurso à tecnologia de guerra” parecem ter sido planejadas precisamente para “humilhar os palestinos, quebrar-lhes a resistência e a autoestima, até que desistam de lutar por seus sonhos legítimos de alcançar um Estado, cidadania e dignidade.”
 
Para Andrew Sullivan, ex-editor de New Republic e autor conservador, o ataque dos israelenses contra Gaza “está longe do que se pode considerar atitude moral (…), nessa guerra que parece ser guerra de um lado só”. E chamou de “bárbaros” os judeus de direita que defendiam “a terrível carnificina que Israel pratica hoje (financiada em parte pelos EUA).” Philip Slater, autor de The Pursuit of Loneliness, estudo sociológico, declarou que “A Faixa de Gaza é pouco diferente de um grande campo de concentração comandado por israelenses, nos quais os palestinos são perseguidos e atacados, morrem de fome, não têm nem gasolina, nem água, nem energia elétrica – não encontram nem materiais de primeiros socorros. (…) Difícil, isso sim, seria respeitar os pales tinos se não reagissem, pelo menos, com alguns foguetes de fabricação caseira.
 
Enquanto isso, o Conselho Municipal de Cambridge, Massachusetts, enclave liberal, que abriga a Universidade de Harvard, adotou resolução “condenando os ataques contra e a invasão de Gaza pelo exército de Israel e os ataques com rojões de fabricação caseira lançados contra a população de Israel”; e um grupo de professores universitários nos EUA lançou campanha nacional conclamando ao boicote acadêmico e cultura contra Israel. Pesquisa feita pela organização American Jews descobriu que 47% dos entrevistavam apoiavam fortemente o ataque israelense, mas – em violento contraste com a ideia de que haveria massiva solidariedade a Israel – 53% dos entrevistados mostraram-se ambivalentes: 44% aprovavam ou desaprovavam “com reservas”; e 9% declararam-se “absolutamente contrários”.
 
Analistas experientes da comunidade dos judeus norte-americanos já detectam “mudanças pós-Gaza”. À parte “o segmento dos mais conservadores da comunidade pró-Israel”, observou M. J. Rosenberg do Fórum Israel Policy, “poucos manifestam abertamente apoio àquela guerra. Em New York, cidade na qual, no passado, se reuniram multidões de 250 mil pessoas em manifestações de ‘solidariedade’ a Israel, apenas 8 mil foram a Manhattan para uma manifestação “de judeus” num domingo de sol. Em confronto público com a liderança tradicional da comunidade, organizações de judeus consideradas hegemônicas, embora menos conhecidas, como a J Street, ficaram a meio caminho e “reconhecem que nem os israelenses nem os palestinos têm qualquer monopólio dos certos e errados”; e recomendaram “que se evitem as posições estreitas de ‘nós contra eles’, em todas as questões do Oriente Médio. ”
 
Fundada em 2008, a organização J Street aspira a ser um contraponto liberal ao American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). É cedo demais para saber se J Street – que trabalha atualmente numa agenda vagamente progressista, embora também se defina como “mais próxima” do Kadima, partido político israelense liderado por Tzipi Livni – chegará a firmar-se como “oposição leal” ou se aprofundará o teor das críticas contra a política israelense à medida que se aprofundar o fosso que separa os judeus norte-americanos e o atual governo de Israel.
 
Por sua vez, o grupo American Jews for a Just Peace divulgou manifesto conclamando os soldados israelenses “a porem fim à prática de crimes de guerra”. Outro grupo (“Judeus dizem não!”) reuniram-se em manifestação em frente da sede da Organização Sionista Mundial e dos escritórios da Agência Judia. E o grupo “Judeus contra a ocupação” distribuíram panfletos no West Side em New York, em que se lia “”Israel, saiam de Gaza, AGORA!” Nos círculos intelectuais judeus liberais, só os apoiadores perpétuos de Israel, a maioria dos quais foram arregimentados depois da guerra de junho e já passam hoje dos 70 anos, ousaram manifestar-se em defesa da invasão de Gaza.
 
Para Michael Walzer, filósofo, pareceu óbvio que Israel exaurira todas as alternativas não violentas antes de atacar; e culpa do Hamás, se morreram civis. Para Walzer, a única “questão relevante” seria se Israel fez tudo que poderia ter feito para diminuir o número de baixas entre os civis.
 
Como sempre, para Alan M. Dershowitz, Israel “empreendeu seus melhores esforços para não matar civis”, estratégia que falhou porque o Hamas investiu na “estratégia de matar bebês”, para forçar Israel a matar crianças palestinas e, assim, conquistar a simpatia da comunidade internacional.
 
Também como sempre, para Martin Peretz, editor de New Republic, que examinou os sapatos dos palestinos, o bloqueio de Gaza seria benigno: “É preciso examinar os pés dos palestinos, para ver que usam tênis novos e, evidentemente, caros.”
 
Paul Berman entendeu como óbvia “uma possibilidade” de que o Hamás algum dia venha a promover o genocídio de judeus, “se se permitir que o Hamás continue a prosperar, e se seus aliados do Hezbollah e do governo iraniano conseguirem prosseguir com seus planos para construir bombas atômicas”. Sendo isso óbvio, Berman conclui que Israel, sim, tem todo o direito de atacar os palestinos, como medida de prevenção. (…)
 
Mas houve um influente contingente de intelectuais públicos liberais judeus que não se calou: a nova geração de bloggers judeus liberais e colaboradores regulares dos websites liberal-Democratas (p. ex., Salon.com e Huffington Post). Quase todos, são editores, anunciantes, patrocinadores, animadores de redes sociais, todos judeus, mas que falam por uma geração que, em larga medida amadureceu em mundo no qual a mitologia sionista já havia sido deslocada e superada por pesquisa histórica sóbria. O establishment político israelense é hoje magro e reacionário. As práticas de Israel no quesito Direitos Humanos já foram acuradamente analisadas pelos especialistas em direitos humanos.
 
A paranóia induzida pelo Holocausto e o ‘argumento’ do antissemitismo colidiram contra a realidade quotidiana de uma triunfante assimilação dos judeus em toda parte, da Ivy League a Wall Street, de Hollywood to Washington, do clube de campo ao altar de casamento. Profissionalmente, mentalmente e emocionalmente emancipada dos antolhos do passado, esse judeus íntimos da Internet partiram para a ofensiva contra a invasão de Gaza desde o primeiro momento.
 
Há aí um simbolismo que não se pode ignorar. Onde os apologistas mais linha-dura a favor de Israel, como Walzer, Dershowitz e Peretz embarcam ainda no barco dos sionistas, os mais jovens, uma geração de intelectuais públicos judeus que hoje fazem nome e currículos na Internet já saltaram dele. “Tenho pena deles, que desprezam sua herança”, sibilou Peretz. “São fedelhos barulhentos.”
 
Aqui estão alguns dos fedelhos barulhentos, representados por mensagens redigidas por eles.
Ezra Klein (25 anos; blogueiro da página American Prospect), em msg postada no 2º dia da invasão de Gaza: “Os rojões lançados pelos palestinos com certeza “perturbam profundamente” os israelenses. Os postos de controle, os bloqueios nas estradas, a restrição ao direito de ir e vir, a desesperante falta de empregos, a opressão cada dia mais cruel, as humilhações diárias, as colônias ilegais – desculpem, “os assentamentos” – tudo isso perturba muito mais profundamente os palestinos; e são agressão muito mais grave. E os 300 palestinos mortos, esses, então, nos deveriam perturbar mais profundamente, a todos.”
Adam Horowitz (35 anos; blogueiro de Mondoweiss) escreveu, no 4º dia da invasão, em resposta à coluna de Benny Morris no New York Times: “É evidente que ele só vê as reações, não a causa. Lista respostas a Israel e a ininterrupta colonização da Palestina histórica, sem mencionar que há um elefante na sala; que, se Israel está encurralada, foi Israel quem buscou essa situação.”
 
Matthew Yglesias (28 anos; blogueiro de Think Progress) escreveu, no 6º dia: “Enquanto Israel diz que quer deixar os palestinos em paz em seu enclave minúsculo, superpovoado, economicamente inviável, o ‘desengajamento’ de Gaza [em 2005] jamais significou que os palestinos passariam a controlar suas fronteiras ou exercer qualquer soberania significativa sobre a área. A proposta, de fato, foi clara: os palestinos abdicam da violência armada contra Israel e, em troca, a Faixa de Gaza será tratada como reserva de índios.”
 
Dana Goldstein (24 anos; blogueira de American Prospect) escreveu, no 12º dia: “Quero ainda acreditar que a experiência histórica, coletiva do judaísmo e do sionismo pode levar a alguma coisa melhor – algo mais humano – do que o que vi no Oriente Médio semana passada!”.
 
Glenn Greenwald (42 anos; blogueiro de Salon.com) escreveu no 13º dia: “Não é uma guerra. É o massacre de um lado pelo outro”. E depois, dia 30/1/2010: “É simplesmente impossível fazer progresso real nos objetivos domésticos de restaurar a Constituição e reverter as expansões militares e de espionagem dos israelenses, se, simultaneamente, continuarmos a apoiar cegamente as muitas guerras de Israel (porque acabamos nos afundando, nós mesmos, naquelas guerras).”
 
Dia 20/2/2009, Greenwald respondeu insinuação de Jeffrey Goldberg de que ele seria “odiador de judeus”, “carrasco de Israel”: “Pessoas como Jeffrey Goldberg” (…) respondeu Greenwald, “já abusaram, manipularam, exploraram tanto as acusações de “odiador de judeus”, “carrasco de Israel” e acusações de ‘antissemitismo’, sempre para fins desavergonhadamente pessoais, sempre impróprios, que, hoje, aquelas expressões já nada significam, perderam todo o conteúdo crítico, foram trivializadas até se converterem em caricaturas. (…). De fato, gente como Goldberg vão-se tornando cada vez mais ácidos, mais rançosos, mais agressivos naquela sua retórica, precisamente porque sabem que seus aparelhos de sevícia e tortura retóricas já não servem para nada.” (…) “Há mudança definitiva e importante nos debates políticos nos EUA sobre Israel”, concluiu Greenwald. “Eles já não conseguem semear cada vez mais discórdia com suas táticas de intimidação; e já sabem disso; por isso é que subiram o vol ume dos seus ataques e dos palavrões e chingamentos. A devastação de Gaza pelos israelenses, contra uma população civil cercada – e usando bombas, dinheiro e cobertura diplomática dos EUA – foi tão brutal e horrenda que mudou para sempre o modo como o mundo vê o conflito no Oriente Médio”. (…)
 
A metamorfose geracional em relação a Israel é ainda mais evidente nos campi universitários. “Em alguns campi universitários houve mudança profunda em direção a sentimentos mais claramente pró-palestinos ou anti-Israel”, lia-se no Inside Higher Ed, que continua: “Essa mudança foi provocada, em parte, pela guerra do último inverno em Gaza”. Anfiteatros lotados para assistir palestras de comentaristas que se opunham firmemente ao massacre dos habitantes de Gaza. Os grupos ‘pró’-Israel manifestavam dentro dos anfiteatros ou à entrada, sempre grupos pequenos, muitos dos quais nem foram vistos.
 
Alunos da Cornell University atapetaram as trilhas do campus com 1.300 bandeiras negras, uma para cada palestino morto em Gaza. (Depois, a instalação foi depredada.). Nas universidades de Rochester, de Massachusetts, de New York, na Columbia University, no Haverford College, no Bryn Mawr College e no Hampshire College, os alunos organizaram abaixo-assinados, manifestações e ocupações [ing. sit-ins] exigindo que se oferecessem bolsas de estudo para alunos palestinos e ações de desinvestimento em indústrias fabricantes de armas e empresas que negociassem com as colônias ilegais exclusivas para judeus. No Hampshire College, os alunos conseguiram que os acionistas e patrocinadores da escola se manifestassem a favor de desinvestir em corporações norte-americanas que auferissem lucros diretamente da ocupação da Palestina
 

Embora as organizações ‘pró’-Israel tenham repetido que “colégios e universidades (…) tornaram-se caldo de cultura para o crescimento de uma nova cepa de antissemitismo”, em praticamente todas as principais instituições os alunos judeus participaram ativamente das manifestações pró-palestinos, em comitês locais de “Estudantes pela Justiça para a Palestina” e de “Anarquistas na luta contra o Muro” [ing. Anarchists Against the Wall, além de participações individuais, como de Anna Baltzer, autora de “Testemunha na Palestina”, que visitou várias escolas, para falar pessoalmente do que vira acontecendo na Palestina.
 
Os laços de solidariedade que se criaram entre jovens judeus e jovens muçulmanos que se opõem à ocupação – em várias universidades, os grupos mais militantes reúnem radicais judeus não-religiosos e mulheres muçulmanas – permitem ter esperança de que será possível construir uma paz duradoura.
Depois de uma palestra que fiz numa universidade canadense, sobre o massacre de Gaza, recebi de presente dos organizadores um broche em que se lia “I ♥ GAZA.” Prendi o broche na minha mochila e parti para a aeroporto. Na fila para o embarque, um passageiro atrás de mim disse-me baixinho “Gosto do seu broche”. Vejam só, pensei eu, the times they are a-changing, como cantou Bob Dylan. Horas depois, pedi um copo d’água ao comissário de bordo. Ao me servir a água, o rapaz curvou-se e disse “Gosto do seu broche”. Hmm, pensei comigo, alguma coisa já está acontecendo por aqui.
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* Nota dos editores:
Esse artigo é excerto de um capítulo do novo livro de Norman Finkelstein sobre o conflito de Gaza, This Time We Went Too Far – Truth and Consequences of the Gaza Invasion, publicado esse mês pela editora OR Books. Para comprar o livro, visite http://www.orbooks.com/. O livro não está à venda em livrarias nem em distribuidores de livros por internet.
[1] Em http://www.acbp.net/About/PDF/ARTICLE-Second%20thoughts%20about%20the%20Promised%20Land.pdf
[2] Organização de judeus, ativa em todos os campus universitários em todo o mundo; para conhecer, por exemplo, o Hillel de São Paulo, ver http://www.hillel.org/about/news/2003/20030520_new.htm
O artigo original, em inglês, pode ser lido aqui. Tradução de Caia Fittipaldi

19 março 2010

preconceito contra mãe cigana: comemorando um desfecho feliz

Em relação à notícia feia/triste que postei aqui ontem, acabo de receber uma resposta auspiciosa de Givanildo Manoel, que me estimulou a retomar um tema que ficou em aberto na lista Amigos da Biblioteca Trópis há meses. Primeiro transcrevo a mensagem do Giva, depois vai meu comentário:
 

----- Original Message ----- From: Givanildo Manoel - Sent: Friday, March 19, 2010 8:03 AM
Subject: Re: Fw: preconceito contra mãe cigana / violência oficial contra criança em Jundiaí SP

Bem, felizmente o desfecho foi outro. A comunidade cigana me procurou, articulamos a defensoria publica, ontem teve audiencia. Hoje a representante da comunidade me ligou, falando que o Juiz admitiu o erro e que os guardas civis serão responsabilizados!
 
Abraço fraterno,
Giva
blog:http://infanciaurgente.blogspot.com/
"Governo que não respeita a Defensoria Pública, não respeita os direitos da sua população!"

Meu comentário:
RRrrrrrapaz - parabéns, tiro meu chapéu!!
 
O absurdo era gritante, mas quando eu li que tinha sido "por determinação da justiça" imaginei que fosse causa perdida - ou no mínimo para se arrastar por meses, anos.
 
Aliás, talvez você e os demais colegas de lista não imaginem o quanto me cai bem essa notícia que você está nos dando! Isso porque ela não fala apenas desse caso em si, mas de uma questão mais geral da relação entre nós seres humanos e as instituições que criamos. E eu andava muito pessimista e amargurado com essa questão - o que foi uma das razões (não a única) que me afastou dos debates de que vinha participando e tudo mais.
 
Bem a propósito, uma das últimas coisas que eu trouxe na lista foi a pergunta se alguém conhecia Hinkelammert; fiquei devendo relatar um pouco do pensamento dele aqui, e não tive mais tempo e/ou força de levar essa investigação adiante. Mas o cerne do que me interessou nele foi o papo da dialética entre utopia e instituições: criamos as instituições como instrumentos para a realização das utopias, dos nossos sonhos - e elas tendem a se tornar negação das utopias, transformação de sonhos ideais em pesadelos concretos... para cuja transformação temos que sempre produzindo novos sonhos novas utopias. A utopia tem portanto a função perpétua de servir de inspiradora, motivadora, da transformação do real... mas jamais poderá ser integralmente realizada; à medida em que se realiza já passa a ser parte dum real que precisa existir, mas que ao mesmo tempo precisa, perpetuamente, ser questionado.
 
Então foi extremamente auspicioso o seu relato de que a articulação da defensoria pública funcionou! Porque foi talvez o único em muito tempo em que vi um sonho concretizado de aperfeiçoamento das instituições funcionar (no caso a defensoria, e outras instâncias organizadas que possam ter participado). Quero dizer: atuar de fato em favor do incremento da felicidade humana, que na verdade é a única razão de ser das instituições, e não no sentido de "enquadrar o redondo", forçar a vida a entrar em estruturas aparentemente lógicas que podemos ter criado democraticamente, mas não têm a necessária agilidade e flexibilidade para acomodar o vivo dentro de si, terminando por ser um acréscimo à infelicidade prévia, em lugar de um alívio desta.
 
Ou seja: sua notícia me reacende a esperança de que não esteja necessariamente perdida a luta contra a degradação dos sonhos de felicidade em burocracia opressora. VALEU!!
 
Abraços a tod@s,
Zé Ralf
 
"Não aprendemos a fazer o que nos dizem:
aprendemos a fazer o que nos fazem."
(formulação de Marcos Ferreira Santos
para a chave de toda educação)

18 março 2010

Fw: preconceito contra mãe cigana / violência oficial contra criança em Jundiaí SP

REPÚDIO CONTRA PRECONCEITO

 Preconceito contra mãe cigana em Jundiaí - SP

Dervana, mãe da menina, negou que estivesse pedindo esmolas. Ela disse que lia a mão - Reprodução Jornal HojeA Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural (SID) vem a público repudiar a atitude da guarda municipal de Jundiaí, interior de São Paulo, que tomou, à força, a filha de 1 ano e 2 meses da cigana Dervana Dias, por determinação da justiça, baseada apenas numa denúncia anônima.

Para a SID, que apoia o segmento com ações para a proteção e promoção da cultura do povo cigano, a atitude da polícia e da justiça local, além de violenta, foi motivada por preconceito, tendo em vista que a cigana estava lendo as mãos dos transeuntes, e não pedindo esmolas utilizando a filha para sensibilizar as pessoas.

O Padre Wallace Zanon, coordenador Nacional da Pastoral dos Nômades do Brasil, acredita também que a ação policial tenha sido movida pelo preconceito. "A cigana estava lendo a mão e esse é o seu trabalho. Eu já vi muito esse tipo de preconceito contra os ciganos no Brasil", afirma o padre, que entrou em contato com a diocese da cidade de Jundiaí pedindo para que a igreja local acompanhe o caso.

Para o padre todas as pessoas envolvidas no episódio eram despreparadas para lidar com a situação, principalmente os policiais que usaram de violência contra a mãe. "A imagem mostra claramente o policial torcendo o braço da cigana que estava desesperada pela perda da filha", observou o coordenador da Pastoral dos Nômades.

Ele ainda considerou absurda a declaração da presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente, Solange Giotto, de que não havia outra forma de tirar a criança da mãe e de que ela não sofrerá traumas pela separação. A criança foi colocada em um abrigo, chora o tempo todo e não consegue se expressar em português. "Qualquer outra criança teria traumas ao ser retirada dessa forma dos braços da mãe. Por que com uma criança cigana seria diferente?", pergunta Padre Wallace, ainda estarrecido com o episódio.

Para a advogada do Centro de Referência dos Direitos do Povo Cigano, Dra. Vanessa Martins de Souza, a cena foi chocante e a atitude dos policiais chegou a ser cruel. "Nós já entramos em contato com o Ministério Público de Jundiaí e estamos tentando localizar a mãe, que parece estar acampada em outro local", disse a advogada. Ela informou ainda que o Centro de Referência, que desenvolve trabalho conjunto com a Secretaria dos Direitos Humanos, da Presidente da República, e com a Pastoral dos Nômades para a proteção dos ciganos, está buscando todos os órgãos competentes e se colocando à disposição da mãe para fazer a sua defesa junto à justiça de Jundiaí.

(Heli Espíndola-Comunicação/SID)

Comunicação SID/MinC
Telefone: (61) 2024-2379

E-mail: identidadecultural@cultura.gov.br
Acesse: www.cultura.gov.br/sid
Nosso Blog: blogs.cultura.gov.br/diversidade_cultural
Nosso Twitter: twitter.com/diversidademinc

SID logo mini

SECRETARIA DE CULTURA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES DO ESTADO DE SÃO PAULO
TADEU DE SOUZA
SECRETARIO

SECRETARIA DE COMBATE AO RACISMO DO PARTIDO DOS TRABALHADRES DO ESTADO DE SÃO PAULO
CLAUDIO SILVA (CLAUDINHO)
SECRETARIO

material selecionado e compartilhado por
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Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
http://ralf.r.tropis.org • S.Paulo, Brasil
 
"Não aprendemos a fazer o que nos dizem:
aprendemos a fazer o que nos fazem."

(formulação de Marcos F.Santos
para a chave de toda educação)

17 março 2010

frasezinhas de uma manhã adubada

I
 
Que Rebolation nada: o que eu quero é REBOLUÇÃO!
 
 
II
 
O problema não é a "pirataria" mas justamente a COPIRAITARIA...

12 março 2010

Emir Sader sobre o momento (e o julgamento) de Cuba

Não vou dizer que estou declarando posição fechada ao compartilhar este artigo. Com certeza há ainda outras complexidades nessa história - como em todas - e não é momento de me aprofundar mais nisso. Ainda assim, não tenho como não dizer que foi um dos textos de Emir Sader que mais me emocionaram até hoje - parece ter falado com um "fogo interior" que costuma dizer bastante sobre a legitimidade das causas. Mas agora deixo com vocês...  Abraços, Ralf
 

 

12/03/2010 - Emir Sader

Os fariseus e a dignidade

O que sabem os leitores dos diários brasileiros sobre Cuba? O que sabem os telespectadores brasileiros sobre Cuba? O que sabem os ouvintes de rádio brasileiros sobre Cuba? O que saberia o povo brasileiro sobre Cuba, se dependesse da mídia brasileira?

O que mais os jornalistas da imprensa mercantil adoram é concordar com seus patrões. Podem exorbitar na linguagem, para badalar os que pagam seu salários. Sabem que atacar ao PT é o que mais agrada a seus patrões, porque é quem mais os perturba e os afeta. Vale até dar espaco para qualquer mercenário publicar calúnias contra o Lula, para, depois jogá-lo de volta na lata do lixo.

No circo dessa imprensa recentemente realizado em São Paulo, os relatos dizem que os donos das empresas – Frias, Marinhos – tinham intervenções mais discretas, – ninguem duvida das suas posiçõoes de ultra-direita -, mas seus empregados se exibiam competindo sobre quem fazia a declaração mais extremista, mais retumbante, sabendo que seriam recolhidas pela mídia, mas sobretudo buscando sorrisinho no rosto dos patrões e, quem sabe, uns zerinhos a mais no contracheque no fim do mês.

Quem foi informado pela imprensa que há quase 50 anos Cuba já terminou com o analfabetismo, que mais recentemente, com a participação direta dos seus educadores, o analfabetismo foi erradicado na Venezuela, na Bolívia e no Equador? Que empresa jornalística noiticiou? Quais mandaram repórteres para saber como países pobres ou menos desenvolvidos conseguiram o que mais desenvolvidos como os EUA ou mesmo o Brasil, a Argentina, o México, náo conseguiram?

Mandaram repórteres saber como funciona naquela ilha do Caribe, pouco desenvolvida economicamente, o sistema educacional e de saúde universal e gratuito para todos? Se perguntaram sobre a comparação feita por Michael Moore no seu filme "Sicko" sobre os sistemas de saúde – em particular o brutalmente mercantilizado dos EUA e o público e gratuito de Cuba?

Essas empresas privadas da mídia fizeram reportagens sobre a Escola Latinoamericana de Medicina que, em Cuba, já formou mais de cinco gerações de médicos de todos os países da América Latina e inclusive dos EUA, gratuitamente, na melhor medicina social do mundo? Foi despertada a curiosidade de algum jornalista, econômico, educativo ou não, sobre o fato de que Cuba, passando por grandes dificuldades econômicas – como suas empresas não deixam de noticiar – não fechou nenhuma vaga nem nas suas escolas tradicionais, nem na Escola Latinoamericana de Medicina, nem fechou nenhum leito em hospitais?

Se dependesse dessas empresas, se trataria de um regime "decrépito", governado por dois irmãos há mais de 50 anos, um verdadeiro "goulag tropical", uma ilha transformada em prisão.

Alguém tentou explicar como é possivel conviver esse tipo de sociedade igualitária com a base naval de Guantánamo? Se noticiam regularmente as barbaridades que ocorrem lá, onde presos sob simples suspeita, são interrogados e torturados – conforme tantas testemunhas que a imprensa se nega em publicar – em condições fora de qualquer jurisdição internacional?

Noticiam que, como disse Raul Castro, sim, se tortura naquela ilha, se prende, se julga e se condena da forma mais arbitrária possível, detidos em masmorras, como animais, mas isso se passa sob responsabilidade norteamericana, desse mesmo governo que protesta por uma greve de fome de uma pessoa que – apesar da ignorância de cronistas da família Frias – não é um preso, mas está livre, na sua casa?

Perguntam-se por que a maior potência imperial do mundo, derrotada por essa pequena ilha, ainda hoje tem um pedaco do seu territorio? Escandalizam-se, dizendo que se "passou dos limites", quando constatam que isso se dá há mais de um século, sob os olhos complacentes da "comunidade internacional", modelo de "civilização", agentes do colonialismo, da escravidão, da pirataria, do imperialismo, das duas grandes guerras mundiais, do fascismo?

Comparam a "indignação" atual dos jornais dos seus patrões com o que disseram ou calaram sobre Abu-Graieb? Sobre os "falsos positivos" (sabem do que se trata?) na Colômbia? Sobre a invasao e os massacres no Panamá, por tropas norteamericanas, que sequestraram e levaram para ser julgado em Miami seu ex-aliado e então presidente eleito do país, Noriega, cujos 30 anos foram completamente desconhecidos pela imprensa? Falam do muro que os EUA construíram na fronteira com o México, onde morre todos os anos mais gente do que em todo tempo de existência do muro de Berlim? A ocupação brutal da Palestina, o cerco que ainda segue a Gaza, é tema de seus espacos jornalisticos ou melhor calar para que os cada vez menos leitores, telespectadores e ouvintes possam se recordar do que realmente é barbarie, mas que cometida pela "civilizada" Israel – que ademais conta com empresas que anunciam regularmente nos orgãos dessas empresas – deve ser escondida? Que protestos fizeram os empregados da empresa que emprestou seus carros para que atuassem os servicos repressivos da ditadura, disfarçaados de jornalistas, para sequestrar, torturar, fuzilar e fazer opositores desaparecerem? Disseram que isso "passou de todos os limites" ou ficaram calados, para não perder seus empregos?

Mas morreu um preso em Cuba. Que horror! Que oportunidade para bajular os seus patrões, mostrando indignação contra um país de esquerda! Que bom poder reafirmar diante deles que se se foi algum dia de esquerda, foi um resfriado, pego por más convivências, em lugares que não frequentam mais; já estão curados, vacinados, nunca mais pegarão esse vírus. (Um empregado da família Frias, casado com uma tucana, orgulha-se de ter ido a todos os Foruns Econômicos de Davos e a nenhum Fórum Social Mundial. Ali pôde conhecer ricaços e entrevistá-los, antes que estivessem envoldidos em escândalos, quebrassem ou fossem para a prisão. Cada um tem seu gosto, mas não dá para posar como "progressista", escolhendo Davos a Porto Alegre.)

Não conhecem Cuba, promovem a mentira do silêncio, para poder difamar Cuba. Não dizem o que era na época da ditadura de Batista e em que se transformou hoje. Não dizem que os problemas que têm a ilha é porque não quer fazer o que fez o darling dessa midia, FHC, impondo duro ajuste fiscal para equilibrar as finanças públicas, privatizando, favorecendo o grande capital, financeirizando a economia e o Estado. Cuba busca manter os direitos universais a toda sua população, para o que trata de desenvolver um modelo econômico que não faça com que o povo pague as dificuldades da economia. Mentem silenciando sobre o fato de que, em Cuba, não há ninguem abandonado nas ruas, de que todos podem contar com o apoio do Estado cubano, um Estado que nunca se rendeu ao FMI.

Cuba é a sociedade mais igualitária do mundo, a mais solidária, um país soberano, assediado pelo mais longo bloqueio que a história conheceu, de quase 50 anos, pela maior potência econômica e militar da história. Cuba é vítima privilegiada da imprensa saudosa do Bush, porque se é possivel uma sociedade igualitária, solidária, mesmo que pobre, que maior acusação pode haver contra a sociedade do egoísmo, do consumismo, da mercantilizacao, em que tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra?

Como disse Celso Amorim, o Ministro de Relações Exteriores do Brasil: os que querem contribuir a resolver a situação de Cuba tem uma fórmula muito simples – terminem com o bloqueio contra a ilha. Terminem com Guantanamo como base de terrorismo internacional, terminem com o bloqueio informativo, dêem aos cubanos o mesmo direito que dão diariamente aos opositores ao regime – o do expor o que pensam. Relatem as verdades de Cuba no lugar das mentiras, do silêncio e da covardia.

Diante de situações como essa, a razão e a atualidade de José Martí:

"Há de haver no mundo certa quantidade de decoro,
como há de haver certa quantidade de luz.
Quando há muitos homens sem decoro, há sempre outros
que têm em si o decoro de muitos homens.
Estes são os que se rebelam com força terrível
contra os que roubam aos povos sua liberdade,
que é roubar-lhes seu decoro.
Nesses homens vão milhares de homens,
vai um povo inteiro,
vai a dignidade humana…

Postado por Emir Sader às 05:03

05 março 2010

sobre o fantástico nível cultural da civilização estadunidense . . .

04/03/2010 - 14h50
Estátua "Vênus de Milo" de neve é coberta por ordem da polícia nos EUA

  • AFP

    Estátua "Vênus de Milo" de neve (f) teve de ser coberta por ordem da polícia nos Estados Unidos

Uma família de New Jersey foi obrigada pela polícia a cobrir o peito desnudo de uma "Vênus de Milo" de neve que esculpiram em seu próprio jardim.

Elisa González, mãe de 44 anos residente na localidade de Rahway, relatou que construiu junto com os filhos de 12 e 21 anos a cópia da famosa estátua grega sem braços.

"Muitas pessoas do bairro saíram às ruas, se interessaram e tiraram fotos, vizinhos com quem nunca tínhamos falado antes", relatou González à AFP.

Mas um vizinho anônimo denunciou a presença da mulher de neve desnuda e a polícia pediu que fosse vestida ou destruída.

"Não quisemos ter problemas com a polícia e a cobrimos com uma roupa", disse González.

as defesas da "liberdade de expressão" pela grande imprensa / texto delicioso

Achei fantástico!  Acho que merece leitura, e não mera passada de olhos!  (Ralf)


Urariano Mota
Receita para a liberdade de expressão

Publicada em 03/03/2010 por Urariano Mota, em Direto da Redação
http://www.diretodaredacao.com/site/noticias/index.php?not=4996

Reproduzido em 04 de março de 2010 às 10:41 no VIOMUNDO (L.C.Azenha)
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/urariano-mota-receita-para-a-liberdade-de-expressao/

Recife (PE) - "Em seminário promovido pelo Instituto Millenium em SP, representantes dos principais veículos de comunicação do país afirmaram que o PT é um partido contrário à liberdade de expressão e à democracia. Eles acreditam que se Dilma for eleita o stalinismo será implantado no Brasil", assim começava o esclarecedor texto de Bia Barbosa, no site Carta Maior, esta semana.

Por isso, decido expor aqui uma receita para a liberdade de expressão que nos salve de Stalin na imprensa brasileira. Como toda boa receita de bolo, há que se começar pelos ingredientes. Que são, saudáveis:

O povo, com todos seus tentáculos

Fascismo, com o nome de Princípio Ativo do Capital

Mão forte, para o golpe

Democracia, no gênero defesa do mercado

Liberdade, para quem sempre a possuiu

Ovos de crocodilo, para as lágrimas

Ovos de serpente, para o veneno

E farofa, muita farofa, de preferência pronta na saliva.

Modus operandi, ou modo de fazer o cremoso criminoso:

Na batedeira dos noticiários, bata as claras dos ovos de serpente primeiro, bem unidas, a ponto de se tornarem venenosas só de serem vistas. Faça o mesmo com as claras dos ovos de crocodilos, que devem ficar no ponto do close de lágrimas na imagem e na tinta de pesar dos obituários. Acrescente o açúcar de voz melosa, suave, beatífica, de apresentadoras que de tão boazinhas, puras e pulcras viram santas no Vaticano. Bata por mais 3 minutos em cada flash de exposição dessa matéria.

Agora ponha as gemas de crocodilos e serpente em deliciosa mistura, junte a Democracia do mercado, Liberdade da classe mais A do Brasil, mais o Princípio Ativo do Capital, que jamais se chamará de Fascismo, e, para dar o gosto e o sabor do passado, da tradição que não falha, agite a mistura com Mão Forte, com golpes rápidos e de surpresa, à semelhança dos ladrões e assaltantes. Isso até formar uma massa homogênea, unida, submetida pela força e pela persuasão da força.

Por último, ponha o fermento bem armado e bata e bata, e bata, e golpeie. Despeje a massa numa forma de classe média bem untada de valores familiares e de nossa classe contra o resto do mundo. Asse em frigideiras de reputação bem aquecidas, até fazer a massa dourar pela aceitação do fogo. Reforce o fogo.

Os ingredientes da cobertura são simples: farofa e os ovos de serpente que sobraram.

Modus operandi da cobertura:

Retire as claras para que sejam batidas às escuras, em off. Deixe-as respirar em papel de jornais e revistas, bem expostas na sala durante o tempo dos informativos na televisão. Depois, adorne a cobertura com a frase "eu tenho medo", em todos os espaços livres da liberdade de expressão. Sirva-a com palavras dramáticas e lágrimas de Regina Duarte.

Sei que a esta altura devem estar perguntando: e o povo, e o povo com todos os seus tentáculos, como está escrito lá em cima nos ingredientes? O que fazer com o povo? Ora, o povo entra nesta receita por figuração estética. É simples. Usa-se o povo e se joga fora.

Esta é a nossa receita para a liberdade de expressão, conforme o seminário promovido pelo Instituto Millenium. Jornalistas, editores e donos do pensamento em geral poderão ter com ela a paz de evitar a eleição da Dilma Roussef. É possível que a receita não seja digerível por estômagos mais humanos. Mas com certeza dará um belo bolo.

Visite o Blog do autor em: Sapoti da Japaranduba  

02 março 2010

africanos já faziam arte há 65 mil anos

Acho absolutamente injustificado o uso das aspas na palavra "arte", no texto abaixo - mas vale a essência da informação! (Ralf)
 

01/03/2010

Ninho de criatividade

Dê uma boa olhada nos fragmentos coloridos acima. Não é preciso ser um conhecedor de arte abstrata para detectar o que poderíamos chamar de "estilo" -- um padrão de linguagem visual, em suma --, ainda que a gente seja incapaz de precisar exatamente de onde vem a sensação. A conclusão é inescapável: africanos de 60 mil anos atrás já estavam fazendo "arte".

A matéria-prima, aliás, não podia ser mais africana: ovos de avestruz, conforme explica a equipe liderada por Pierre-Jean Texier, da Universidade de Bordeaux, em artigo na edição on-line da revista científica "PNAS".

Os pesquisadores acharam os cacos dos ovos durante escavações no abrigo rochoso de Diepkloof, na África do Sul. Análises dos padrões geométricos indicam um estilo típico que se manteve, com uma ou outra mudança, entre 65 mil e 55 mil anos atrás.

Os caçadores-coletores de hoje costumam usar ovos de avestruz como garrafas d'água portáteis, e essa mesma função parece ter sido desempenhada pelos ovos na Idade da Pedra africana, porque há sinais da abertura cuidadosa de furos em certos fragmentos estudados pela equipe de Texier.

Ao mesmo tempo, porém, adornos nesses contêineres serviriam para indicar a identidade cultural do portador -- sua tribo, por exemplo --, e é para isso que as gravações eram feitas nos ovos, aposta a equipe de pesquisadores.

Escrito por Reinaldo José Lopes às 20h43