Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

03 dezembro 2017

Elisa Lucinda: CONVOCAÇÃO À LUZ DOS NOVOS TEMPOS!

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APRESENTAÇÃO POR RALF RICKLI: Em 20/11/2017, Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a escritora e atriz Elisa Lucinda publicou este texto absolutamente extraordinário na sua página no Facebook - mas é possível que tenha publicado sob pressão de tempo, pois o texto saiu com inúmeros problemas de digitação, quando Elisa é sabidamente dona de um texto refinado e preciso em todos os detalhes. Com receio de que alguém possa pretender usar esses problemas de digitação para desqualificar indevidamente um texto que, como já disse, é de extraordinário valor, e como também sou do ofício do texto e, a meu modo, militante da causa, me atrevi a fazer uma revisão básica disso (da digitação), sem alterar uma única palavra, e a disponibilizar a partir deste blog, na esperança de que a autora não leve a mal. Com a palavra: Elisa Lucinda!



CONVOCAÇÃO À LUZ DOS NOVOS TEMPOS!

Quero reafirmar que à luz dos novos tempos velhas narrativas não mais passarão. Não sobreviverão provérbios retrógrados e retóricos e, menos ainda, tradicionais omissões. Quando eu disse que “coisa de preto” era subtexto de grande parte da mente nacional e muitas vezes das mentes do mundo, eu não estava fazendo uma hipótese. Estou falando de uma teoria filha da prática de uma experiência de existir numa sociedade racista, sendo muitas vezes a única negra não funcionária daquele ambiente, o que me dá um lugar muito particular que eu faço questão de compartilhar. Inúmeras vezes já ouvi e vi essa legenda gritando no olhar do meu julgador, depois de uma gargalhada, depois de uma coisa mais surpreendente, mais espontânea, de alguma coisa mais “exótica”, mais espalhafatosa, menos “comportada”. Já vi esse olhar muitas vezes: “Coisa de preto, só podia ser preto”. O olhar sussurra pra si mesmo e eu escuto. É claro que fui criada num país multicolor, é claro que acreditei na democracia racial, mas só até entender a bipolarização flagrante entre brancos e pretos exposta como uma hemorragia atuante e invisível em todos os lugares que frequentei, sendo a única negra do colégio de freiras, sendo eu e meus irmãos os únicos negros dos clubes, das colônias de férias dos funcionários da Vale do Rio Doce e, mais tarde, a única negra de muitos elencos. Uma espécie estranha de solidão. Então está posto o que é estrutural, o que é endêmico, o que é constituinte desta educação racista brasileira estendida a todos sob o manto da famosa “democracia racial.”

Balela.

Não sou eu, é o IBGE que afirma por cálculos concretos: da multidão de desempregados que perambula pelas ruas da desesperança no país, 66% são negros. Os salários dos brancos são 55% maiores que os salários dos pretos, formando assim enormes corredores de exclusão preenchendo o quesito da subutilização da força de trabalho brasileira. Gerações e gerações de mulheres negras são multiplamente mais assassinadas que as não negras. O Brasil desperdiça seus filhos e têm especial predileção em desperdiçar as filhas e os filhos pretos. Não os reconhece. Disso tudo sabemos e nos debatemos sem compreender a profundeza da teia racista que, impingida na cabeça de cada brasileiro, produz este estrago, essa matança.

O brasileiro ignorante histórico, aquele ingênuo que cresceu sem se estarrecer com o ter existido o cruel tráfico humano nos navios carniceiros negreiros, cresceu achando bonito o quadro triste e trágico da primeira missa no Brasil, o retrato da primeira missa jesuíta; o ignorantemente histórico é aquele que aprendeu a gostar daquela Tragédia: índios nus nos cantos da igreja, tomando banho de vergonha, vivendo a violenta catequização, o extermínio de uma cultura, amargando a escrota e danosa fundação da culpa, sendo por ela contaminados até não reconhecerem mais o que era Liberdade.

Pois é, meus senhores, o pretensioso domínio branco primou por dizimar, por encher de sangue a história do país a partir de sua predatória colonização. Agora, neste momento em que a República está em chamas e os poderes estão de costas para o povo, estamos por nossa conta e precisamos amadurecer como sociedade, lavar os preconceitos das escadarias da alma, uma lavagem forte, uma exigência do Axé.

É de tarde. Entro no carro, o taxista que me aguardava com um bom desconto de 30%, me disse: “Eu esperava que você saísse por esse portão aqui”. Era o portão da esquerda, que na minha casa é o dos fundos, e é igualzinho ao da direita, portanto ele não podia supor, obviamente. Mas mesmo assim brinquei: Não, aquela, meu senhor, é a entrada dos fundos, a entrada dos brancos. Ele então, deu um sorriso muito sem graça, e eu completei: É estranho, né, para o senhor que é branco pensar assim? Ele disse: “É verdade, a gente não tá acostumado a pensar isso não”. E eu: Já pensou na televisão, numa novela, um elenco de 40 atores, 38 serem pretos e só 2 brancos? E ele: “Já pensou, tudo ao contrário?”. Incrível, “ao contrário”, ele disse. Normatizamos tanto o preconceito que achamos normal uma situação de opressão. O certo perde a referência. É ao contrário. Esse tema tem que vir para as mesas, tem que ser discutido e estar dentro da educação brasileira como conteúdo. Nem percebe-se que, dos 200 indicados na lava a jato todos os ladrões são brancos. Tem nenhum preto. A maioria infratores reincidentes. Mas nem se repara, nem comentamos.

É hora de lavarmos os olhos. Por isso a importância da disciplina de relações étnico-raciais, nas universidades, nas escolas, na formação de professores. Urge.

Toda essa minha conversa, meus queridos, é a base para uma convocação, pois chegamos a um limite. O silêncio dos não racistas brancos tem feito falta nessa luta.

E está pegando mal. Vem constrangendo bons brancos.

José Bonifácio deixou muitos herdeiros, tratava-se de um homem branco, abolicionista, que não admitia escravos, pagava a quem contratava os serviços, um revolucionário. Onde estão seus descentes?

Um amigo louro meu me disse que havia na sua infância um garotinho que morava na rua de trás com quem ele gostava muito de brincar e que era o filho do dono da borracharia onde o pai consertava os pneus. Ainda assim seu pai dizia: “Não quero você brincando com esse menino”. “Por que papai?” Quando você crescer entenderá; a gente trata bem, mas não deve se misturar. Você vai entender.”

Perguntei então a esse amigo hoje, se ele, agora que é grande, já cresceu, se ele entendeu. E, se entendeu, que escreva sobre isso, quero ler tais depoimentos. Os que receberam a educação escravagista da Casa Grande e não concordam com ela, não podem mais se calar. Foram proibidos de sonhar com a igualdade, treinados a produzir desigualdades, ensinados à ideia de uma “natural “ supremacia. Foram adestrados profundamente no seu imaginário de modo a não lhes ser permitido amar e casar com uma mulher ou um homem negro.

E aí? Vai ficar por isso mesmo? Vão passar a mesma educação para as crianças de hoje? Continuará sendo perpetuado o racismo assim, na cara do século 21 e com essa contribuição destes silêncios? Pensará também assim a geração filha da esquerda brasileira, filha dos sociólogos, pesquisadores, antropólogos, engenheiros, ecologistas, médicos e artistas? Filhos da elite branca e dita de esquerda deste país? Como vai ser isso?

Por isso a minha proposta no mês da Consciência Negra é chamar a todos os não negros a que reflitam publicamente sobre a educação racista que receberam. Quando foi que perceberam que havia um plano diabólico e separatista envolvendo suas vidas? E o que vão fazer pra limpar a própria barra?

É isso mesmo, se não se pronunciam, é natural que pensemos que todos os brancos são racistas, a não ser que estes mesmos provem que não. Eis a minha proposta, ponham a mão neste vespeiro, contem aquilo que foi passado durante sua educação de forma sistemática, mas também como uma espécie de segredo, como algo do qual não se fala nunca, quase nunca abertamente. Será libertador.

Pela saúde geral, falem meus brancos, contem, libertem, descubram se houve algum negro ou negra, ou mesmo um branco revolucionário em sua árvore genealógica, ao qual trataram de esconder na névoa do tempo. Vamos abrir a caixa preta do silêncio branco até aqui.

Que se indague. Se investigue. O que terá ficado oculto nas partes escondidas, historicamente?

Vamos a está reflexão? É urgente. Quem diz é nossa antiga gente: Se posicione, pois quem cala consente.

Elisa Lucinda / 20 de novembro, 2017.

26 novembro 2017

FUNDAMENTANDO HISTORICAMENTE: CONSCIÊNCIA HUMANA TEM COR, SIM SENHOR!

- Ralf Rickli, novembro de 2017

EPÍGRAFE 1: “Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É preciso ser antirracista.” ANGELA DAVIS

EPÍGRAFE 2: “Minha proposta no mês da Consciência Negra é chamar a todos os não negros que reflitam publicamente sobre a educação racista que receberam. Quando foi que perceberam que havia um plano diabólico e separatista envolvendo suas vidas? E o que vão fazer pra limpar a própria barra? É isso mesmo, se não se pronunciam, é natural que pensemos que todos os brancos são racistas, a não ser que estes mesmos provem que não. ... É urgente. Quem diz é nossa antiga gente: se posicione pois quem cala consente.” 
ELISA LUCINDA, em “Convocação à luz dos novos tempos”, em 20/11/2017 em sua página no Facebook.

De acordo com os testemunhos históricos não há por que dizer que a Europa fosse “mais desenvolvida” que a África até o século XV: eram estilos de vida diferentes, em boa parte condicionados pelas diferenças de clima - e na qualidade de vida da população comum, dá pra apostar que os africanos estavam melhor.
  
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Na costa oriental, ricas cidades portuárias comerciavam já há muito com a Índia, Indonésia, até a China, antes que os europeus (começando justamente pelos portugueses) se lançassem por primeira vez à navegação oceânica, em navios bem mais precários que os do Oriente, porém com um diferencial: por primeira vez navios levavam canhões.

Foi como uma invasão alienígena: onde aportavam, os branquinhos esquisitos declaravam sua posse do local e destruíam a bala de canhão as cidades que não aceitassem exclusividade comercial com eles, sob suas condições. Em poucas décadas, as milenares redes comerciais que atravessavam o continente estavam destruídas (a miserabilização do continente começou aí) e não se encontravam mais mercadorias africanas pra comprar ou piratear... a não ser... as próprias PESSOAS africanas e sua força de trabalho.

Mas... pessoas humanas poderiam ser tratadas como mercadoria? Ora, isso não seria problema: luminares do pensamento religioso europeu logo “esclareceram” que pessoas africanas NÃO ERAM humanas: “não tinham alma”.

E à medida em que o pensamento religioso foi cedendo lugar ao científico, não faltaram “cientistas” dispostos a forjar todo tipo de “prova” da não humanidade dos negros - o que chegou ao auge há pouco mais de cem anos, quando livros de divulgação científica, INCLUSIVE ESCOLARES, continham frases assim: “O cérebro de um negro adulto equivale ao de um feto branco de sete meses”; “[Os negros] estão abaixo de certos macacos na escala da evolução”, ou “Todos os estudos [sobre o negro] comprovam sua natureza caracteristicamente símia” - esta última em um panfleto intitulado “PROVAS BÍBLICAS E CIENTÍFICAS DE QUE O NEGRO NÃO É PARTE DA RAÇA HUMANA”. (Fontes? Consultem em Basil Davidson, “Revelando a velha África” - entre muitos outros).

Gênios negros como o jurista e filósofo Anton Amo (sequestrado na África aos 3 anos e criado na Alemanha) e o poeta brasileiro Cruz e Souza foram psicológica e economicamente triturados nessas campanhas, pois NÃO PODIAM ser o que eram: negros portadores de uma consciência humana avançada.

E agora, quando mais e mais negr@s começam a se levantar e dizer: “Não estamos nem aí se vocês brancos se recusam a admitir (na teoria ou na prática) que nós somos da mesma espécie que vocês, o fato é que nós TEMOS CONSCIÊNCIA. Consciência, para começar, da nossa humanitude e do nosso valor. E com total autonomia: vocês endossarem ou não a nossa humanitude não faz a menor diferença para nós: NÓS SOMOS. Humanos negros. E não deixaremos de ser.”

... Aí, nesse dia, brancos aparecem bonzinhos dizendo: “o que é isso, gente, a humanidade é uma só, por que esse papo de uma consciência negra diferenciada, isolacionista?” - fazendo de conta que não foram eles, os brancos, que SE isolaram dizendo que só eles eram humanos, só eles eram capazes de consciência. Dá pra aguentar, gente?

Quem está escrevendo aqui tem entre 1/16 e 1/32 de genética negra em seu corpo, frações desconhecidas de genética indígena e árabe, e um predomínio de genética europeia - mas dá pra estranhar que, quando falo, minha consciência acabe optando por se identificar quase integralmente com o que há de não-branco em mim?

Isso é pra não morrer de vergonha, gente. Pois a não ser em caso de ignorância histórica ou de falta de caráter mesmo, é impossível que a manifestação central da CONSCIÊNCIA HUMANA num branco tenha outra forma que não a da vergonha.

TENTANDO SUMARIZAR A QUESTÃO DA CONSCIÊNCIA HUMANA EM PRETO E EM BRANCO: a consciência humana é uma CAPACIDADE.

De que conteúdo essa capacidade se preencherá caso se manifeste no contexto de um corpo negro? Suponho que algo como “O quanto roubaram dos meus - e consequentemente de mim! Mas isso NÃO impedirá, nem a mim nem aos meus, de realizarmos os potenciais humanos tão plenamente como qualquer outro humano possa realizar. E de lutar com todos os recursos que forem necessários para que não nos roubem mais”.

De que conteúdo essa capacidade PRECISA se preencher num corpo branco, caso não se queira continuar no caminho de desenfreada BESTIALIZAÇÃO PREDATÓRIA pelo qual os brancos enveredaram há alguns séculos? Acho que algo assim: “Estou consciente de que nós brancos não teríamos chegado à atual posição de vantagem em relação aos outros povos se não tivesse sido à custa do suor, sangue e lágrimas dos negros; de outros povos também, mas de modo especial dos negros, pelo volume, duração e sistematicidade do processo. É dever de consciência lutar com os da minha própria cor para que essa exploração e suas consequências deixem de existir - e mais: reconhecer ainda (o lugar de fala!) que se tem coisa que meus antepassados brancos NÃO me legaram é a condição moral de dizer aos negros como é que eles devem pensar, falar, viver e lutar”.

Acho que é isso aí. Em nome de minha trisavó Floriana Rosa do Espírito Santo, nascida escrava, em caráter de afirmação - e de meu bisavô Johann Ulrich Rickli, missionário evangélico na África antes de vir para o Brasil, em caráter de reconhecimento de um equívoco & de tentativa de reparação.
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03 outubro 2017

QUEM SÃO OS NOVOS NAZISTAS NO BRASIL E MUNDO DE HOJE

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Pessoas que QUEREM SER DO BEM - amigos, parentes, quem for - pelo amor de Deus, entendam: OS RESPONSÁVEIS POR ESSE ESTADO DE COISAS SÃO OS LÍDERES E MISSIONÁRIOS EVANGÉLICOS, e ninguém mais! Entendam, por favor, que hoje em dia PRATICAMENTE TODO O MOVIMENTO QUE SE APRESENTA COMO EVANGÉLICO é apenas UMA MÁSCARA DO MAL.
Já historicamente o cristianismo representou via de regra ignorância e opressão, mas houve exceções, onde vivia um espírito esclarecido, compassivo e libertador como o do próprio Jesus. Só que hoje os remanescentes desse cristianismo-do-bem NÃO CHEGAM A 1%, o resto é uma mistura de agentes deliberados do mal com inocentes úteis a serviço dos primeiros.
NÃO SEJA VOCÊ TAMBÉM UM INOCENTE ÚTIL: se você realmente deseja o bem, ENTENDA que não dá mais pra levar água para o moinho desses grupos, participando de atividades deles em nome de antigas amizades, saudades de momentos bons, etc., sem com isso se tornar CÚMPLICE dos crimes históricos que eles estão cometendo - tanto quanto se você frequentasse reuniões nazistas em 1937 na Alemanha.
Adianto só mais uma coisa, sobre a qual tenho que escrever mais amplamente em outro momento: DISPENSACIONALISMO NÃO É CRISTIANISMO: é uma falsificação criada há uns 160 anos como um PROGRAMA DE AÇÃO para os sionistas e ingleses (hoje sucedidos pelos estadunidenses) implantarem uma ditadura mundial, fingindo que se trata do "reino de Deus na Terra" implantado por Jesus retornado. A colcha de retalhos de trechos bíblicos recombinados fora de seus contextos originais (através p.ex. da Bíblia Thompson) pretende servir de pretexto inclusive para gigantescos genocídios, que se forem executados farão os de Hitler parecerem brincadeira de criança - tudo fingindo ser "cumprimento de profecias".
Parece absurdo demais para ser verdade, não? No entanto é precisamente isso o que nós estamos vivendo - e FAZ PARTE DISSO o golpe dado no Brasil contra aqueles que de 2003 a 2014 governaram o país segundo os parâmetros de Mateus 25:31-46. Sei que muitos de vocês comeram mosca e ajudaram a afastar do poder os justos e entregá-lo aos bandidos, mas nunca é tarde para observar, refletir e retificar sua posição.

22 abril 2017

A eliminação da violência à primeiríssima infância como condição central para uma sociedade justa e estável

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Convido a tod@s a conhecerem o eixo central, resumido em 4,5 páginas A4, da minha monografia sobre a importância da educação para a pater/maternidade, re-publicado hoje com o seguinte título e endereços:

A ELIMINAÇÃO DA VIOLÊNCIA À PRIMEIRÍSSIMA INFÂNCIA COMO CONDIÇÃO CENTRAL PARA UMA SOCIEDADE JUSTA E ESTÁVEL
Ralf Rickli (2009)


11 março 2017

A NAVE E A TEMPESTADE

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no aposento precário
em que provisoriamente nos refugiamos
do incêndio que assolou nosso mundo,

aos poucos nos chegam falas
lançadas de um alaúde
no espaço, há quinhentos anos,

nos tomam nos braços e embalam
- e de repente o quarto é uma nave
que atravessa indiferente a tempestade

e no embalo nossas peles se encontram
e pedem socorro uma à outra,

negociam centímetro a centímetro
o apoio que damos ao outro
com força sempre crescente...

até que somos a nave
e a música, e a própria tempestade,

e, quando vemos, está cantando em nós
a Vida,

assegurando
que já estava aqui antes de tudo
e que haja o que houver
continuará.

avante, avante, marinheiros,
não há força
que possa nos parar!
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Acabo de redescobrir que numa madrugada de novembro de 2016 deixei escrito o seguinte poema, do que não me lembrei nem mesmo na manhã seguinte! "Feliz como una lombriz" com a redescoberta! (Ralf Rickli)
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11 dezembro 2016

A dialética entre COMUNIDADE e SINGULARIDADE em C.G. Jung


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A DIALÉTICA ENTRE COMUNIDADE E SINGULARIDADE
na expressão filosófico-poética de C.G. Jung*

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O ser humano é fraco, por isso é indispensável que haja Comunidade. Se não houver Comunhão sob o signo da Mãe, haverá sob o signo do Falo. Ausência de Comunhão é sofrimento e doença. Comunhão em tudo é dilacerar-se e dissolver-se.


A diversidade leva ao Ser Singular. Singularidade é o contrário de Comunidade. Por causa da fraqueza do ser humano em face dos deuses e demônios e de sua legislação invencível, é necessário Comunidade. Haja portanto tanta Comunhão quanto se faz necessário não em razão dos humanos e sim por causa dos deuses. Os deuses vos forçam à Comunidade. Na medida em que eles vos forçam, nessa medida a Comunidade é necessária, mais que isso é nocivo.


Na Comunidade, cada um se subordine aos outros para que a Comunhão se mantenha, pois tendes necessidade dela.

Na Singularidade, cada um se coloque acima dos outros, para que cada um alcance a si mesmo e seja evitada a escravidão.

Na Comunidade, que a regra seja conter-se; na Singularidade , que a regra seja esbanjar de si.


Comunhão é o profundo; Singularidade é o elevado.

A medida correta de Comunhão purifica e preserva.

A medida correta de Singularidade purifica e acrescenta.

A Comunhão nos dá o calor,

a Singularidade, a luz.
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* Carl Gustav JUNG, 1916. Fragmento das ‘Sete Lições aos Mortos’,  nº V.
Traduzido por Ralf Rickli em Vitória, ES, no centésimo ano do original.

O texto português não corresponde ao alemão palavra por palavra, mas registra o entendimento de cada frase que pareceu mais coerente e provável ao tradutor. Desse modo uma mesma palavra, ‘Gemeinschaft’, ‘reencarna-se’ em português quer como Comunidade, quer como Comunhão; e tanto Ser Singular quando Singularidade traduzem ‘Einzelsein’.
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12 novembro 2016

7 propostas de Trump censuradas pela mídia, e que explicam sua vitória - segundo Ignacio Ramonet

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Em artigo publicado dia 9 no portal desInformémonos, o jornalista e sociólogo Ignacio Ramonet elenca “7 propostas de Donald Trump que os grandes meios censuraram, e que explicam sua vitória” - não sem antes admitir que as declarações de Trump que a mídia colocou sob os holofotes constituem um “catálogo de asneiras horripilantes e detestáveis”.

Infelizmente Ramonet gasta mais da metade de seu texto para relembrar o que todo mundo já sabe - então eu (Ralf Ricklime permito traduzir aqui, e isso condensando e adaptando um tanto, só os 7 pontos referidos no título. Quem quiser pode consultar o texto original aqui.

1) Os jornalistas não perdoam, em primeiro lugar, que Trump ataque de frente o poder midiático. Reprovam que em seus comícios ele instigue o público a vaiar “a imprensa desonesta”. Trump afirmou com frequência: “Não estou competindo contra Hillary Clinton, estou competindo contra os meios de comunicação corruptos”. Também escreveu, em um tweet pouco antes da eleição: “Se a mídia corrupta e nojenta me cobrissem de forma honesta, sem injetar significados falsos nas minhas palavras, eu estaria ganhando da Hillary por uns 20%”. Assim, em seus atos de campanha Trump não hesitou em retirar as credenciais de veículos importantes como The Washington Post, Politico, Huffington Post y BuzzFeed, e chegou mesmo a atacar a Fox News, a grande rede da direita panfletária que lhe estava dando forte apoio.

2) Trump denuncia a globalização econômica, convicto de que ela acabou com a classe média. Diz que a economia globalizada está levando cada vez mais gente à falência, lembrando que nos últimos 15 anos mais de 60 mil fábricas tiveram que fechar as portas nos Estados Unidos, e desapareceram quase 5 milhões de empregos industriais bem pagos.

3) Trump é um protecionista ardoroso; propõe aumentar os impostos sobre todos os produtos importados. Apoiador do Brexit (o abandono da União Europeia pelo Reino Unido), declarou que tratará de retirar os EUA do NAFTA (Tratado de Livre Comércio da América do Norte), bem como do TPP (Acordo Transpacífico de Parceria), dizendo que este último seria um golpe mortal para a indústria manufatureira estadunidense. Esta mensagem pegou fundo em regiões como o “cinturão da ferrugem” do Noroeste, onde o fechamento e a mudança de fábricas deixaram altos índices de desemprego.

4) Também pegou fundo sua oposição aos enfoque neoliberais em matéria de seguridade social. Muitos eleitores com mais de 65 anos, ou que foram vítimas da crise de 2008, dependem da aposentadoria da Social Security e do seguro de saúde do Medicare, desenvolvido por Obama, que outros líderes republicanos desejam extinguir. Trump prometeu não tocar nesses avanços sociais, baixar o preço dos medicamentos, ajudar a resolver os problemas dos sem-teto, reformar a fiscalização dos pequenos contribuintes e suprimir um imposto federal que afeta 73 milhões de lares modestos.

5) Contra a arrogância de Wall Street, Trump propõe aumentar significativamente os impostos dos aplicadores em fundos Hedge que ganham fortunas, e apoia o restabelecimento da Lei Glass-Steagall. Aprovada em 1933, em plena Grande Depressão, essas lei separava os bancos tradicionais dos bancos de investimento, para evitar que os primeiros pudessem fazer investimentos de alto risco. Obviamente, todo o sistema financeiro se opõe de modo absoluto ao restabelecimento dessa medida.

6) Em política internacional, Trump quer estabelecer uma aliança com a Rússia para combater com eficácia o Estado Islâmico - ainda que para isso Washington tenha que reconhecer a anexação da Crimeia por Moscou.

7) Trump estima que, com sua enorme dívida soberana, os Estados Unidos já não dispõem dos recursos necessários para conduzir uma política externa intervencionista indiscriminada. Já não podem impor a paz a qualquer preço (sic). Em contradição com vários caciques do seu partido, e como consequência lógica do final da Guerra Fria, quer mudar a OTAN: “Não haverá nunca mais garantia de proteção automática dos Estados Unidos para os países da OTAN”.

Todas essas propostas não anulam as inaceitáveis, odiosas e às vezes nauseabundas declarações de Trump difundidas pelos grandes meios com bumbos e pratos - mas não deixam de explicar melhor o seu êxito.
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11 outubro 2016

"O dia em que Túlio descobriu a África" ganha nova edição (virtual)

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Meu livro O dia em que Túlio descobriu a África teve sua primeira redação em 1994 - antes das facilidades da internet - e sua primeira edição em 1997.

Em 2015 foi inteiro reescrito - melhorado em inúmeros aspectos - tendo em vista uma edição impressa de iniciativa de um órgão público de SP - mas por inúmeras razões essa edição acabou não saindo. Quê fazer?

Ora, hoje em dia uma edição virtual alcança muito mais gente que uma edição impressa! Decidi disponibilizá-lo na íntegra e de graça na internet - só que, aproveitando que o livro, consideravelmente volumoso, é dividido em cinco partes, optei por publicar em cinco "fascículos virtuais" (em PDF).

O esquema será o seguinte:

  • I. A DESCOBERTA - dia 11/10 - https://tr.im/Tulio1
  • II. NA CAUDA DO COMETA - dia 21/10 - https://tr.im/Tulio2
  • III. ATÉ A MAIS PROFUNDA RAIZ - dia 31/10
  • IV. DA IMPERATRIZ CANDACE AO IMPÉRIO DO RAS TAFARI - dia 10/11
  • V. UM RAIO DE SOL CRUZA O ATLÂNTICO - dia 20/11
    (Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra)

- Mas, afinal, qual é a desse livro?
- Ora, pra que explicar, se você mesmo pode verificar?  Olha o link aqui e espia lá: aposto que não vai se arrepender!
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17 julho 2016

QUAL É MESMO A VERDADEIRA SITUAÇÃO DA PETROBRÁS?

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Este texto foi publicado anteriormente pela AGERN - Associação dos Geólogos do Rio Grande do Norte - com os links quebrados. A presente versão teve seus links restaurados. A autoria é
possivelmente do geólogo Bruno Veronez, mas não conseguimos confirmar.
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Bom, eu tenho conversado com muita gente sobre a real situação da Petrobras hoje em dia. Todos os dias somos levados a crer que a empresa afundou, que houve um rombo da ordem de 35 bilhões de reais, de acordo com Miriam Leitão (a suposta sumidade da Macroeconomia).

É certo que é necessária a ação da Operação Lava-Jato na investigação dos esquemas de corrupção envolvendo políticos de praticamente todos os partidos políticos, empreiteiras e o alto escalão da administração da Petrobras.

Eu, como Geólogo, e depois de acompanhar muitas discussões acerca do tema, pesquisei e tive acesso às pesquisas de muitos de meus colegas, em especial aos membros do grupo de emails Geobahia, como Carlson Leite, Argemiro Garcia Filho, Josafá Santos, Telesforo Marques, dentre muitos outros profissionais da área, professores e alunos. Então vou reproduzir, com algumas edições um pouco da última discussão produtiva (muitas não são) sobre o assunto, conforme compilado por Marcelo Abbehusen:

Vamos começar com o balanço da Petrobras no exercício de 2015:

http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/divulgacao-de-resultados-do-exercicio-de-2015.htm

No balanço, são notáveis seguintes pontos:

1 - A dívida líquida da empresa reduziu em 5%.
Ué! Mas a empresa não tinha dado prejuízo? Como pode a dívida ter diminuído?
Vamos então ao ponto 2:

2 - Fluxo de caixa livre positivo em R$ 15,6 bilhões.
Como assim? E o prejuízo? Fica aonde?
O prejuízo de R$ 34,8 bilhões está relacionado ao impairment de ativos. Mas o que é isso? O link abaixo explica:

http://blog.sage.com.br/impairment-voce-sabe-o-que-e-isso-2/

Em resumo, o prejuízo causado pelo impairment dos ativos é fruto da desvalorização dos mesmos, que, no caso da Petrobras, está principalmente relacionado à queda no preço do barril do petróleo.

Se você também acha que isto é mentira, veja o gráfico do preço do crude oil nos últimos 5 anos. Nele, você notará que o preço caiu de aproximadamente 110-120$, em meados de junho de 2014, para valores abaixo de 30$, no início de 2015. Segue o link:

http://www.infomine.com/investment/metal-prices/crude-oil/5-year/

E as outras empresas de petróleo? Como estão? Será que só a Petrobras está sofrendo por conta deste momento tão conturbado que vive a indústria do petróleo? Será que a Globo e a Revista Veja estão certas, e só a Petrobras está em crise?

Para não restar dúvidas, vamos procurar algumas notícias sobre as grandes e maravilhosas empresas multinacionais de Petróleo.

http://www.nytimes.com/2016/02/03/business/energy-environment/oil-company-earnings.html?_r=0

http://www.ibtimes.co.uk/shells-annual-profit-plunges-80-amid-ongoing-slump-oil-prices-1541860

http://www.ibtimes.co.uk/bps-annual-profit-halves-slump-crude-prices-impairment-charges-take-their-toll-1541396

http://petroglobalnews.com/2016/02/repsol-flags-3-2-billion-fy2015-writedown/

http://fuelfix.com/blog/2015/10/26/billions-in-impairments-spending-cuts-expected-in-oil-earnings/

http://www.statoil.com/en/NewsAndMedia/News/2016/Pages/1Q-2016.aspx
 
Sugiro que você leia os artigos acima.

Neles, você verá que a ExxonMobil, Shell, BP e Chevron (o que restou das antigas "Sete Irmãs"), além de outras gigantes como Statoil, Repsol, etc, estão passando por momentos COMPLICADÍSSIMOS, sem exceção.

O lucro anual da Shell caiu 80% em relação à 2014. O da BP caiu 51%. O da ExxonMobil caiu 50%.

E assim por diante.

Enquanto isso, em 2015 vimos esta notícia:

http://www.brasil247.com/pt/247/economia/192051/Lucro-da-Petrobras-supera-Chevron-Exxon-e-BP.htm

E o preço da gasolina? Nossa gasolina é realmente tão cara assim?

Esse site publica diariamente o preço da gasolina em todo o mundo:

http://www.globalpetrolprices.com/gasoline_prices/

Nele, o Brasil figura aproximadamente no meio da lista com a média de 1,06 dólar/litro. Com o dólar a 3,53 (em 12/04/16) temos o preço médio no Brasil, 3,60 reais/litro. Mais barata que países como Áustria ($1,24) Espanha, Suiça, Alemanha, Bélgica, Irlanda, França, Reino Unido, Islândia, Suécia, Itália, Dinamarca, Portugal, Noruega e Hong Kong (a mais cara do mundo, custando $1,80).

A média mundial é 0.99 dólares/litro. Repare que apesar do preço atual, a gasolina brasileira sempre foi vendida ABAIXO da média mundial, ou seja: abaixo do valor de mercado. Por isso, a Petrobras teve prejuízo durante muitos anos, vendendo gasolina mais barata aqui dentro.

O governo controlou o preço dos combustíveis para segurar a inflação, uma vez que eles tem um peso muito importante no índice.

Alguns economistas estimam que o prejuízo DA PETROBRAS por conta destas práticas seja da ordem de R$ 100 bilhões.

Para aprender um pouco mais sobre o assunto:

https://infopetro.wordpress.com/2015/05/18/impactos-da-politica-de-precos-dos-combustiveis-sobre-a-petrobras/
 
Para aprender um pouco mais sobre a composição do preço da nossa gasolina, é bom ler isso:

http://www.petrobras.com.br/pt/produtos-e-servicos/composicao-de-precos/gasolina/

http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/entenda-dez-questoes-sobre-a-nossa-gasolina.htm

Por favor, compartilhem isso e vamos esclarecer essa situação de vez. É muito injusto ver um dos nossos maiores patrimônios ser destruído por essa mídia e não fazer nada.

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ESTE TEXTO FOI PUBLICADO ANTERIORMENTE NO FACEBOOK DA AGERN - Associação De Geólogos Do Rio Grande Do Norte, mas infelizmente com todos os links quebrados, impossíveis de seguir. A versão acima teve seus links restaurados. Também já vimos o texto ligado ao nome do geólogo Bruno Veronez, mas não consegumos confirmar se a autoria é dele mesmo. Seja como for, somos imensamente gratos ao autor, pois é um texto importantíssimo, para reproduzir ao máximo!
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05 novembro 2015

Doutor Gramaticulino, sua esposa... e este que vos fala

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Introduzindo: um pouco tardiamente fico sabendo que ontem (5 de novembro) foi DIA NACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA, de acordo com a Lei 11.310/2006 - a meu ver um equívoco, por se referir ao nascimento de (ai!) Ruy Barbosa - infelizmente sancionada pelo nosso Lula, mas proposta no Congresso não sei por quem.
 
Ironia, porque na noite de véspera eu estava FALANDO pela primeira vez em público, no meio duma moçada fantástica da Grande VIX que se identifica como Slam Botocudos, um poema de 2011 - feito mesmo com a intenção de ser em voz alta, mas ainda não havia tido essa oportunidade, principalmente pq o poema é, digamos, um tantinho ousado - e ataca frontalmente a visão de que esse academicismo tradicional à la Ruy Barbosa devesse ser reconhecido como referência para a nossa língua.

Já havia saído aqui no blog em maio de 2011, mas em des-homenagem a esse dia equivocado vai mais uma vez, com ligeiras revisões.

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DOUTOR GRAMATICULINO, SUA ESPOSA...
E ESTE QUE VOS FALA

Ralf Rickli - Curitiba, 18.05.2011
Revisto e re-publcado em Vitória, 05.11.2015,
nono "Dia Nacional da Língua Portuguesa"


Não é querendo lhe ofender,
Dr. Gramaticulino Normoso,
mas essa senhora,
que lhe acompanha em terninhos discretos
nas cerimônias soníferas
a que o senhor a arrasta com suas gravatas francesas...

... essa senhora, da qual nunca extrais
mais que uns inexpressivos aiais,
eu bem que conheço ela
um tantinho outra,
nas madrugadas.

Sim, pois quando a gente se tromba
pelos butecos e becos, e se encoxa
no elevador pras estrelas
de um quartinho apertado...
ah, como ela se contorce
sob os meus dedos, minha língua,
que num minuto inventam dez regras
para abolir no instante seguinte
trocadas por outras dez
– tampouco feitas pra durar
mais que até a próxima explosão
de prazer

E como uiva delícias,
sua senhora Dona Língua Portuguesa
nessas noites em que nos entredevoramos
com tesão
– e amor!
Ah, eu confesso:
até tenho dó
do senhor, que nem desconfia
do que essa mulher é capaz!

Coitado... se soubesse mexer as cadeiras
para além desse um-dois, um-dois
que o pau do jesuíta
e o do general
lhe ensinaram...
Mas faz cem anos que o convidam pra folia,
e o senhor, nada de relaxar!

Pois fique, então, com a sua pose...
mas alforrie essa exposa gostosa
– que ao seu lado ela já nem pousa
mas na minha boca
ela goza.
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26 setembro 2015

BISSEXUALIDADE, A ORIENTAÇÃO SEXUAL MAIS COMUM E INCOMPREENDIDA (e o que os ditos ex-gays têm a ver com isso)

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Versão revista e ampliada em set.2015 do texto publicado originalmente em 09.08.2013 no jornal ES Hoje
com o título "Os tais ex-gays e o caso bi".
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Faz pouco tempo que começou a se falar no Brasil do dia 23 de setembro como "Dia da Bissexualidade", "Dia da Visibilidade Bissexual" ou ainda "Dia da Visibilidade da Bissexualidade". A data foi proposta nos EUA em 1999 e já é celebrada, mesmo se ainda discretamente, em diversos países de todos os continentes.

Mais uma besteira inútil de origem "americana"? Eu não diria isso: a bissexualidade é a menos compreendida das formas de orientação do desejo sexual. Muitos (até mesmo gays) pensam que se trate de uma minoria desprezível seja no sentido numérico, seja no sentido moral: afinal, os adeptos da normatização da vida alheia costumam defender não só a heterossexualidade exclusiva como também a monogamia estrita - sexo com uma só pessoa ao longo da vida - e dizer-se bissexual implica automaticamente em considerar legítimo fazer sexo com pelo menos duas pessoas..

Homens que cumprem na prática a monogamia estrita são tão numerosos mundo afora que talvez lotem um ou dois ônibus... mas os ditos conservadores não se acanham em rosnar regras que eles mesmos não costumam cumprir. São barulhentos, em sua obsessão de dominar a vida alheia. E, entre outras coisas, deram de apresentar como "ex-gays" uma meia dúzia de ex-garotos de programa e ex-travestis como se fossem "a prova" de que "o caminho certo" para todas as dezenas de milhões de brasileiros LGBT fosse aceitar a religião deles para virarem normais.
 
Realmente ridículo - mas a resposta dos ativistas LGBT geralmente não vai além de gritar que orientação sexual não muda e que os ditos ex só estão mentindo a si mesmos. Essa reação não é sem razão, mas ao bater de frente deixa de fora algumas sutilezas, e aí terminamos travados nesse -É! -Não é! e não vamos adiante. Que tal tentar enfrentar a questão com um pouco mais de ginga?
 
Vejam: tem muito homem que nunca sonhou fazer sexo com outro, viveu um casamento convencional por anos ou décadas, até que um dia, por brincadeira ou bebedeira, consentiu em uma aproximação - e aí não quer mais ficar sem o sexo entre iguais. Alguns desses conservam o interesse em mulheres, outros perdem completamente. E aí: houve mudança de orientação sexual, não houve? Acreditem: não!
 
Com base em centenas de milhares de entrevistas sigilosas, Alfred Kinsey apontou 7 variações do desejo, conforme seus objetos: 0: Só diferentes, nenhum igual. 1: Um igual vez ou outra. 2: Iguais com considerável frequência, mas os diferentes ganham. 3: Diferentes e iguais na mesma medida. 4: Diferentes com considerável frequência, mas os iguais ganham. 5: Diferentes só vez ou outra. 6: Exclusivamente iguais. 
 
Como se vê, 5 dos 7 tipos são capazes de prazer com os dois sexos, só 2 não são. A população de gays/lés 100% é relativamente pequena, mas a de 100% héteros também. Em períodos longos sem contato com o sexo oposto, a maior parte se descobre capaz de desejo por iguais. Dos que não chegam a praticar, a maioria se contém com esforço e por medo incutido, bem poucos por nem chegarem a desejar.
 
Nenhum hétero exclusivo optou por ser assim: simplesmente é. O mesmo vale para gays/lés exclusivxs. Já o bissexual, tampouco optou por desejar os dois, mas tem sim três opções para realizar seu desejo: só com iguais, só com diferentes, ou com os dois. Sua história de vida pode ter levado a começar por um dos lados, e esse ter sido satisfatório o bastante para ele nem desconfiar que o outro lado lhe poderia ser igualmente bom, ou ainda melhor - mas potencialmente as opções estão lá o tempo todo.

Supostos ex-gays, se estão felizes, são na verdade bissexuais explorando outra de suas possibilidades. Ex-héteros podem ser a mesma coisa, ou são gays quase-exclusivos que haviam se deixado dominar pela doutrinação social heteronormativa. Alguns destes se libertam da doutrinação social heteronormativa sozinhos ou com ajuda de amigos, outros só com ajuda psicológica.
 
Mas sejamos honestos: também existem héteros quase-exclusivos que a vida levou a viver como homossexuais ou como travestis em situações p.ex. de prostituição forçada por escravização ou penúria. Quando essas condições cessam, tais héteros reencontram sua orientação sem psicólogo nem pastor - ainda mais que no rumo hétero a sociedade inteira ajuda. Mas se ser ex-gay te custa esforço, terapia ou oração, meu bem… então seu caso não é esse - e aí só posso dizer: despacha da tua vida esses parasitas, se solta… e (re)começa a ser feliz sendo o gay ou bissexual que Deus te fez!
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