Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

31 agosto 2009

O cidadão com desejo de participar na História

Meus caros, vai aí uma rápida alegoria que surgiu quando tentava escrever sobre um certo momento da minha vida:

 
O cidadão com vontade de participar na História
 

Um homem caminha até uma multidão e aí declara alegremente, em voz alta:

 

- Olá, estou aqui pra participar da história!

 

Quase ninguém parece ouvir, e os pouco que ouvem apenas olham com um sorrisinho irônico. Mas o homem insiste:

 

- Estou aqui pra participar da história! - e finalmente um passante olha com alguma simpatia e responde:

 

 - Olha aqui, meu: aqui a história é a seguinte: tá todo mundo correndo mais do que pode pra ver se garante não muito menos do que precisa.

 

O homem pensa: "Esse aí tem razão: participar da história é participar do que ocorre aqui!  Mas... o que eu vejo aqui é uma massa compacta! Em movimento interno, todos trocando de lugar, mas compacta... Vou perguntar ao meu amigo por onde é que eu entro.

 

-Amigo, você pode me dizer...  (Hã?... Ué, ele estava ali agora mesmo... )

 

Perplexo, termina por gritar:

 

- Alguém pode me dizer por onde é que eu entro?

 

A resposta vem anônima:

 

- Quer tapete vermelho também?

 

De repente um esbarrão, e o nosso homem se vê dentro da massa humana. Tenta se deslocar, mas a massa é compacta... Cede uns centímetros aqui e ali, mas raramente onde se quer, e o homem se vê indo pela mera pressão da multidão, quase sem escolha, e no sufoco também já nem sabe mais pra que lado queria ir... Pensa "acho que eu não estava preparado bem pra isso!", e grita:

 

- Alguém pode me dizer como é que eu saio?!

 

Só para ouvir nem sabe de que lado:

 

- Se descobrir me conte.

 

Pronto, nosso cidadão tinha conseguido: estava em São Paulo participando da história!

 
.........................................................
Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
http://ralf.r.tropis.org • (11) 8552-4506

29 agosto 2009

Re: Caminhada este domingo em apoio aos desabrigados por desocupação anticonstitucional

Oi Ralf,
voce tem razão, trata-se de um movimento organizado....
e realmente, isso já é sinonimo de bandidagem pra muita gente!!!
O foda é que os comentários são sempre os mesmos:
ah, mas tinha muita gente sacana lá....

Como se tudo se resumisse ai...

Obrigada e por favor apareçam na caminhada e no sarau..

abs,
Daniela

2009/8/29 Ralf Rickli / Tropis <rrtrop@gmail.com>
Recebi por email as informações abaixo. Não tenho condições de checar se todos os dados são corretos. Ponho à disposição, se alguém quiser verificar é claro que pode ir atrás. O que não vale é falar que é falso só no achismo...
 
Antes das mensagens, dois comentários: sim, tratava-se de uma ocupação de uma área feita por um movimento organizado. Para alguns isso equivale a dizer que são criminosos e não têm direito a nada. Absurdo: se as leis mais fundamentais do país não são são cumpridas, ou são cumpridas seletivamente a favor de alguns, é absolutamente legítimo que se resista a isso.
 
A forma de realização dessa desocupação violou diversas disposições dos Títulos I e II da Constituição. Qualquer um pode ler: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm
 
Obviamente alguns dirão que também havia sido violado o direito à propriedade, previsto no mesmo Título I. Porém (1) aí foi um direito violado; contra os ocupantes foram vários; (2) o artigo seguinte significa que a propriedade só é justificada tendo função social; e aí, como fica? (3) Pessoas não podem passar dias esperando na chuva ou em algum galpão precário enquanto se toma providências: cada dia de desabrigo é uma violação inaceitável dos direitos humanos.
 
Em contrapartida, não havia urgência nenhuma na reintegração de posse. A prova é que a empresa ainda não fez nada lá. E se não fez, as pessoas podiam ter esperado dentro das suas moradias enquanto ela não estivesse pronta a fazer.
 
O que está em questão, enfim, é O CUMPRIMENTO SELETIVO DA LEI: a favor de possuidores da capital costuma haver presteza em cumpri-la; a favor de quem não tem... ora, que esperem pra quando der. 21 anos da Constituição que definiu seus direitos básicos, mas eles podem esperar mais um pouco, né? (TÁ NA CARA QUE ESTOU SENDO IRÔNICO - antes que algum apressadinho comece a amaldiçoar A MIM por ter escritos essas palavras evidentemente escrotas!)
 
Enfim aí vai o CONVITE para este domingo 30/08/2009, e mais informações:
 

CAMINHADA E SARAU NO DOMINGO 30/08
em apoio às famílias desabrigadas em razão da desocupação
do Olga Benário, no Capão Redondo
 
Saída: 15h da estação Capão Redondo de metrô Linha Lilás
 
18h: Filme para as crianças Sarau: 19h
 
Endereço: Parque do Engenho / Capão Redondo – Da Estrada de Itapecerica, entrar na Av. Rodrigo Sanches (esquina com a padaria nova Fantástica), e descer até o final da avenida - fica ao lado do córrego.
 
Esta atividade cultural está sendo realizada a pedido das famílias.
Por favor, participe e Repasse o convite!
 
Levem poesias, músicas, faixas, alfaias, tambores… COMIDAS E ROUPAS
Vamo fazê barulho!!!
 
(Na segunda-feira, dia 24/08, a PM cumpriu reintegração de posse de um terreno da Viação Campo Limpo, ocupado há dois anos. O terreno estava ocioso há mais de 20 anos. Mesmo alertada da falta de alternativas das familias, a Justiça negou garantir a inserção das famílias em programas habitacionais antes do despejo e expediu o mandato para cumprimento da reintegração de posse. Cerca de 2 mil pessoas ficaram desalojadas.)
 

Defensoria pede informações a CDHU sobre atendimento habitacional para famílias do "Olga Benário"
 
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE/SP), por seu Núcleo de Habitação e Urbanismo, requisitou nesta quarta (26/08) informações da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) sobre o atendimento habitacional emergencial das famílias que moravam no "Acampamento Olga Benário", na zona sul da Capital.
 
Cerca de 2 mil pessoas ficaram desalojadas desde o cumprimento da liminar de reintegração de posse na última segunda (24/08). Conforme documento obtido pela Defensoria, a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB) solicitou, em 18/08, à CDHU a liberação de recursos para atendimento das pessoas desalojadas por meio do Programa Parceria Social (Bolsa Aluguel).
 
O pedido teve como base "tratar-se de famílias com baixo poder aquisitivo sem outra alternativa de moradia e o grande número de crianças no local", sendo que "o não atendimento ocasionaria uma situação social indesejável". Ainda nesta quinta (27/08), a Defensoria apresentará recurso no Tribunal de Justiça contra a decisão da juíza da 6.ª Vara da Fazenda Pública da Capital que negou a liminar para garantir a inserção das famílias em programas habitacionais. A ação civil pública foi proposta pela Defensoria contra a Prefeitura de São Paulo no início de agosto.
 
O terreno, antes de ser habitado pelas famílias, estava desocupado há mais de 20 anos, servindo de depósito de lixo e palco de crimes de estupro. Na ação, o Defensor Público Carlos Henrique Loureiro argumenta que se trata de Zona Especial de Interesse Social 2 (ZEIS 2), de acordo com o Plano Diretor da cidade de São Paulo, o que significa que é um local inutilizado ou subutilizado e que deveria ser destinado a construção de moradia popular para atendimento da função social da propriedade.
 
O pedido, ainda, baseia-se no direito à moradia previsto na Constituição Federal e legislação brasileira. "Ressalte-se que dentre as 800 (oitocentas) famílias, existem cerca de 300 (trezentas) crianças, que inevitavelmente, com o cumprimento da liminar, não terão para onde ir e ficarão alojadas na rua"
 
Entenda o caso
A ação de reintegração de posse foi proposta pela empresa Viação Campo Limpo, que argumenta ser possuidora do imóvel. A liminar para desocupação, no entanto, não foi concedida pelo juiz da 8ª Vara Cível do Fórum de Santo Amaro. A empresa recorreu, sendo a liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Esta ação está sendo acompanhada pela Defensora Pública Carolina Pannain.
 
Mais informações
Renata Tibyriçá - Defensoria Pública Coordenadora de Comunicação
Carolina Lopes
Cristina Uchôa
Maurício Martins
Tel. (11) 3107-5055 / 9653-6796

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Daniela Embon

11. 8706-7471

Caminhada este domingo em apoio aos desabrigados por desocupação anticonstitucional

Recebi por email as informações abaixo. Não tenho condições de checar se todos os dados são corretos. Ponho à disposição, se alguém quiser verificar é claro que pode ir atrás. O que não vale é falar que é falso só no achismo...
 
Antes das mensagens, dois comentários: sim, tratava-se de uma ocupação de uma área feita por um movimento organizado. Para alguns isso equivale a dizer que são criminosos e não têm direito a nada. Absurdo: se as leis mais fundamentais do país não são são cumpridas, ou são cumpridas seletivamente a favor de alguns, é absolutamente legítimo que se resista a isso.
 
A forma de realização dessa desocupação violou diversas disposições dos Títulos I e II da Constituição. Qualquer um pode ler: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm
 
Obviamente alguns dirão que também havia sido violado o direito à propriedade, previsto no mesmo Título I. Porém (1) aí foi um direito violado; contra os ocupantes foram vários; (2) o artigo seguinte significa que a propriedade só é justificada tendo função social; e aí, como fica? (3) Pessoas não podem passar dias esperando na chuva ou em algum galpão precário enquanto se toma providências: cada dia de desabrigo é uma violação inaceitável dos direitos humanos.
 
Em contrapartida, não havia urgência nenhuma na reintegração de posse. A prova é que a empresa ainda não fez nada lá. E se não fez, as pessoas podiam ter esperado dentro das suas moradias enquanto ela não estivesse pronta a fazer.
 
O que está em questão, enfim, é O CUMPRIMENTO SELETIVO DA LEI: a favor de possuidores da capital costuma haver presteza em cumpri-la; a favor de quem não tem... ora, que esperem pra quando der. 21 anos da Constituição que definiu seus direitos básicos, mas eles podem esperar mais um pouco, né? (TÁ NA CARA QUE ESTOU SENDO IRÔNICO - antes que algum apressadinho comece a amaldiçoar A MIM por ter escritos essas palavras evidentemente escrotas!)
 
Enfim aí vai o CONVITE para este domingo 30/08/2009, e mais informações:
 

CAMINHADA E SARAU NO DOMINGO 30/08
em apoio às famílias desabrigadas em razão da desocupação
do Olga Benário, no Capão Redondo
 
Saída: 15h da estação Capão Redondo de metrô Linha Lilás
 
18h: Filme para as crianças Sarau: 19h
 
Endereço: Parque do Engenho / Capão Redondo – Da Estrada de Itapecerica, entrar na Av. Rodrigo Sanches (esquina com a padaria nova Fantástica), e descer até o final da avenida - fica ao lado do córrego.
 
Esta atividade cultural está sendo realizada a pedido das famílias.
Por favor, participe e Repasse o convite!
 
Levem poesias, músicas, faixas, alfaias, tambores… COMIDAS E ROUPAS
Vamo fazê barulho!!!
 
(Na segunda-feira, dia 24/08, a PM cumpriu reintegração de posse de um terreno da Viação Campo Limpo, ocupado há dois anos. O terreno estava ocioso há mais de 20 anos. Mesmo alertada da falta de alternativas das familias, a Justiça negou garantir a inserção das famílias em programas habitacionais antes do despejo e expediu o mandato para cumprimento da reintegração de posse. Cerca de 2 mil pessoas ficaram desalojadas.)
 

Defensoria pede informações a CDHU sobre atendimento habitacional para famílias do "Olga Benário"
 
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE/SP), por seu Núcleo de Habitação e Urbanismo, requisitou nesta quarta (26/08) informações da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) sobre o atendimento habitacional emergencial das famílias que moravam no "Acampamento Olga Benário", na zona sul da Capital.
 
Cerca de 2 mil pessoas ficaram desalojadas desde o cumprimento da liminar de reintegração de posse na última segunda (24/08). Conforme documento obtido pela Defensoria, a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB) solicitou, em 18/08, à CDHU a liberação de recursos para atendimento das pessoas desalojadas por meio do Programa Parceria Social (Bolsa Aluguel).
 
O pedido teve como base "tratar-se de famílias com baixo poder aquisitivo sem outra alternativa de moradia e o grande número de crianças no local", sendo que "o não atendimento ocasionaria uma situação social indesejável". Ainda nesta quinta (27/08), a Defensoria apresentará recurso no Tribunal de Justiça contra a decisão da juíza da 6.ª Vara da Fazenda Pública da Capital que negou a liminar para garantir a inserção das famílias em programas habitacionais. A ação civil pública foi proposta pela Defensoria contra a Prefeitura de São Paulo no início de agosto.
 
O terreno, antes de ser habitado pelas famílias, estava desocupado há mais de 20 anos, servindo de depósito de lixo e palco de crimes de estupro. Na ação, o Defensor Público Carlos Henrique Loureiro argumenta que se trata de Zona Especial de Interesse Social 2 (ZEIS 2), de acordo com o Plano Diretor da cidade de São Paulo, o que significa que é um local inutilizado ou subutilizado e que deveria ser destinado a construção de moradia popular para atendimento da função social da propriedade.
 
O pedido, ainda, baseia-se no direito à moradia previsto na Constituição Federal e legislação brasileira. "Ressalte-se que dentre as 800 (oitocentas) famílias, existem cerca de 300 (trezentas) crianças, que inevitavelmente, com o cumprimento da liminar, não terão para onde ir e ficarão alojadas na rua"
 
Entenda o caso
A ação de reintegração de posse foi proposta pela empresa Viação Campo Limpo, que argumenta ser possuidora do imóvel. A liminar para desocupação, no entanto, não foi concedida pelo juiz da 8ª Vara Cível do Fórum de Santo Amaro. A empresa recorreu, sendo a liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Esta ação está sendo acompanhada pela Defensora Pública Carolina Pannain.
 
Mais informações
Renata Tibyriçá - Defensoria Pública Coordenadora de Comunicação
Carolina Lopes
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imprensa@dpesp.sp.gov.br

26 agosto 2009

execução de Justiça em S.Paulo, 24.09.2009

Hoje em São Paulo faz um frio incomum, e chove como um choro contínuo desde o anoitecer. Os moradores da favela Parque do Engenho, no Capão Redondo, acharam inaceitável a oferta de albergamento da Prefeitura, porque iria destruir seus laços de comunidade. A ...Justiça... ordenou a reintegração de posse em favor de uma empresa, que conservava o terreno vazio há muitos anos, até 2007. Hoje. Em São Paulo faz um frio incomum, e chove.
 
http://www.tropis.org/imagext/090824-paulowhitaker-capao19.jpg
 
http://www.tropis.org/imagext/090824-paulowhitaker-capao14.jpg
 
Fotos de Paulo Whitaker. Veja todas as 19 fotos partindo de
http://noticias.uol.com.br/album/090824capao_album.jhtm?abrefoto=1
 

COMENTÁRIOS ADICIONAIS EM 26.09.2009
 
Entre as respostas ao e-mail acima, que divulguei na segunda, desenhou-se o seguinte diálogo:
 
JM: Tenho acompanhado essa cena relativamente de perto, pois a Favela (e o bairro) Parque do Engenho fica num bairro vizinho ao   meu... Realmente, a situação é deplorável, a maioria das pessoas estão acampadas nas calçadas por não terem NENHUM lugar para onde ir, e se não fosse a colaboração de vizinhos com alimentos e a pouca ajuda que se é possível prestar, estariam (mais) perdidos.
 
PP: Mais uma vez dormirei chorando por meus irmãos. Ontem conversei com uma amiga q está sempre por dentro desses assuntos...bem por dentro, até o pescoço, e ela me disse que o povo do movimento sabia do despejo faz tempo, e não prepararam as pessoas envolvidas... Terrível
 
JM: Então... O terrível é: Todo mundo sabia do despejo já faz um tempo, porém as os habitantes da favela não tinham - e ainda não têm - absolutamente nenhum lugar pra ir. Portanto... deu no que deu. O mais terrível é que a prefeitura, estado, enfim: o governo não tomou nenhuma providência em relação a isso; nem antes e nem depois.
 
PP: Como assim não tomou providência??? Isso pra eles é tomar providência...jogar "esse bando de invasor" na rua... É esse tipo de coisa que nosso execrável prefeito chama de providência?... É foda.
 
DIANTE DISSO TENHO A COMENTAR:
• Trata-se de uma execução de ordem judicial, não (pelo menos na superfície) de uma iniciativa do Kassab nem do Serra. Não estou dizendo que é justa... Mas exige uma reflexão mais profunda sobre nossas instituições do que simplesmente culpar o prefeito ou o governador pela ação. Cabe culpá-los sim pela inação: não terem providenciado alternativas aceitáveis a tempo.
 
• Recebi uma informação de que o terreno da Viação Campo Limpo estaria penhorado por dívidas à Previdência, e que por isso a responsabilidade última da ação caberia à Previdência, isto é, ao Governo Federal. Vindo de pessoa ligada à oposição de esquerda, acho que essa versão precisa averiguação antes de ser propalada.

• A Prefeitura dirá que tomou providências sim, assim como a empresa que diz que ofereceu ônibus para levar os moradores até barracões de abrigo. Leiam os dois seguintes trechos de notícia (mas leiam também meu comentário final antes de me xingar!):
 
Segundo a coordenadora da Frente de Luta por Moradia, Felícia Mendes Dias, a prefeitura ofereceu albergues para os moradores, mas eles não querem essa solução, pois temem que as famílias fiquem divididas. Eles só aceitam ir para albergues se ficarem juntos. Os moradores prometem que irão permanecer no local até que suas reivindicações por moradia sejam atendidas.
 
Segundo Dione, a viação Campo Limpo, dona da área reintegrada, ofereceu transporte para levar os pertences ao um galpão, mas ele recusou por ser distante. (...) O advogado da viação Campo Limpo, Daniel Goes, afirmou que a empresa está oferecendo 14 caminhões para as famílias levarem seus pertences para o local que preferirem, e não apenas para o galpão disponibilizado pela empresa no bairro São Marcos.
"Soluções" de quem nunca sentiu no couro o que é estar na rua, o que é não ter nenhum parente com espaço suficiente em casa para receber, o que é perder todo o contato com o seus, e não ter dinheiro nem pra uma passagem de ônibus, nem pra telefonar pra refazer esse contato (além de que: telefoar pra onde, meu Deus?) - Mais: de quem nunca parou pra se imaginar de fato nessa situação. Porque eu nunca estive de fato nessa situação, mas sou capaz de imaginar a sério.
 
Enfim: me impressionou especialmente a afirmação de que os moradores não aceitaram soluções que fossem dividi-los. Me impressionou porque aí você vê o espírito de COMUNIDADE esperneando bravamente para sobreviver no mundo imposto da SOCIEDADE. Estou contrastando essas duas palavras no sentido sociológico. Quem quiser entender isso um pouco mais, sugiro os 11 primeiros parágrafos do ponto 3.2.1.1 (página 37) do meu livro Pedagogia do Convívio, capítulo que pode ser baixado pelo link http://www.tropis.org/biblioteca/pc03-historias.doc (word), ou http://www.tropis.org/biblioteca/pc03-historias.pdf pra quem preferir em PDF (mais pesado pra máquinas lentas). Claro que sou suspeito pra dizer, mas acho que vale a pena, eu se fosse vocês leria - rsrs.
 
Onde eu quero chegar: o que a Sociedade quer é que a gente realmente não forme vínculos de Comunidade. Ela nos quer, soltos, avulsos, pois assim não temos poder de resistir às suas imposições. Assim somos pecinhas dóceis pra ela manipular a vontade pros seus projetos. Toda a minha Pedagogia e Filosofia do Convívio são um projeto de investir na retomada do projeto Comunidade. Mas honestamente não sei se um dia haverá gente diposta a se arriscar a investir sua vida de fato num projeto prático de realização de utopia. Pequenos gostos pessoais (como o mero gosto de não lavar seu prato na hora que sujou) estão sempre à frente. E assim é que provavelmente continuaremos eternamente vítimas da estrutura "Sociedade".
:-(

Cinismo de quem, mesmo?

Luis Nassif transcreve um dos editoriais da Folha de S.Paulo de hoje, um prodígio de cinismo e inversão dos fatos. Fui conferir na própria Folha. Mal dá pra acreditar. No ato enviei ao "Painel do Leitor" a seguinte mensagem.
 
"Do editorial 'Alvoroço na Receita', na Folha de 26/08:  'O governo (...), cinicamente, assesta sua poderosa máquina de macular reputações contra a ex-secretária.' Misericórdia, senhores! Desse modo esgotam as possibilidade da língua! Se o ato do governo é cínico, que palavra usar para o seu, de lançar contra ele a definição mais pefeita do que os senhores mesmos viraram, 'máquina de macular reputações'?"
 
Nem é impossível que publiquem, pra fazer média de que "continuam imparciais"... Seja como for, melhor soltar por outros meios também. Como aqui.  Quanto ao editorial em si (indispensável para entender o que respondi), pode ser lido em http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/26/recolocando-a-critica/
.

23 agosto 2009

A NOBRE FAMÍLIA LEÃO E AS HIENAS (resposta à Fábula da Galinha Vermelha e a O Rei Leão em sua versão Disney-ideológica)

.
(VERSÃO 2)
Tenho recebido e-mails mil com uma certa Fábula da Galinha Vermelha, enviada - que coincidência! - Brasil e da Venezuela. Reconta a velha história da galinha que se empenhou em fazer pães, ninguém quis ajudar, mas com os pães prontos todo mundo quis comer. Só que nesta versão um agente do governo obriga a galinha a dividir os pães com quem nunca fez nada - e a mensagem é óbvia, né?

A mensagem ainda diz que essa fábula foi popularizada pelo brilhante... Ronald Reagan (!), que teria aumentado a arrecadação reduzindo a carga tributária, e conclui amaldiçoando os seguintes  "animais que não gostam de trabalhar": Sem-Terra, Sem-Teto, Quilombola, Com Bolsa-Escola e Sem Escola, Puxa-sacos, Cotistas, Com indenização de Perseguido Político, Sem Vergonha... [sic]

Sem discordar de que a carga tributária brasileira seja mal distribuída, o fato é que (metáforas grosseiras à parte) eu nunca conheci nenhuma galinha rica. E aí comecei a pensar numa fábula que explicasse melhor a realidade que eu conheço da minha experiência. Acho que talvez pudesse ser A verdadeira história da nobre Família Leão e das hienas ("verdadeira" em contraste com a versão manipulada da Disney, claro). Poderia ser assim:

A NOBRE FAMÍLIA LEÃO E AS HIENAS

O leão até que comia bem com as suas caçadas, mas achava que era pouco em relação ao cansaço que lhe davam. Um dia, enquanto palitava dos dentes a carne de uma gazela com um osso de coelho, lhe veio a idéia: "O que falta é or-ga-ni-za-ção! Precisamos fundar uma Sociedade."

Foi até o outro lado da floresta, onde as hienas viviam em comunidade, e falou que estava na hora de vencer os antigos preconceitos de classe, de fazer um pacto social em benefício de todos. Pra mostrar sua sinceridade distribuiu para elas as sobras da sua última caçada - e propôs que da próxima vez as hienas, que eram muitas, fizessem o trabalho bruto da caçada enquanto ele traçava as estratégias e supervisionava a execução.

A caçada foi um sucesso! O leão ficou contentíssimo, chamou toda a sua família pra comer, e jogou alguns ossos e carcaças para as hienas. Estas ficaram espantadas, mas o leão explicou que, caso se dedicassem fielmente à sua Sociedade, logo haveria de sobra para todos.

E mais: pra garantir o sucesso da sociedade, comunicou que, em toda a floresta, seria perseguido quem insistisse em caçar para si mesmo: todos deveriam caçar para a Sociedade - pois o caminho do Progresso era esse.

Como ninguém discute com família de leão, ficou assim. E qual era a situação alguns anos depois?

As hieninhas jovens estavam cansadas de ver papai e mamãe chegarem em casa arrebentados, e com uma porçãozinha de caça que não dava para todos. As mais boazinhas pensavam: "eu vou crescer e vou mostrar pro meu pai que eu sou capaz de trabalhar muito melhor, vou conquistar uma posição melhor na Sociedade e trazer bastante comida para casa."

Mas outras reparavam que havia uma multidão de hieninhas à espera de vaga na Sociedade, especialmente depois que fizeram uma "reengenharia" para melhorar a eficiência do sistema. Essas começaram a desconfiar que nunca nenhuma hiena iria se dar bem na Sociedade. Ou quando muito uma em cem. E como tinham amor pelos irmãos e irmãs, não queriam ser o 1 que se dá bem às custas de 99.

Começaram a se recusar a ir para a escola onde lhes apregoavam o dia inteiro a importância da Sociedade e do Progresso sem nunca explicarem o porquê de nada. Papai e mamãe não podiam faltar no trabalho, nem tinham tempo e forças pra tentar fazer alguma coisa, então as hieninhas vagavam em bando pela floresta, umas comendo o que encontrassem, outras mendigando, outras atacando qualquer um que passasse descuidado.

Mas... e quanto à família do leão?

Bem, papai leão trabalha mesmo feito um louco na administração da Sociedade. Ele diz que faz isso pra que os filhos não precisem passar pelo que ele passou.

Mamãe leoa se divide entre jantares beneficentes e tardes na Daslu, onde comprou uma coleção de bolsas de couro ma-ra-vi-lho-sas, de tudo que é animal - inclusive de hiena e de leão, vejam só a ousadia! Ah, as manhãs ela passa na terapia da moda - antes foi psicanálise, agora é meditação. Pra ver se dá um jeito numa angústia besta, que ataca sem nenhuma explicação.

A leozinha mais velha foi estudar artes em Nova York. Voltou e fez uma exposição que ninguém achou graça mas foi um baita sucesso de crítica. Afinal, todos donos de jornais são amicíssimos do leão.

Tem uma que estuda administração e pretende substituir o papai no comando. Sua intenção é começar dando fim numa série de concessões inaceitáveis que o velho acabou fazendo às hienas ao longo dos anos.

Um outro se formou em direito mas não sabe bem o que quer fazer. Atualmente passa os dias enviando pela internet a Fábula da Galinha Vermelha. Fora isso, nunca trabalhou, mas assim mesmo ganhou enormes elogios do papai: "É isso mesmo, meu filho! Quem sai aos seus não degenera!"

Ah, já ia esquecendo, tem um outro, só que ninguém fala dele. Quando criança ele começou a fazer amizade com as hieninhas na rua. Como a segurança do prédio não deixava as hieninhas entrarem pra brincar, começou a ir brincar na casa das hieninhas na favela. Incrível, nunca deixaram de dividir com ele a pouca comida que a mamãe e o papai traziam de noite! Começou a achar que a história estava mal contada e foi estudar sociologia.

Ficou louco, coitado. Foi morar na favela e vive num aperto de dar dó. Mas se recusa totalmente a voltar a viver entre os leões. Disse que no último jantar de família teve uma crise de vômito incontrolável. A conversa na mesa versava sobre os absurdos que o governo anda fazendo com suas ações paternalistas pra agradar as hienas, quando é evidente que essa gente vive assim por opção, pois não querem pagar o custo de trabalhar.

E é claro que mamãe leoa que passa as tardes na Daslu, filhinha que faz arte em Nova York, filhinha que estuda na faculdade mais cara e o filhinho que passa os dias na internet postando a Fábula da Galinha Vermelha... só puderam concordar com entusiasmo!

Y... colorín colorado, este cuento se ha terminado.
Floresta-São-Paulo, agosto de 2009
Zé Ralf do C-do-Mundo

21 agosto 2009

Futebol & Homofobia - texto show de bola de um blogueiro de 13 anos

Olhaí, todo mundo sabe que eu não presto muita atenção em futebol - e que nas poucas vezes em que presto (rsrs), confesso que não costuma ser no São Paulo.
 
Mas não tenho como negar que a figura & as agruras do Richarlyson têm me comovido um bocado - e agora um moleque de 13 anos publicou no blog dele um texto que está dando o que falar - tanto que foi transcrito em blog de jornalista profissional (Mauricio Stycer), redistribuído pela diretoria da ABLGT, etc etc...  Pois me junto ao coro e transcrevo também aqui, diretamente do blog do Joaquim Lo Prete Porciúncula (link abaixo).   --  Zé Ralf

Quinta-feira, 13 de Agosto de 2009

Richarlyson: Mais que um homem, um exemplo
JOAQUIM LO PRETE PORCIÚNCULA
http://jocafuteblog.blogspot.com/2009/08/richarlyson-mais-que-um-homem-um.html

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiA3RbMyiQREjiWfIEatbD8WoTWHv5YMCD3M-c-EMExsETsF1Sq7St73ZA2_Yi_BLcltGiHLabPV7T7rNYIcKNLDOKpbYxjA3W_4C95Juh7XaetC_SjZUNvcUc3RGFAZvQ3n2q7bA/s320/richarlyson(2).JPG Esta é a coluna de ontem, que não pude publicar por motivos a vocês já contados.

Ontem eu estava reclamando com meu pai da escola, dizendo que ela enchia o meu saco, que me sentia deprimindo com a "má fase" dos últimos tempos. Na lata, antes de desligar o telefone, ele me respondeu: "Tá triste? Pensa no Richarlyson." Em um ato incomum nos últimos tempos, obedeci-o. E senti dificuldades em dormir. Porque fiquei pensando. E por bastante tempo. Confesso que caiu uma lágrima quando eu me lembrei do jogo entre São Paulo x Goiás, no ano passado, quando na comemoração pelo título, ao invés de gritarem o nome de Ricky (como gritaram o de seus 23 companheiros), entoaram um imbecil "Bicha! Bicha!"
 
Imagino como deve ser para ele ver a torcida Independente (depois falo dessas antas) gritando o nome do Sérgio Motta (com todo o respeito) e não o dele. Um cara que deu a vida pelo São Paulo em 2006, 2007 e 2008. Que para mim, mais que Thiago Neves e que Hernanes, foi o melhor jogador do Brasileiro em 2007.
 
O cara é xingado no Domingo, e treina na Segunda. Dando o máximo de si. É o mais simpático possível com os companheiros. Não deixou de me cumprimentar em todas as vezes em que visitei o CCT do São Paulo. Antes de eu ir lhe pedir autógrafo. Mais gente fina impossível. Humilde.
 
Eu não sei se Richarlyson é homossexual. Também não quero saber. Mas sei que ele é um exemplo. Um exemplo para todos que se sentirem mal em momentos difíceis. Pense em como é viver um momento difícil, tendo todos contra você durante mais de três anos seguidos. Sei que, desde os tempos do Aloísio, não vejo um cara tão gente boa no elenco do São Paulo. E olha que tem muita gente boa ali.
 
Não sei se os atos que ele faz são homossexuais. Não quero saber, afinal saber para que? Se eu descobrir que ele é um homo que pega 20 na parada gay, ou que ele é o cara mais macho do mundo, vou continuar tratando ele da mesma forma. Por tudo o que ele passou, pelo que ele passa, e pelo que ele passará.
 
As torcidas brasileiras são, em tese, muito escrotas. A Independente é uma das que passa muito da linha. Conseguem se rebaixar a um nível de imbecilidade e cultural tremendo, em um passe de mágica. Nada de bom sai dela. Músicas sem graça e racistas (quem não se lembra da que tem preconceito contra favelados?), atitudes impensadas (rezo para que, pois, se forem pensadas, aí chegarei a conclusão que eles tem um QI de formiga), preconceitos expostos e tudo que tem de ruim.
 
Eu não sei se ele é gay, mas tenho guardado e enquadrado um trecho de uma entrevista de Muricy Ramalho para a revista Trivela em Dezembro de 2006: "Os caras adoram ele aqui dentro. Ele é alegre pra cacete, está toda hora pronto para tudo, nunca reclama de nada, é sempre um dos primeiros a chegar. É determinado e responsável: faz faculdade à noite, quando tem concentração eu libero ele para ir na aula. Ele sabe muito bem o que quer, por isso saiu desta situação. E ele brigou com coisa feia. Eu sei com o que ele brigou, e foi fodido. A palavra é essa. Foi um puta homem. Por isso é que ele superou essa situação"
 
Concordo com tudo o que Muricy disse. Os imbecis da Independente não têm mente para isso, mas espero que vocês tenham.
 
FORÇA RICHARLYSON! INDEPENDENTE QUE EMENDE! FORÇA RICHARLYSON!
 
 
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sobre o negro torturado no carrefour por entrar na sua prórpia EcoSport / relato detalhado

 
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Sent: Friday, August 21, 2009 12:59 AM
Subject: sobre o negro torturado no carrefour por entrar na sua prórpia EcoSport / relato detalhado

É provável que vcs já tenham lido, mas este relato aqui é o mais detalhado que eu já encontrei . Triste mas precisa ser conhecido.  Prova de que o livro Túlio não só não é exagero, como ainda pega leve com o setor de segurança brasileiro.
 
 

Espancado por "roubar" o próprio carro

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/espancado-por-roubar-o-proprio-carro/
Atualizado e Publicado em 19 de agosto de 2009 às 00:41

da Afropress - 13/8/2009

S. Paulo - Tomado por suspeito de um crime impossível – o roubo do seu próprio carro, um EcoSport da Ford – o funcionário da USP, Januário Alves de Santana, 39 anos, foi submetido a uma sessão de espancamentos com direito a socos, cabeçadas e coronhadas, por cerca de cinco seguranças do Hipermercado Carrefour, numa salinha próxima à entrada da loja da Avenida dos Autonomistas, em Osasco. Enquanto apanhava, a mulher, um filho de cinco anos, a irmã e o cunhado faziam compras.

A direção do Supermercado, questionada pelo Sindicato dos Trabalhadores da USP, afirma que tudo não passou de uma briga entre clientes.

O caso aconteceu na última sexta-feira (07/08) e está registrado no 5º DP de Osasco. O Boletim de Ocorrência - 4590 - assinado pelo delegado de plantão Arlindo Rodrigues Cardoso, porém, não revela tudo o que aconteceu entre as 22h22 de sexta e as 02h34 de sábado, quando Santana – um baiano há 10 anos em S. Paulo e que trabalha como Segurança na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, há oito anos - chegou a Delegacia, depois de ser atendido no Hospital Universitário da USP com o rosto bastante machucado, os dentes quebrados.

Ainda com fortes dores de cabeça e no ouvido e sangrando pelo nariz, ele procurou a Afropress, junto com a mulher – a também funcionária do Museu de Arte Contemporânea da USP, Maria dos Remédios do Nascimento Santana, 41 anos - para falar sobre as cenas de terror e medo que viveu. "Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus".

Santana disse pode reconhecer os agressores e também pelo menos um dos policiais militares que atendeu a ocorrência – um PM de sobrenome Pina. "Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa, que não tem problema", teria comentado Pina, assim que chegou para atender a ocorrência, quando Santana relatou que estava sendo vítima de um mal entendido.

Depois de colocar em dúvida a sua versão de que era o dono do próprio carro, a Polícia o deixou no estacionamento com a família sem prestar socorro, recomendando que, se quisesse, procurasse a Delegacia para prestar queixa.

Terror e medo

"Cheguei, estacionei e, como minha filha de dois anos, dormia no banco de trás, combinei com minha mulher, minha irmã e cunhado, que ficaria enquanto eles faziam compra. Logo em seguida notei movimentação estranha, e vi dois homens saindo depressa, enquanto o alarme de uma moto disparava, e o dono chegava, preocupado. Cheguei a comentar com ele: "acho que queriam levar sua moto". Dito isso, continuei, mas já fora do carro, porque notei movimentação estranha de vários homens, que passaram a rodear, alguns com moto. Achei que eram bandidos que queriam levar a moto de qualquer jeito e passei a prestar a atenção", relata.

À certa altura, um desses homens – que depois viria a identificar como segurança – se aproximou e sacou a arma. Foi o instinto e o treinamento de segurança, acrescenta, que o fez se proteger atrás de uma pilastra para não ser atingido e, em seguida, sair correndo em zigue-zague, já dentro do supermercado. "Eu não sabia, se era Polícia ou um bandido querendo me acertar", contou.

Os dois entraram em luta corporal, enquanto as pessoas assustadas buscavam a saída. "Na minha mente, falei: meu Deus. Vou morrer agora. Eu vi essa cena várias vezes. E pedia a Deus que ele gritasse Polícia ou dissesse é um assalto. Ele não desistia de me perseguir. Nós caímos no chão, ele com um revólver cano longo. Meu medo era perder a mão dele e ele me acertar.

Enquanto isso, a mulher, a irmã, Luzia, o cunhado José Carlos, e o filho Samuel de cinco anos, faziam compras sem nada saber. "Diziam que era uma assalto", acrescenta Maria dos Remédios.

Segundo Januário, enquanto estava caído, tentando evitar que o homem ficasse em condições de acertar sua cabeça, viu que pessoas se aproximavam. "Eu podia ver os pés de várias pessoas enquanto estava no chão. É a segurança do Carrefour, alguém gritou. Eu falei: Graças a Deus, estou salvo. Tô em casa, graças a Deus. Foi então que um pisou na minha cabeça, e já foi me batendo com um soco. Eu dizia: houve um mal entendido. Eu também sou segurança. Disseram: vamos ali no quartinho prá esclarecer. Pegaram um rádio de comunicação e deram com força na minha cabeça. Assim que entrei um deles falou: estava roubando o EcoSport e puxando moto, né? Começou aí a sessão de tortura, com cabeçadas, coronhadas e testadas", continuou.

Sessão de torturas

"A sessão de torturas demorou de 15 a 20 minutos. Eu pensava que eles iam me matar. Eu só dizia: Meu Deus, Jesus. Sangrava muito. Toda vez que falava "Meu Deus", ouvia de um deles. Cala a boca seu neguinho. Se não calar a boca eu vou te quebrar todo. Eles iam me matar de porrada", conta.

Santana disse que eram cerca de cinco homens que se revezavam na sessão de pancadaria. "Teve um dos murros que a prótese ficou em pedaços. Eu tentava conversar. Minha criança está no carro. Minha esposa está fazendo compras, não adiantava, porque eles continuaram batendo. Não desmaiei, mas deu tontura várias vezes. Eu queria sentar, mas eles não deixavam e não paravam de bater de todo jeito".

A certa altura Januário disse ter ouvido alguém anunciar: a Polícia chegou, sendo informada de que o caso era de um negro que tentava roubar um EcoSport. "Eles disseram que eu estava roubando o meu carro. E eu dizia: o carro é meu. Deram risada."

A Polícia e o suspeito padrão

A chegada da viatura com três policiais fez cessar os espancamentos, porém, não as humilhações. "Você tem cara de que tem pelo menos três passagens. Pode falar. Não nega. Confessa que não tem problema", comentou um dos policiais militares, enquanto os seguranças desapareciam.

O policial não deu crédito a informação e fez um teste: "Qual é o primeiro procedimento do segurança?". Tonto, Januário, Santana disse ter respondido: "o primeiro procedimento é proteger a própria vida para poder proteger a vida de terceiros".

Foi depois disso que conseguiu que fosse levado pelos policiais até o carro e encontrou a filha Ester, de dois anos, ainda dormindo e a mulher, a irmã e o filho, atraídos pela confusão e pelos boatos de que a loja estava sendo assaltada. "Acho que pela dor, ele se deitou no chão. Estava muito machucado, isso tudo na frente do meu filho", conta Maria dos Remédios.

Sem socorro

Depois de conferirem a documentação do carro, que está em nome dela, os policiais deixaram o supermercado. "Daqui a pouco vem o PS do Carrefour. Depois se quiserem deem queixa e processem o Carrefour", disse o soldado.

Em choque e sentindo muitas dores, o funcionário da USP conseguiu se levantar e dirigir até o Hospital Universitário onde chegou com cortes profundos na boca e no nariz. "Estou sangrando até hoje. Quando bate frio, dói. Tenho medo de ficar com seqüelas", afirmou.

A mulher disse que o EcoSport, que está sendo pago em 72 parcelas de R$ 789,00, vem sendo fonte de problemas para a família desde que foi comprado há dois anos. "Toda vez que ele sai a Polícia vem atrás de mim. Esse carro é seu? Até no serviço a Polícia já me abordaram. Meu Deus, é porque ele é preto que não pode ter um carro EcoSport?", se pergunta.

Ainda desorientado, Santana disse que tem medo. "Eu estou com vários traumas. Se tem alguém atrás de mim, eu paro. Como se estivesse sendo perseguido. Durante a noite toda a hora acordo com pesadelo. Como é que não fazem com pessoas que fizeram alguma coisa. Acho que eles matam a pessoa batendo", concluiu.

15 agosto 2009

Lembranças do Céu (1)

Quase 3 da manhã conversando na cama -- que outra hora esta cidade devoradora nos deixa para alguma vida pessoal? --, de repente li que esta noite, por volta das 4, seria o auge da chuva de estrelas cadentes conhecidas como Perseidas: uma nuvem de fragmentos que a Terra atravessa todo ano, meras pedrinhas sem brilho que quando finalmente encontram alguém em quem se esfregar pegam fogo e viram luz.
 
Acordado na cama, por que não na varanda? Não, não fiz a cama na varanda, não estou em Minas, aqui faz frio, se der um vento vai me cobrir não é de flor... Blusas, óculos, saio em busca do céu nordeste de que o artigo falava, e dou com uma linda lua minguante. Linda, mas intercalada entre os dois postes com luz de sódio que já ocupam o norte e o leste, ajudou a diminuir as esperanças de ver as tais Perseidas. Ainda mais que também o nordeste é ocupado, e justo por esse outro tipo de estrelas decadentes que são as luzes da Paulista!
 
Ainda assim saí. 3 da manhã, o barulho da Avenida João Dias não diminuiu nem um pouquinho: reboa no céu como em todas as outras 24 horas, só que nas outras eu nunca mais parei pra ouvi-lo. Passos pelas ruas, vozes, músicas em festas -- o de sempre das 3 da manhã de um sábado nesta faixa da periferia paulistana. O que não era de sempre era eu olhando para o céu. Como costumava fazer há anos, tantas vezes com uma lanterna e um mapa celeste nas mãos...
 
As estrelas cantam tão bonito, mas sempre a mesma música, ano após ano, e o ser humano é tão sedento de novidade... Pouco a pouco fui deixando a amizade das estrelas e procurando companhias mais terrestres pras minhas noites -- mas às vezes... que saudade!
 
Reparo no Órion já inteiro acima do horizonte. Há quantos meses ele andava viajando por outras partes do mundo! Começa a voltar para cá, ele com o verão em que ele reinará vigoroso no alto do céu... E com ele Sírius, linda, realmente cintilante, e pro outro lado Aldebarã.
 
Aldebarã!! "Iremos a Aldebarã / enfrentado as aspas do Touro...", escreveu Helena Kolody, poeta maior da minha terra... (CONTINUO DE DIA, QUE O GÁS ACABOU BEM ANTES DA COMIDA ESTAR NO PONTO!!)
 
 
 
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10 agosto 2009

mais de Martin Carnoy sobre o ensino brasileiro (e o cubano)

Desculpem não ter incluído esta entrevista no primeiro envio. Só a encontrei depois. Pra quem quiser, os dois ficarão no meu blog (o 1.º no link http://pluralf.blogspot.com/2009/08/superioridade-do-ensino-cubano-frente.html )
 
Da maior importância a destacar nesta entrevista: em Cuba os alunos têm o mesmo professor por pelo menos quatro anos - o que se aproxima da proposta Waldorf. Para mim é uma baita surpresa!  (Ralf)
 

 
ENTREVISTA DE 2ª
MARTIN CARNOY


"Professores brasileiros precisam aprender a ensinar"

Para economista, é preciso supervisionar o que ocorre na sala de aula no Brasil; problema também afeta escola particular

Letícia Moreira/Folha Imagem
Martin Carnoy durante entrevista e, São Paulo sobre estudo em que compara os sistemas de educação do Brasil, Chile e Cuba

MARIA CRISTINA FRIAS
ROBERTA BENCINI
DA REPORTAGEM LOCAL

"POR QUE alunos cubanos vão tão melhor na escola do que brasileiros e chilenos, apesar da baixa renda per capita em Cuba?" A pergunta norteou estudo do economista Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, que filmou e mensurou diferenças entre atividades escolares nos três países. No Brasil, o professor encontrou despreparo para ensinar e atividades feitas pelos alunos sem controle. "Quase não há supervisão do que ocorre em classe no Brasil."
Para ele, o problema também atinge a rede particular. "Pais de escolas de elite pensam que estão dando ótima instrução aos filhos, mas fariam melhor se os colocassem em uma escola pública de classe média do Canadá." Carnoy sugere filmar o desempenho dos professores. "Não basta saber a matéria. É preciso saber como ensiná-la." Ele esteve no Brasil na semana passada para lançar o livro "A Vantagem Acadêmica de Cuba", patrocinado pela Fundação Lemann.

FOLHA - O que mais chamou a sua atenção nas aulas no Brasil?
MARTIN CARNOY
- Professoras contratadas por indicação do secretário de Educação do município, que dirigem a escola e vão lá de vez em quando; 60% das crianças repetem o ano, e professoras pensam que isso é natural porque acham que as crianças simplesmente não conseguem aprender. Fiquei impressionado, o livro [didático usado na sala de aula] era difícil de ler. Precisaria ter alguém muito bom para ensinar aquelas crianças com ele. Ficaria surpreso se qualquer criança conseguisse passar [de ano]. Vi escolas na Bahia, em Mato Grosso do Sul, em São Paulo, no Rio... [entre outros].

FOLHA - Qual a metodologia do estudo?
CARNOY
- Como economista, usei dados macro para explicar as diferenças entre os países nos testes de matemática e linguagem. Fizemos análises com visitas a escolas e filmamos classes de matemática e analisamos as diferenças entre as atividades em classe. Há uma grande diferença, pais cubanos têm renda baixa, mas são altamente educados, em comparação com os do Brasil. O estudo foi finalizado em 2003 e depois comparamos Costa Rica e Panamá. Na Costa Rica, há coisas engenhosas, aulas com duas horas, em que se pode realmente ensinar algo. Supervisionar a resolução de problemas de matemática e, principalmente, discutir resultados e erros. Os alunos cubanos têm aulas acadêmicas das 8h às 12h30. Depois, almoço. Voltam às 14h e ficam até as 16h30, quando têm uma sessão de TV por 40 minutos. A seguir, artes e esportes, mas com o mesmo professor.

FOLHA - Ter o mesmo professor durante quatro anos (como os cubanos) é uma vantagem?
CARNOY
- Quatro anos, pelo menos. Mas os alunos não mudam de um ano para outro. No Brasil, se alunos e professores mudam muito de escola, como fazer isso? Se a ideia é tão boa, se funciona, deveríamos fazer algo para que pelo menos professores não mudassem tanto.

FOLHA - Qual a sua avaliação sobre a proposta da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo que vincula o aumento de salário à permanência do professor na mesma escola e à aprovação em testes?
CARNOY
- Sugeri ao secretário Paulo Renato que acrescentasse um teste: filmar o professor, como no Chile. Professores de outra escola avaliam os videoteipes. Professores podem ser bons nos testes, mas péssimos para ensinar. Se você tiver um professor experiente que foi bem ensinado a ensinar e teve um bom desempenho com os alunos, a diferença é visível em relação a uma pessoa sem experiência, como eu. Profissionais que viram as fitas disseram que há grande diferença entre o professor cubano e o brasileiro.

FOLHA - A Secretaria da Educação pretende oferecer curso de treinamento de professores de quatro meses. Em Cuba, dura 18 meses, para o nível médio. O que é importante num treinamento?
CARNOY
- [Em Cuba] São oito meses para a escola fundamental. Mas são para os professores que não foram à faculdade. Você deve se lembrar que houve escassez de professores, com o incremento do turismo, que atrai pelo pagamento em dólares. Tiveram de produzir muitos professores, muito rapidamente. Então, pegaram os melhores estudantes do ensino médio e lhes ofereceram cinco anos de universidade nos finais de semana. O que é importante nesses cursos de treinamento é ensinar como dar o currículo, como ensinar matemática. O Estado deve estabelecer padrões claros, como na Califórnia. Isso é o que tem de ser ensinado em matemática no terceiro ano. No Chile, há um currículo nacional, mas não ensinam aos estudantes de pedagogia como ensinar o currículo.

FOLHA - O sr. dá muita importância ao diretor...
CARNOY
- E também à supervisora, que em muitas escolas no Brasil não fazem nada, não entram em sala. Em Cuba, diretores e vice-diretores ou supervisoras assistem às aulas. Nos primeiros três anos de serviços de um professor, eles entram muito, ao menos duas vezes por semana. São tutores que asseguraram que a instrução siga o método e o nível requeridos pelos padrões estabelecidos.

FOLHA - Os bônus a professores, como ocorre no Estado de São Paulo, são um bom caminho?
CARNOY
- Não há boas evidências de que esse sistema de estímulo funciona. O modelo usado em São Paulo, em que todos os professores ganham mais dinheiro se a escola atingir a meta, pode funcionar. Tentaram isso na Carolina do Sul, no final dos anos 80. Foi um grande sucesso por poucos anos e, depois, deixou de sê-lo porque não houve mais melhora. Eles só atingiram um certo limite e não conseguiram mais progredir. Há o efeito inicial do esforço e depois, quando as pessoas têm que saber melhor como aprimorar o desempenho dos alunos, nada acontece. E não existe mais na Carolina do Sul. O que tem sido feito, em geral, nos EUA não é bônus, mas punição. Se a escola fracassa em atingir a sua meta em três anos, como na Flórida, os estudantes podem receber vouchers e frequentar escolas particulares, em vez de públicas. A forma como estão fazendo em São Paulo não é a melhor. Eles medem neste ano como a segunda série aprende e, no próximo, quanto a segunda série aprende. Mas não os mesmos alunos. Escolas pequenas têm mais chance de receber bônus do que grandes. Se a escola cai, não há punição. Só não recebe bônus. Não estou defendendo punição, só digo que eles [bônus] são mal mensurados. Você pode fazer como em São Paulo, mas não dar bônus todo ano, e sim a cada dois anos. E aí poderá ver o que se ganhou com os alunos que se mantiveram na escola e ter as médias, mas com as mesmas crianças através das séries. O problema da falta de professores é mais grave porque é sobretudo um absenteísmo autorizado, não é ilegal. Em Cuba, professores e alunos faltam pouco. É tudo controlado.

FOLHA - Melhorar o ensino público provocaria uma avanço na educação como um todo, inclusive nas escolas particulares?
CARNOY
- Pais de escolas de elite pensam que estão dando ótima instrução aos filhos, mas fariam melhor se os colocassem em uma escola pública de classe média do Canadá. Mesmo os melhores docentes brasileiros são menos treinados do que os de Taiwan. Os melhores professores no Brasil têm em média desempenho abaixo da média do professorado de países desenvolvidos. Investir e melhorar a escola pública, que é a base de comparação dos pais, elevaria o resultado das melhores escolas particulares também. Professores são bons em pedagogia, mas não no conhecimento a ser ensinado. Não treinam muito matemática e não sabem como ensiná-la.

FOLHA - O que do modelo cubano não pode ser transposto considerando que Cuba vive sob ditadura?
CARNOY
- Há, de fato, uma falta de criatividade [no ensino]. Não se pode questionar, ser contra a Revolução. Mas as crianças sabem que estão aprendendo o esperado. São bons em matemática, sabem ler bem e aprendem muita ciência, mesmo nas escolas rurais ou de bairros urbanos de baixa renda. O Brasil tem a capacidade de enfrentar esses problemas [ter crianças bem nutridas, com bom atendimento médico]. Por que em uma sociedade com uma renda per capita que não é tão baixa não se faz isso? Acho que tem de ser construído um sistema de supervisão, com pessoas capazes de ensinar e treinar novos professores a ensinar. Os professores no Brasil estudam muito linhas de pedagogia e menos como ensinar. Podem esquecer tudo aquilo de Paulo Freire, um amigo. Devem ler sua obra como exercício intelectual, mas queremos que professores saibam ensinar.

FOLHA - Não é possível conciliar na América Latina bom ensino com autonomia, democracia?
CARNOY
- A melhor escola é a que tem professores com democracia. Mas temos de ter um acordo de quais são os nossos objetivos. Tony Alvarado é um supervisor em Manhatan que trocou metade dos professores e dos diretores para melhorar a qualidade das escolas. Ele disse aos professores: "Este é o programa. Vão implementá-lo comigo ou não? Têm uma semana para pensar. Se não quiserem, são livres para sair".

FOLHA - No Brasil seria mais difícil...
CARNOY
- Seria muito mais fácil! Um quarto do professorado muda de escola todo ano! Em Nova York, não se demitiu. Alvarado mandou-os para outros bairros. Precisa, no início, de um certo autoritarismo. Porque alguém tem de dizer o que fazer no início. E depois, sim, há uma democracia. Os diretores devem se preocupar com os direitos das crianças. Em Cuba, é o Estado. Aqui, os sindicatos de professores preocupam-se com os direitos dos associados - e estão em certos em fazê-lo. Mas e as pobres crianças que não têm sindicatos para defender seus direitos à educação?

Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1008200914.htm
Também disponível no blog do Luis Nassif:
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/10/os-bonus-da-educacao-x-o-modelo-cubano/

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SUPERIORIDADE DO ENSINO CUBANO FRENTE AO BRASILEIRO: pesquisador estadunidense aponta

O título da matéria que compartilho abaixo não corresponde suficientemente bem ao seu conteúdo. A chamada na página inicial do UOL corresponde melhor. É cruel, mas de modo nenhum injusta: "Professores do Brasil não sabem ensinar, diz pesquisador dos EUA". Esse é o fato, ponto.
 
Difícil não pensar que a palestra dele na Faculdade de Educação da USP tenha causado mal-estar, pois essa instituição é uma das maiores responsáveis pelo estado de coisas apontado.
 
Como? Por quê?
 
Porque [FORMA] a FE-USP tem enorme influência sobre a educação no país inteiro, quer por sua influência no/sobre o Conselho Nacional de Educação e outros órgãos oficiais, quer "meramente" pelo seu exemplo, que atua com força redobrada pelo prestígio do seu nome. E porque usa essa influência para "vender" [CONTEÚDO] seus cursos de formação de pesquisadores em educação como modelo de cursos de formação de professores – o que seus cursos (Pedagogia e Licenciaturas) definitivamente não são.
 
Bom, deixo vocês com o Prof. Carnoy. Seu trabalho aponta diversos fatores, todos eles dignos de atenção.
(Zé Ralf)
 

10/08/2009 - 09h38

Alunos cubanos são melhores que os brasileiros porque seus professores sabem mais, diz pesquisador dos EUA

Simone Harnik
Em São Paulo
 
Avaliações internacionais revelam que o desempenho de estudantes cubanos em matemática e linguagem é bastante superior ao dos brasileiros. E, segundo o pesquisador da Universidade de Stanford Martin Carnoy, há uma razão para essa performance diferenciada na ilha de Fidel: lá a qualificação dos docentes é melhor e o envolvimento, maior.

"A causa principal [para Cuba se destacar nas provas] é que os professores têm mais domínio da disciplina e têm uma clara ideia de como ensiná-la", afirmou o pesquisador ao UOL Educação.

Carnoy estudou as diferenças nos sistemas de ensino do Brasil, de Cuba, e do Chile. Os resultados foram sintetizados no livro "A vantagem acadêmica de Cuba", publicado no Brasil pela Ediouro em parceria com a Fundação Lemann. Durante a última semana, o acadêmico ministrou palestras divulgando o trabalho no país.

Simone Harnik/UOL http://ed.i.uol.com.br/ultnot/mcarnoy_sh.jpg
O pesquisador norte-americano Martin Carnoy, em palestra da Fundação Lemann, na Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo), na última quarta-feira (5)

A boa formação do magistério em Cuba é traduzida em alta cobrança aos estudantes - e isso cria um círculo virtuoso, já que os melhores alunos acabam se tornando professores no futuro. "Tudo isso acontece, porque o sistema apoia o professor, ensinando-o a lecionar", diz.

Segundo o norte-americano, no Brasil, a maior parte dos docentes não é formada nas melhores universidades - que, por sua vez, pouco abordam a didática das disciplinas. "Os professores brasileiros não são ensinados a ensinar o currículo. Eles estudam teorias e têm de aprender a lecionar na prática, o que não é um bom método", avalia.

Diretores envolvidos

Além disso, a função do diretor da instituição de ensino em Cuba, afirma o pesquisador, é bem definida: "Ele é responsável pelo nível de instrução de cada estudante. Os diretores sabem exatamente o que cada aluno está aprendendo, sabem o que acontece na escola e com a família". "No Brasil, este papel não é claro. Raramente os diretores visitam as salas de aula", acrescenta.

E o trabalho desse gestor na ilha é beneficiado pelo rigor de um conteúdo programático centralizado. "Em Cuba, não há diversidade no currículo. Em qualquer lugar do país, os estudantes devem aprender a mesma matéria ao mesmo tempo. Isso não acontece no Brasil, há muita diversidade nos currículos", opina.

A abertura no currículo e a falta de rigor sobre o que deve ser ensinado tornam-se mais preocupantes, associados ao fato de que os alunos brasileiros são dispersos e menos solicitados a realizarem exercícios individuais ou coletivos durante as aulas - eles passam pouco tempo em cada tarefa. Em seu estudo de campo, Carnoy verificou isso filmando aulas de matemática nos dois países.

"Os estudantes cubanos recebem uma folha para resolverem problemas. Depois do trabalho, eles discutem de verdade os erros. No Brasil, ainda há professores que passam a matéria na lousa. Os alunos são chamados para resolverem no quadro-negro e, se erram, os professores apagam e não debatem", relata. "É possível mudar essa situação, o que vai exigir muito esforço e vontade política."

Contexto social

O contexto social, de acordo com Carnoy, é outro fator relevante na análise das notas. "Cuba é uma sociedade centralizada e há grande ênfase na educação. O Estado garante que as crianças recebam uma boa educação e saúde", aponta.

O cuidado com a saúde cubano leva ainda a uma nutrição mais vigorosa do corpo discente. Além disso, diz Carnoy, em Cuba praticamente não existe trabalho infantil e violência escolar. As crianças estudam em um ambiente mais seguro e menos desigual que o brasileiro.

"O contexto social em Cuba é muito melhor para as crianças com baixa renda. No Brasil, 40% dos pobres ou muito pobres vivem em condições muito difíceis para aprenderem", diz.

Mas, não, Carnoy não apoia o regime político fechado e autoritário da ilha. "Valorizo a liberdade, e esta é uma questão a se pensar. Vivo em uma sociedade que é muito desigual - 25% das crianças norte-americanas vivem na pobreza e não têm liberdades. Já, em Cuba, os adultos têm poucas liberdades, mas as crianças têm o direito de crescerem saudáveis", relativiza.
 
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05 agosto 2009

MÉDICOS FORA DA REALIDADE (nenês & água)

Não tenho dúvidas de que as intenções são as melhores - mas acontece que incontáveis vezes as recomentdações que recebemos de médicos estão simplesmente fora da realidade - inclusive, como neste caso, dos médicos que atuam no sentido da visão sistêmica, retorno ao natural etc e tal.
 
Está aí gritante, nas manchetes (reproduzido abaixo), a informação de que além do seu leite as mães não devem oferecer nem água às crianças menores de 6 meses. Mas... senhores médicos e técnicos do Ministério, ao divulgar essa informação assim, sem ressalvas de contextualização, os senhores podem estar pura e simplesmente MATANDO crianças.
 
Como minha neta, que estaria morta nesse momento, e não nos seus vigorosos 8 anos, se a sua avó materna quase-índia não houvesse gritado para minha nora parar de seguir a orientação dos médicos.
 
No calor de fevereiro de Maceió essa avó encontrou uma neta quase desfalecida, totalmente sem pressão e sem tônus, e seu olhar experiente perguntou à filha de primeiro parto: "mas você não está dando água?"  "- Não, no hospital disseram que não é pra dar".
 
Minha neta estaria morta agora com vossa recomendação, senhores tecnocratas. Tem realmente muita coisa que o povo não sabe quanto ao trato com filhos, e deveria receber cursos quanto a isso - principalmente quanto à área psicológica. Mas se o povo não soubesse a hora que precisa dar água, a humanidade teria se extinguido há muito tempo.
 
A cada poucos anos as recomendações da "ciência" mudam. No começo do século XX masturbação era um vício mortal, hoje é um hábito higiênico recomendável para prevenir câncer de próstata... Mas é claro que os homens já se masturbavam dezenas de milhares de anos antes dessa recomendação, e não deixaram de fazê-lo enquanto a "ciência" disse que era errado. Apenas tiveram um acréscimo de sofrimentos psicológicos que nunca precisariam ter tido.
 
Por essas e outras, sempre que o saber tradicional e a ciência divergem, seria bom que a ciência testasse suas próprias idéias pelo menos mil vezes antes de se meter a intervir nos modos tradicionais!
 

05/08/2009 - 15h33

Mais de metade das mães oferece água ao bebê antes do sexto mês de vida

Do UOL Ciência e Saúde - Em São Paulo
 
Mais da metade (60,4%) das famílias brasileiras oferece água ao bebê antes do sexto mês de vida, período em que o recomendável é oferecer apenas o leite materno. O resultado faz parte de uma pesquisa do Ministério da Saúde, que revela a introdução precoce de outros alimentos também nesse período.

Depois da água, os alimentos oferecido ao bebê com maior frequência são outros tipos de leite (48,8%), sucos (37%) e chás (16.5%).

Além dessas bebidas, foi constatada a ingestão de alimentos não saudáveis por crianças de até 12 meses, como bolachas e/ou salgadinhos (71,7%), refrigerantes (11,6%) e café (8,7%).

O levantamento foi feito em 27 capitais e em outros 239 municípios, o que somou informações de aproximadamente 118 mil crianças.

Cerca de um quarto das crianças com 3 a 6 meses de idade já consumiam comida salgada (21%) e frutas em pedaço ou amassadas (24,4%). A Região Sudeste foi a que apresentou maior percentual de crianças alimentadas com comida salgada entre 3 e 6 meses de idade (28,9%), superando em mais de três vezes a Região Norte (8,9%). A Região Sudeste também foi a que mais as crianças recebem frutas precocemente, entre 3 e 6 meses (28,3%). A região Norte apresentou o menor índice (17,5%).

Em contrapartida, cerca 27% das crianças entre 6 e 9 meses, período no qual se recomenda a introdução de alimentos sólidos e semissólidos na dieta da criança, não recebiam comida salgada.

A recomendação do Ministério da Saúde é que o bebê deve se alimentar exclusivamente de leite materno até seis meses de idade. Não há necessidade nem de ingestão de água. Após essa idade, ao introduzir água, por exemplo, deve ser dada em copo e não em mamadeira. Pois tanto a chupeta e a mamadeira acostumam o bebê a sugar de maneira diferente, o que influencia na sucção do leite.

Os dados fazem parte da II Pesquisa de Prevalência do Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e DF (PPAM), divulgada durante a Semana Mundial de Amamentação. O estudo está sendo lançado em função do lançamento da nova edição da Campanha de Aleitamento Materno, durante a 18ª Semana Mundial da Amamentação (SMAM), de 1º a 7 de agosto.
 
Obs.: não leia o texto citado acima sem ler o meu próprio texto a respeito, ainda mais acima!
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Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
http://ralf.r.tropis.org • (11) 8552-4506

03 agosto 2009

fw: excelente conjunto de informações & reflexões sobre a gripe

Sobre a "gripe ex-suína", recebi estes excelentes esclarecimentos do Dr Angelmar Roman, médico curitibano seriíssimo, com formação em medicina antroposófica + pós-graduações em Saúde Pública etc. Abraços .... Ralf
----- Original Message -----
Sent: Sunday, August 02, 2009 1:39 PM
Subject: Res: Joseli - uma dúvida

Joseli,

Essa gripe tem algumas novidades de fato.
Mas o que está constatado ATÉ O MOMENTO, é que tem a mesma (ou menos) letalidade que a Influenza sazonal (gripe comum do inverno).

A novidade é a caracterização dos grupos de risco para doença grave. Nas outras influenzas eram os bebês e os idosos, pobres geralmente. Curiosamente, a Influenza A está causando doença grave em alguns jovens (qual especificidade desses jovens?). Por enquanto, o grupo que pareceu certamente mais susceptível, são as gestantes. Os idosos parecem que estão protegidos. As crianças fazem um febrão alto mas depois resolvem bem.

O que dá pra refletir?

O site da organização mundial da saúde (www.who.int) expõe o desafio do momento: qual o grupo de risco para doença grave?  Mas a pregação de hecatombe não tem, até o momento, suporte nas evidências. O número de morte de pessoas contaminadas é igual (ou menor) que a gripe comum. As medidas para evitar o contágio podem reduzir, mas parece que é uma virose MAIS CONTAGIOSA que a influenza sazonal. Ou seja, é muito provável que ela já esteja disseminada.

Como medidas preventivas, o de sempre: atividade física ao ar livre, bem protegida do frio. Ingerir verdura de folha, rabanete (sem arrotar em público, depois), manter as extremidades quentes. Evitar alimentos muito concentrados em lacticínios, farináceos e açúcar. Ambientes fechados, só com aqueles que a gente tem afinidades.

Como OPINIÃO (especulação, sem amparo científico, portanto), reflito que este surto tem variáveis influenciadas por vetores de toda a ordem. Tentando delimitar alguns desses vetores, trago algumas idéias.

Primeiro, obviamente inevitável, é o vetor econômico: a Roche, produtora do Tamiflu teve suas ações dramaticamente valorizadas. Vale a pena comentar que o governo brasileiro havia comprado o direito de patente em 2006, num momento em que não valia muito - golpe da sorte -  e está produzindo mais de um milhão de unidades/semana. [Destaque do Ralf: por que a imprensa que tenta caracterizar o governo como irresponsável não conta isso?]

Segundo: vamos medicar todo mundo? Problemas: se usarmos indiscriminadamente o Tamiflu (que só funciona se for administrado nas primeiras 48 hs) o virus facilmente fará uma mutação induzindo resistência. Daí, ba-bau: ano que vem o tsunami é inevitável. A OMS está indicando prudência e ponderação com o Tamiflu. Se errar na mão, ficamos na mão e construímos um GRANDE problema para os próximos dois anos.

Terceiro: os fanáticos religiosos, todos sabemos, estão esperando o Apocalipse ha muito. Citam capítulo e versículo que descreve a pandemia, com detalhes. É o castigo dos deuses por uma inédita má conduta moral. Pelo jeito, antes, a humanidade era extremamente justa, santa e moral, com toda sua escravidão, monarquia e o escambau.

Quarto : é o desejo de alguns de nós, participar como protagonistas de algum evento inesquecível, como o final dos tempos prometidos, não pela Bíblia, mas por Hollywood. Seja com ETs invadindo a Terra, seja por congelamento do Mundo, ou por uma bomba atômica que algum terrorista decide explodir. Só que, no final desses inúmeros filmes, os maravilhosos americanos, com seus heróicos, justos e equilibrados presidentes, sempre salvam a Terra ou inté  o Universo (quando o produtor descuidadamente bebe muito e exagera na mão). Desta vez, me pergunto, quem nos salvará, se o Império do Norte é o país que tem o maior número de infectados no mundo, um sistema de saúde pública desorganizado e nenhuma tecnologia a respeito, para nos vender.

Quinto (mas não o último, já que cada um de nós percebe mais um vetor): A Influenza sazonal mata, como já disse, e vai continuar matando os mais frágeis: bebês, idosos, geralmente pobres. Estes últimos morrem às pencas (uma criança a cada 10 minutos, no Brasil, ainda morre por falta de condições minimamente humanas). Nós nunca nos demos conta disso. Por exemplo, morrem cerca de 15 motoboys por dia (não motoqueiros: motoboy, mesmo: trabalhador). Mas eu não sou motoboy. Não sou pobre e nunca liguei pra isso. Mas agora, traiçoeiramente, descobri que eu ou meus filhos podem ser mortos. Portanto, maledeto Ministério da Saúde. Maledeta OMS.

Finalmente, se você aguentou até aqui: tem a polêmica sobre os modelos como se interpretam saúde e doença. Os profissionais dos hospitais, quase como regra, crêem, professam e praticam o, assim chamado, modelo biomédico. Esse  modelo reduz a complexidade do cotidiano de saúde/doença a determinantes claros e simples, com fluxos de causa e efeito tomados emprestados das ciências naturais (leia-se Fisica e Matemática) e da Biologia de laboratórios.  As doenças tem unicausalidade. A certeza científica é o chão. Este modelo está cada vez mais em descrédito. Não consegue responder às questões atuais sobre saúde/doença.

Os profissionais que atuam na Saúde Pública, geralmente pautam-se pela Epidemiologia e tem como base de suas deduções, as ciências biológicas, num encontro com as outras ciências, principalmente as Sociais. Com isso, elaboram seus julgamentos e atuam baseados no modelo da Integralidade. Os agravos, - na realidade, os sofrimentos da população (ja que o termo "doenças" é evitado) - dependem de múltiplos determinantes. Saúde/doença são determinados socialmente. A incerteza é o solo em que devemos proceder as análises. É um modelo explicativo em ascensão, adotado pela pesquisa em saúde nos últimos 10 a 20 anos.

Pois bem: num surto pandêmico como este, os adeptos do velho modelo determinista entram em euforia: "eu falei que as doenças são causadas por germes. Essa pandemia vem pra provar que o modelo da integralidade é uma bobagem. Tudo depende de virus e bactérias".
Como a Organização Mundial da Saúde, obviamente é uma das grandes divulgadore
s do modelo da integralidade, está sendo acusada de omitir informações. Porque, segundo os médicos de UTI - que estão cuidando dos infelizes pacientes que fizeram a doença grave - deve haver explicação certa, unicausal, matemática, lógica de tudo isso. E se a OMS não explica é porque não quer.

Acho isso.Por enquanto.

Angel



Caro Angel:
Olá desejo que esteja tudo bem com você e sua família !
Quero , ainda, em tempo, parabenizá-lo pelo Doutorado, fiquei muito feliz por você.
Gostaria também de ouvir ( ler ) de você qual é a verdadeira gravidade da Gripe A e qual a melhor precaução, pois vejo muito sensacionalismo sobre a situação e não tive segurança nas informações da mídia.
Abraços, obrigada, e boa sorte sempre.
 
 
Joseli do Rocio Sartori  | jsartori@positivo.com.br


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