Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

05 novembro 2015

Doutor Gramaticulino, sua esposa... e este que vos fala

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Introduzindo: um pouco tardiamente fico sabendo que ontem (5 de novembro) foi DIA NACIONAL DA LÍNGUA PORTUGUESA, de acordo com a Lei 11.310/2006 - a meu ver um equívoco, por se referir ao nascimento de (ai!) Ruy Barbosa - infelizmente sancionada pelo nosso Lula, mas proposta no Congresso não sei por quem.
 
Ironia, porque na noite de véspera eu estava FALANDO pela primeira vez em público, no meio duma moçada fantástica da Grande VIX que se identifica como Slam Botocudos, um poema de 2011 - feito mesmo com a intenção de ser em voz alta, mas ainda não havia tido essa oportunidade, principalmente pq o poema é, digamos, um tantinho ousado - e ataca frontalmente a visão de que esse academicismo tradicional à la Ruy Barbosa devesse ser reconhecido como referência para a nossa língua.

Já havia saído aqui no blog em maio de 2011, mas em des-homenagem a esse dia equivocado vai mais uma vez, com ligeiras revisões.

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DOUTOR GRAMATICULINO, SUA ESPOSA...
E ESTE QUE VOS FALA

Ralf Rickli - Curitiba, 18.05.2011
Revisto e re-publcado em Vitória, 05.11.2015,
nono "Dia Nacional da Língua Portuguesa"


Não é querendo lhe ofender,
Dr. Gramaticulino Normoso,
mas essa senhora,
que lhe acompanha em terninhos discretos
nas cerimônias soníferas
a que o senhor a arrasta com suas gravatas francesas...

... essa senhora, da qual nunca extrais
mais que uns inexpressivos aiais,
eu bem que conheço ela
um tantinho outra,
nas madrugadas.

Sim, pois quando a gente se tromba
pelos butecos e becos, e se encoxa
no elevador pras estrelas
de um quartinho apertado...
ah, como ela se contorce
sob os meus dedos, minha língua,
que num minuto inventam dez regras
para abolir no instante seguinte
trocadas por outras dez
– tampouco feitas pra durar
mais que até a próxima explosão
de prazer

E como uiva delícias,
sua senhora Dona Língua Portuguesa
nessas noites em que nos entredevoramos
com tesão
– e amor!
Ah, eu confesso:
até tenho dó
do senhor, que nem desconfia
do que essa mulher é capaz!

Coitado... se soubesse mexer as cadeiras
para além desse um-dois, um-dois
que o pau do jesuíta
e o do general
lhe ensinaram...
Mas faz cem anos que o convidam pra folia,
e o senhor, nada de relaxar!

Pois fique, então, com a sua pose...
mas alforrie essa exposa gostosa
– que ao seu lado ela já nem pousa
mas na minha boca
ela goza.
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