EPÍGRAFE
1: “Numa sociedade
racista, não basta não ser racista. É preciso ser antirracista.” ANGELA
DAVIS
EPÍGRAFE
2: “Minha proposta no mês da Consciência Negra é chamar a todos os não negros
que reflitam publicamente sobre a educação racista que receberam. Quando foi
que perceberam que havia um plano diabólico e separatista envolvendo suas
vidas? E o que vão fazer pra limpar a própria barra? É isso mesmo, se
não se pronunciam, é natural que pensemos que todos os brancos são racistas, a
não ser que estes mesmos provem que não. ... É urgente. Quem diz é nossa antiga gente: se posicione pois quem
cala consente.”
ELISA
LUCINDA, em “Convocação à luz dos novos tempos”, em 20/11/2017 em sua página no
Facebook.
De
acordo com os testemunhos históricos não há por que dizer que a Europa fosse “mais
desenvolvida” que a África até o século XV: eram estilos de vida diferentes, em
boa parte condicionados pelas diferenças de clima - e na qualidade de vida da
população comum, dá pra apostar que os africanos estavam melhor.
* * *
Na
costa oriental, ricas cidades portuárias comerciavam já há muito com a Índia,
Indonésia, até a China, antes que os europeus (começando justamente pelos
portugueses) se lançassem por primeira vez à navegação oceânica, em navios bem
mais precários que os do Oriente, porém com um diferencial: por primeira vez navios
levavam canhões.
Foi
como uma invasão alienígena: onde aportavam, os branquinhos esquisitos declaravam
sua posse do local e destruíam a bala de canhão as cidades que não aceitassem
exclusividade comercial com eles, sob suas condições. Em poucas décadas, as milenares
redes comerciais que atravessavam o continente estavam destruídas (a
miserabilização do continente começou aí) e não se encontravam mais mercadorias
africanas pra comprar ou piratear... a não ser... as próprias PESSOAS africanas
e sua força de trabalho.
Mas...
pessoas humanas poderiam ser tratadas como mercadoria? Ora, isso não seria
problema: luminares do pensamento religioso europeu logo “esclareceram” que
pessoas africanas NÃO ERAM humanas: “não tinham alma”.
E à medida em que o pensamento religioso foi cedendo lugar ao científico, não faltaram “cientistas” dispostos a forjar todo tipo de “prova” da não humanidade dos negros - o que chegou ao auge há pouco mais de cem anos, quando livros de divulgação científica, INCLUSIVE ESCOLARES, continham frases assim: “O cérebro de um negro adulto equivale ao de um feto branco de sete meses”; “[Os negros] estão abaixo de certos macacos na escala da evolução”, ou “Todos os estudos [sobre o negro] comprovam sua natureza caracteristicamente símia” - esta última em um panfleto intitulado “PROVAS BÍBLICAS E CIENTÍFICAS DE QUE O NEGRO NÃO É PARTE DA RAÇA HUMANA”. (Fontes? Consultem em Basil Davidson, “Revelando a velha África” - entre muitos outros).
Gênios negros como o jurista e filósofo Anton Amo (sequestrado na África aos 3 anos e criado na Alemanha) e o poeta brasileiro Cruz e Souza foram psicológica e economicamente triturados nessas campanhas, pois NÃO PODIAM ser o que eram: negros portadores de uma consciência humana avançada.
E à medida em que o pensamento religioso foi cedendo lugar ao científico, não faltaram “cientistas” dispostos a forjar todo tipo de “prova” da não humanidade dos negros - o que chegou ao auge há pouco mais de cem anos, quando livros de divulgação científica, INCLUSIVE ESCOLARES, continham frases assim: “O cérebro de um negro adulto equivale ao de um feto branco de sete meses”; “[Os negros] estão abaixo de certos macacos na escala da evolução”, ou “Todos os estudos [sobre o negro] comprovam sua natureza caracteristicamente símia” - esta última em um panfleto intitulado “PROVAS BÍBLICAS E CIENTÍFICAS DE QUE O NEGRO NÃO É PARTE DA RAÇA HUMANA”. (Fontes? Consultem em Basil Davidson, “Revelando a velha África” - entre muitos outros).
Gênios negros como o jurista e filósofo Anton Amo (sequestrado na África aos 3 anos e criado na Alemanha) e o poeta brasileiro Cruz e Souza foram psicológica e economicamente triturados nessas campanhas, pois NÃO PODIAM ser o que eram: negros portadores de uma consciência humana avançada.
E agora,
quando mais e mais negr@s começam a se levantar e dizer: “Não estamos nem aí se
vocês brancos se recusam a admitir (na teoria ou na prática) que nós somos da
mesma espécie que vocês, o fato é que nós TEMOS CONSCIÊNCIA. Consciência, para
começar, da nossa humanitude e do nosso valor. E com total autonomia: vocês
endossarem ou não a nossa humanitude não faz a menor diferença para nós: NÓS
SOMOS. Humanos negros. E não deixaremos de ser.”
... Aí, nesse dia, brancos aparecem bonzinhos dizendo: “o que é isso, gente, a humanidade é uma só, por que esse papo de uma consciência negra diferenciada, isolacionista?” - fazendo de conta que não foram eles, os brancos, que SE isolaram dizendo que só eles eram humanos, só eles eram capazes de consciência. Dá pra aguentar, gente?
... Aí, nesse dia, brancos aparecem bonzinhos dizendo: “o que é isso, gente, a humanidade é uma só, por que esse papo de uma consciência negra diferenciada, isolacionista?” - fazendo de conta que não foram eles, os brancos, que SE isolaram dizendo que só eles eram humanos, só eles eram capazes de consciência. Dá pra aguentar, gente?
Quem
está escrevendo aqui tem entre 1/16 e 1/32 de genética negra em seu corpo, frações
desconhecidas de genética indígena e árabe, e um predomínio de genética
europeia - mas dá pra estranhar que, quando falo, minha consciência acabe
optando por se identificar quase integralmente com o que há de não-branco em
mim?
Isso
é pra não morrer de vergonha, gente. Pois a não ser em caso de ignorância histórica
ou de falta de caráter mesmo, é impossível que a manifestação central da
CONSCIÊNCIA HUMANA num branco tenha outra forma que não a da vergonha.
TENTANDO
SUMARIZAR A QUESTÃO DA CONSCIÊNCIA HUMANA EM PRETO E EM BRANCO: a consciência
humana é uma CAPACIDADE.
De
que conteúdo essa capacidade se preencherá caso se manifeste no contexto de um
corpo negro? Suponho que algo como “O quanto roubaram dos meus - e consequentemente
de mim! Mas isso NÃO impedirá, nem a mim nem aos meus, de realizarmos os
potenciais humanos tão plenamente como qualquer outro humano possa realizar. E
de lutar com todos os recursos que forem necessários para que não nos roubem
mais”.
De
que conteúdo essa capacidade PRECISA se preencher num corpo branco, caso não se
queira continuar no caminho de desenfreada BESTIALIZAÇÃO PREDATÓRIA pelo qual os
brancos enveredaram há alguns séculos? Acho que algo assim: “Estou consciente
de que nós brancos não teríamos chegado à atual posição de vantagem em relação
aos outros povos se não tivesse sido à custa do suor, sangue e lágrimas dos
negros; de outros povos também, mas de modo especial dos negros, pelo volume, duração
e sistematicidade do processo. É dever de consciência lutar com os da minha
própria cor para que essa exploração e suas consequências deixem de existir - e
mais: reconhecer ainda (o lugar de fala!) que se tem coisa que meus
antepassados brancos NÃO me legaram é a condição moral de dizer aos negros como
é que eles devem pensar, falar, viver e lutar”.
Acho que é isso aí. Em nome de minha trisavó Floriana Rosa do Espírito Santo, nascida escrava, em caráter de afirmação - e de meu bisavô Johann Ulrich Rickli, missionário evangélico na África antes de vir para o Brasil, em caráter de reconhecimento de um equívoco & de tentativa de reparação.
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Acho que é isso aí. Em nome de minha trisavó Floriana Rosa do Espírito Santo, nascida escrava, em caráter de afirmação - e de meu bisavô Johann Ulrich Rickli, missionário evangélico na África antes de vir para o Brasil, em caráter de reconhecimento de um equívoco & de tentativa de reparação.
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