Recebi do amigo Chico Lobo (não sei se redigido  por ele ou repassado de outro) o texto que transcrevo inteiro abaixo, e depois  passo a comentar: 
  
   
   PARADOXO  EVANGÉLICO
 
 Pastor Deputado ora  agradecendo a "propina nossa de cada dia"...
 
É MUITA CARA DE PAU!!! ao  mesmo tempo que confirmamos o brutal equívoco dos pastores evangélicos  seguidores da famigerada "Teologia da Prosperidade" e seus estranhos (e nada  honestos) conceitos de bençãos.
 
Assista  o vídeo  de deputado distrital do DF, Rubens Brunelli, fazendo uma oração   
 
http://tvig.ig.com.br/193183/oracao-apos-receber-dinheiro.htm 
 
  
 Eis o texto transcrito de sua  oração:
 
"Somos gratos pela vida do  Durval ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade,  porque o Senhor contempla a questão no seu coração. Tantas são as investidas,  Senhor, de homens malignos contra a vida dele. Nós precisamos da Tua cobertura e  dessa Tua graça, da Tua sabedoria, de pessoas que tenham armas para nos ajudar  nesta guerra. Todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem  falhar, todas nossas atividades, mas o Senhor nunca falha. O Senhor tem pessoas  para condicionar e levar o coração para onde o Senhor quer. A sentença é o  Senhor quem determina, o parecer e o despacho é o Senhor que faz acontecer. Nós  precisamos de livramento na vida do Durval, dos seus filhos,  familiares."
  
 Nosso  parecer:
 -Fuja daquele que  supostamente "em nome de Deus", venha lhe pedir dinheiro ou voto para  eleger-se a cargo político, pois com certeza, quem usa do nome de Deus para  angariar riquesas ou poderes, não merece sequer ser lembrados na história da  humanidade.
  
  
  
   
 Antes de mais nada, apesar de não duvidar de que  a corrupção grasse solta por aí, quero sugerir certo cuidado com nossos  "vereditos": o Lula está certíssimo ao dizer que "imagens  não falam por si". Muita gente já foi morta por parecer,  visivelmente, estar sacando uma arma quando estava, digamos, ajeitando as  calças. Então realmente é preciso que todos os lados tenham sido  amplamente ouvidos antes de se afirmar que o que estava acontecendo ali era isto  ou era aquilo.
  
 Mas depois deste relativo atenuante quero é  agravar a acusação:
  
 Por quê damos tanta atenção à apropriação  indébita explícita dos atos que batizamos de corrupção?
  
 O motor central do sistema capitalista é  apropriação indébita. A cada salário que é pago, o pagador está  descontando significativa parte do que o trabalhador produziu, mais ou menos  como prêmio a si mesmo por organizar e manter o sistema. 
  
 Esse roubo se expressa na imposição unilateral de  quanto vale a hora de trabalho de cada um: o patrão define sozinho quanto vale a  hora de trabalho de um trabalhador e quanto vale a sua - que, aliás, nem sempre  é exatamente de trabalho. (Ou seja: admito que muitas vezes o patrão trabalha  pesado sim; mas a hora que bem entende ele pode oferecer um luxuoso  dolce far niente [doce fazer nada] à sua familiagem ou a si  mesmo).
  
 Enfim: sistema capitalista é roubo implícito o  tempo todo... e os evangélicos nunca tiveram nenhum problema com esse  sistema! Ao contrário, Max Weber mostra que foi o modo de pensar evangélico que  permitiu o desenvolvimento do capitalismo. 
  
 Pois o evangélico investe fortemente num elemento  judeu repassado ao cristianismo: a idéia de que o Deus supremo do Universo seja  capaz de escolher um grupinho de humanos como seu querido, desprezando o resto  da humanidade. 
  
 Esse Deus agracia especialmente quem mais lhe  leve presentes e mais lhe puxe o saco - o que é a tradução popular da  palavra "louvor". Ou seja: cultuam precisamente a imagem  (mesmo se mental) do Corrupto-Mor.  (Atenção,  não estou dizendo que Deus é assim! Estou dizendo que se há  alguém que mereça ser chamado de Deus, não será assim).
  
 Finalmente, talvez uma das maiores funções da  religião até hoje tenha sido produzir legitimações imaginárias para o ilegítimo,  propondo ou impondo uma outra ética baseada numa "revelação" que alguns poucos  tiveram, no lugar da "ética natural" (se eu posso me expressar assim), que é  simplesmente o respeito a qualquer outro como "um outro eu" de  igual dignidade e direito.
  
 Assim, a religião legitimou que se entegassem  milhões de pessoas à espada ou à fogueira, com apropriação dos seus bens,  porque se tratava de uma guerra em nome de Deus (cruzadas, inquisição,  conquista das Américas). E os que procedem assim sempre se julgam  guerreiros, guiados por uma ética de guerra: se uma apropriação é em favor  "dos fiéis" ela será por definição considerada legítima, pois "os fiéis"  estariam a serviço de uma (suposta) causa maior, cuja grandeza e importância é  tamanha que diante dela as leis e razões dos outros viram pó.
  
 Não duvidem, então, que o pastor da oração que  aparece no vídeo estivesse sendo sincero. Sentindo-se um "combatente do bom  combate". Ou seja: não o julguem um monstro de cinismo. 
  
 Mas sinceridade nunca disse nada sobre  legitimidade. Hitler era absolutamente sincero; acreditava mesmo no que  dizia. Mas isso não é bastante para legitimar os seus atos. Não era um  monstro de cinismo, era um monstro de convicção - um tipo ainda mais  perigoso de monstro, porque mais sólido. 
  
 Recentemente escrevi o seguinte, num trabalho  dirigido a pessoas que apostam na expressão Arte da Paz, mas buscam embasar a  construção da paz em conhecimentos rotulados de "espirituais":  "A paz nunca vai  acontecer enquanto seres humanos não assumirem a responsabilidade integral de  seus atos uns para com os outros, sem buscar justificações em instâncias a que o  outro não tem acesso."
  
 Isso não diz nada quanto a "o  outro lado" existir ou não: quanto a isso, cada um que acredite no que  quiser - mas só até o ponto em que isso não começar a servir como desculpa  para ações prejudiciais aos colegas de humanidade.
  
 Passou disso, é pretexto  - seja da variante cínica, seja da sincera, ou seja: de quem se convenceu a si  mesmo da própria mentira para começar.
 
então podemos supor que o cerne da questão seja o acreditar versus o legítimo. e sobre isso acima a distinção de até onde é crédito/fé e real.
ResponderExcluirjá é velha a questão de que Religiosidade e Política não devem andar juntas sob um plano democrático: é impossível justamente pela crença religiosa como é até os dias de hoje não poder aceitar a flexibilidade da multiplicidade do indivíduo - ser evangélico e budista pelo mesmo templo é querer que um bêbado possa operar máquinas de corte... [risos] que dirá assumir postura política de que o homem não é Deus, logo a fé no mesmo pode e deve ser questionada - e interceder sobre um fato de fé como verdade é tão justo quanto um indivíduo alegar não conhecer as leis perante um tribunal, e todos sabemos que mesmo sendo verdade, isos nunca é um argumento válido perante a lei.
Achei que tinha deixado claro que não estava discutindo a verdade nem a natureza dos fatos de fé - mas apenas o nosso (não) direito de aplicá-los à vida social. E essa não é uma posição tomada em abstrato, e sim pq uma mundo tem sido uma bela m* desde que temos registro - e a aplicação dos fatos de fé à vida social é uma das principais causas dessa m* crônica, que nada tem de nova. Deixar de aplicá-los é que é novo, e responde por muito do que há de melhor no momento atual em relação ao passado.
ResponderExcluirMas é claro que isso é uma loooonga história. Assunto para livros, e não para ser decidido em scraps num blog... :-)
poisé isso mesmo que penso, deixemos de lado as crenças, deuses e afins e tratemos o homem pelo homem, sem churumelas, depois, quem quiser que acredite no que quiser, mas que isso não possa ter valor nas decisões sociais
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