Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

21 abril 2011

Três versões do texto de que mais gosto de um poeta de quem tenho certo medo: Charles Baudelaire


EMBRIAGAI-VOS
(português)

É preciso estar sempre embriagado. Está tudo aí: essa é a única questão. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo que quebra vossos ombros e vos inclina no rumo do chão, é preciso que vos embriagueis sem trégua.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, ao vosso jeito. Desde que vos embriagueis.

E se alguma vez, nos degraus de um palácio, na grama verde de um valado, na solidão morna do vosso quarto, vós vos despertardes, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que rola, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntai que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio vos responderão: “É hora de se embriagar! Para não serdes escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, ao vosso jeito”.


EMBRIAGUEM-SE!
(transculturalizado num certo brasilês)

É preciso estar sempre bêbado. Está tudo aí: essa é a única questão. Pra não sentirem o fardo horrível do Tempo que quebra os seus ombros e entorta vocês no rumo do chão, é preciso se embriagar sem trégua.

Mas do quê? De cachaça, de poesia ou de virtude, cada um do seu jeito. Desde que se embriaguem.

E se alguma vez, nos degraus de um palácio, na grama verde de um valado, na solidão morna do seu quarto, vocês despertarem, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, perguntem ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que foge, a tudo que geme, a tudo que rola, a tudo que canta, a tudo que fala, perguntem que horas são; e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhes responderão: “É hora de se embriagar! Para não serem escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se, embriaguem-se sem cessar! De cachaça, de poesia ou de virtude, cada um do seu jeito”.


ENIVREZ-VOUS
(français)

Il faut être toujours ivre. Tout est là : c'est l'unique question. Pour ne pas sentir l'horrible fardeau du Temps qui brise vos épaules et vous penche vers la terre, il faut vous enivrer sans trêve.

Mais de quoi? De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise. Mais enivrez-vous.

Et si quelquefois, sur les marches d'un palais, sur l'herbe verte d'un fossé, dans la solitude morne de votre chambre, vous vous réveillez, l'ivresse déjà diminuée ou disparue, demandez au vent, à la vague, à l'étoile, à l'oiseau, à l'horloge, à tout ce qui fuit, à tout ce qui gémit, à tout ce qui roule, à tout ce qui chante, à tout ce qui parle, demandez quelle heure il est; ei le vent, la vague, l'étoile, l'oiseau, l'horloge, vous répondront : "Il est l'heure de s'enivrer! Pour n'être pas les esclaves matyrisés du Temps, enivrez-vous; enivrez-vous sans cesse! De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise".

Charles Baudelaire (1821-1867), Petits Poèmes en Prose (Le Spleen de Paris), XXXIII. Versões em português e em brasilês: Ralf Rickli, 1984, 2011.

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