Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

19 maio 2008

AUTO-CONCEPÇÃO DO BRASILEIRO: UM SINAL DE MUDANÇA?

Passando diante de uma banca, tenho a feliz surpresa de ver uma notável peça da Cerâmica de Santarém na capa da revista Nova Escola de maio, ilustrando a chamada "O Brasil da pré-história. Nosso passado foi muito mais rico em cultura, tecnologia e organização política do que se supõe. Mostre a seus alunos como eram as sociedades há 10 mil anos".
 
O assunto não é exatamente novo. Faz uns 20 anos que caí na pista do seu interesse. De lá para cá, porém, vêm crescendo as descobertas e a sua presença na imprensa - e finalmente o vejo na capa de uma revista destinada a professores da rede escolar, gente que raramente lê material que não seja direcionado especificamente ao mundo escolar (instruções burocráticas, livros didáticos ou revistas como esta).
 
Não vou resenhar o artigo: a revista custa só R$ 2,90 e a matéria é realmente uma excelente introdução ao assunto. O que eu quero é chamar atenção para uma frase do artigo, encontrada na página 42:
 
"Cai por terra, assim, a idéia de que nossos ancestrais faziam parte de tribos distribuídas a esmo pela floresta".
 
Nossos ancestrais: é a primeira vez que vejo um texto didático ou pró-didático brasileiro nomeando os índios como "nossos ancestrais", e não os portugueses! E se isso não permanecer um caso isolado, mas conseguir se disseminar até um certo ponto de "massa crítica", aí podemos estar diante de uma efetiva revolução cultural.
 
Fique claro que não estou tentando negar que a ancestralidade brasileira seja múltipla e complexa. Longe de mim negar o enorme papel dos povos e culturas mediterrâneas em sentido amplo (isto é, incluindo Portugal), os "temperos" de tantos outros povos, e sobretudo a profunda, maravilhosa e quase onipresente participação africana!
 
No entanto, será só quando o eixo indígena for assumido como o principal, como o até agora negado porém onipresente fio condutor em torno do qual os outros elementos se organizam (mesmo quando forem mais volumosos), que o Brasil vai começar a entender a si mesmo, fazer as pazes consigo mesmo ou encontrar a sua alma.
 
Que não se deixe cair no vazio, portanto, o pequeno-imenso gesto de Débora Didonê e demais responsáveis por esse artigo na Nova Escola!
 
• • • SOMOS TODOS ÍNDIOS ! • • •
 
Zé Ralf de Guarapuava (acampado em Piratininga)
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Ralf Rickli • arte em idéias, palavras & educação
http://ralf.r.tropis.org • (11) 8552-4506

3 comentários:

  1. Uau, Ralf! Fiquei emocionada com teu texto. Realmente, foi um aprendizado e muito gratificante escrever sobre a pré-história brasileira. Espero que seja a primeira de muitas reportagens sobre.

    Grande abraço,
    Débora Didonê

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Assunto bacaníssimo, como disseste, justamente para entendermos quem somos nós. O Brasil brasileiro veio de onde afinal? E suas terras com tão múltiplas características, obras do acaso? Posso afirmar que os estudiosos desses sítios arqueológicos são grandes mestres que tateiam a terra em busca da nossa digital -- profundamente gravada sob nossos pés. Muito boas as discussões propostas em teu blog. São reflexões assim que fazem valer a pena o trabalho da apuração. Vou te linkar para acompanhar as idéias. Ah, foi a mimosa que aprendi a degustar, no RS e SC. Grande abraço!

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