Agora a imprensa vem publicar "o que os especialistas dizem" sobre os riscos psicológicos ao menino Sean Goldman. Por que ninguém perguntou e publicou antes?
E quando nós, especialistas brasileiros (de uma forma ou de outra, porém sim especialistas), tentamos dizer precisamente o mesmo que os especialistas estadunidenses estão dizendo agora, pelo menos aqui na "imprensa aberta internética" (já que na grande imprensa e/ou na justiça ninguém nos ouviria), fomos quando muito ridicularizados, se não sumariamente ignorados.
"O senhor é pedagogo e não psicólogo", me respondeu um cidadão que da sua parte não apresentou sua qualificação profissional, nem disse uma só palavra que sugira que tenha conhecimentos quer de Pedagogia, quer de Psicologia (como se fossem coisas tão separadas assim, especialmente no que se refere a crianças!)
Vejam as opiniões dos especialistas estadunidenses que o UOL publicou nesta linda manhã de Natal..., depois das quais vai o que eu já achava antes de ler uma linha que fosse da opinião de qualquer outro profissional.
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25/12/2009 - 09h11
Sean sofreu 'apocalipse psicológico' e adaptação será difícil, diz especialista
http://noticias.uol.com.br/bbc/2009/12/25/ult5017u453.jhtm
Sites de emissoras de TV nos Estados Unidos, como a ABC News e a CBS, publicaram textos sobre os possíveis problemas psicológicos que o garoto poderá enfrentar no seu retorno aos Estados Unidos após cinco anos.
Especialistas em desenvolvimento de crianças receiam que a longa batalha internacional pela guarda do menino terá fortes consequências.
De acordo com a psicóloga Jenn Berman, o garoto terá inúmeras dificuldades de adaptação.
"No curto prazo, ele deverá se adaptar a uma cultura completamente diferente e a um mundo que não é nada familiar para ele", afirmou Berman.
A médio e a longo prazos, de acordo com a psicóloga, as dificuldades serão ainda maiores.
"Ele teve um trauma depois de outro trauma", disse, referindo-se a situações como o divórcio dos pais e a morte da mãe. Além disso, é possível que Sean não esteja ciente da batalha travada pelo pai para recuperar sua guarda e tenha interpretado a distância como abandono.
"As crianças se recuperam rapidamente, mas esse garoto tem muitos desafios pela frente." "Emocionalmente falando, trata-se de um apocalipse psicológico", resumiu.
Harold Koplewick, diretor do Nathan S. Kline Institute for Psychiatric Research, diz que vai demorar um pouco até que o garoto se sinta adaptado à nova vida, e seu pai deverá ter muita paciência para ajudá-lo.
Famílias Os especialistas, no entanto, são unânimes em afirmar que o melhor para o menino é manter o relacionamento com ambos os lados de sua família.
"É importante compreender que esse garoto está ligado a ambas famílias, no Brasil e nos EUA", afirmou Judith Myers-Walls, especialista em desenvolvimento de crianças.
De acordo com ela, não importa como o caso foi finalizado, já que o trauma no processo é inevitável.
Judith diz que, além de estar separado do pai por cinco anos, ele também enfrentou a morte da mãe e o constante conflito da batalha por sua guarda, que durou a maior parte de sua vida.
Para ela, o impacto final de todos esses traumas só será conhecido em anos, mas a atitude dos adultos envolvidos no caso será fundamental para amenizar os problemas.
Denise Carter, diretora da Reunite, uma organização que oferece ajuda a famílias em situação semelhante à de Sean, há "várias histórias de sucesso", inclusive de casais que viveram situações altamente conflitantes mas conseguiram, após mediação, conviver de forma a prover o melhor ambiente familiar para a criança.
Para ela, o ideal é que Sean tenha acesso aos dois países e às duas culturas.
"Nós temos de nos concentrar naquilo que realmente é o melhor interesse da criança, não necessariamente no que é o desejo dos pais", disse Carter à BBC Brasil.
Durante o voo que o levava com o filho de volta aos Estados Unidos, David Goldman disse que irá permitir visitas da família brasileira a Sean, ainda que isso "leve tempo" para acontecer.
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Agora falo eu...
E quando nós, especialistas brasileiros (de uma forma ou de outra, porém sim especialistas), tentamos dizer precisamente o mesmo que os especialistas estadunidenses estão dizendo agora, pelo menos aqui na "imprensa aberta internética" (já que na grande imprensa e/ou na justiça ninguém nos ouviria), fomos quando muito ridicularizados, se não sumariamente ignorados.
"O senhor é pedagogo e não psicólogo", me respondeu um cidadão que da sua parte não apresentou sua qualificação profissional, nem disse uma só palavra que sugira que tenha conhecimentos quer de Pedagogia, quer de Psicologia (como se fossem coisas tão separadas assim, especialmente no que se refere a crianças!)
Vejam as opiniões dos especialistas estadunidenses que o UOL publicou nesta linda manhã de Natal..., depois das quais vai o que eu já achava antes de ler uma linha que fosse da opinião de qualquer outro profissional.
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25/12/2009 - 09h11
Sean sofreu 'apocalipse psicológico' e adaptação será difícil, diz especialista
http://noticias.uol.com.br/bbc/2009/12/25/ult5017u453.jhtm
Sites de emissoras de TV nos Estados Unidos, como a ABC News e a CBS, publicaram textos sobre os possíveis problemas psicológicos que o garoto poderá enfrentar no seu retorno aos Estados Unidos após cinco anos.
Especialistas em desenvolvimento de crianças receiam que a longa batalha internacional pela guarda do menino terá fortes consequências.
De acordo com a psicóloga Jenn Berman, o garoto terá inúmeras dificuldades de adaptação.
"No curto prazo, ele deverá se adaptar a uma cultura completamente diferente e a um mundo que não é nada familiar para ele", afirmou Berman.
A médio e a longo prazos, de acordo com a psicóloga, as dificuldades serão ainda maiores.
"Ele teve um trauma depois de outro trauma", disse, referindo-se a situações como o divórcio dos pais e a morte da mãe. Além disso, é possível que Sean não esteja ciente da batalha travada pelo pai para recuperar sua guarda e tenha interpretado a distância como abandono.
"As crianças se recuperam rapidamente, mas esse garoto tem muitos desafios pela frente." "Emocionalmente falando, trata-se de um apocalipse psicológico", resumiu.
Harold Koplewick, diretor do Nathan S. Kline Institute for Psychiatric Research, diz que vai demorar um pouco até que o garoto se sinta adaptado à nova vida, e seu pai deverá ter muita paciência para ajudá-lo.
Famílias Os especialistas, no entanto, são unânimes em afirmar que o melhor para o menino é manter o relacionamento com ambos os lados de sua família.
"É importante compreender que esse garoto está ligado a ambas famílias, no Brasil e nos EUA", afirmou Judith Myers-Walls, especialista em desenvolvimento de crianças.
De acordo com ela, não importa como o caso foi finalizado, já que o trauma no processo é inevitável.
Judith diz que, além de estar separado do pai por cinco anos, ele também enfrentou a morte da mãe e o constante conflito da batalha por sua guarda, que durou a maior parte de sua vida.
Para ela, o impacto final de todos esses traumas só será conhecido em anos, mas a atitude dos adultos envolvidos no caso será fundamental para amenizar os problemas.
Denise Carter, diretora da Reunite, uma organização que oferece ajuda a famílias em situação semelhante à de Sean, há "várias histórias de sucesso", inclusive de casais que viveram situações altamente conflitantes mas conseguiram, após mediação, conviver de forma a prover o melhor ambiente familiar para a criança.
Para ela, o ideal é que Sean tenha acesso aos dois países e às duas culturas.
"Nós temos de nos concentrar naquilo que realmente é o melhor interesse da criança, não necessariamente no que é o desejo dos pais", disse Carter à BBC Brasil.
Durante o voo que o levava com o filho de volta aos Estados Unidos, David Goldman disse que irá permitir visitas da família brasileira a Sean, ainda que isso "leve tempo" para acontecer.
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Agora falo eu...
Provavelmente a única chance de escapar de um desastre absoluto é que o pai passe agora a dizer ao garoto todos os dias que adora a família brasileira, que foi pena que alguma coisa tenha obrigado a que o processo de volta aos EUA tenha tido que ser assim, sem culpar jamais a família brasileira e sim, ao contrário, facilitando seu contato virtual freqüentíssimo - e também o reencontro físico dentro de não tanto tempo assim".
Se o pai não fizer isso, as principais alternativas do que pode acontecer são:
(1) O pai não consegue seduzir o menino, que...
(1a) passa a atacá-lo e/ou atacar a nova sociedade - sem absolutamente nada que impeça de isso chegar ao nível dos maiores crimes; só não uso aqui a palavra 'psicopatia' porque para sê-lo de modo característico a separação traumática deveria ter ocorrido mais cedo (até quê idade, admito que preciso voltar à literatura sobre isso);
(1b) pode se fechar em si mesmo numa atitude de aparência similar a um autismo.
(2) O pai consegue seduzir o menino, acarretando com isso, porém, inevitavelmente, uma sensação de culpa tão grave e insuportável que conduz à cisão da personalidade (uma parte fiel ao pai, outra à família brasileira). Isto é: esquizofrenia e/ou quadros correlatos. De novo, sem nenhuma garantia de que não haja violência contra o pai, contra outras pessoas e coisas, ou contra si mesmo.
Aliás, nos dois casos o risco de comportamento suicida está presente. No segundo isso talvez seja mais grave porque a própria capacidade de racionalidade nas ações estará comprometida pela cisão.
Ou seja: esse pai chamou para si um concentração monumental de riscos. Se conseguir se sair bem dessa, eu no fim até terminarei tirando meu chapéu para ele.
Se o pai não fizer isso, as principais alternativas do que pode acontecer são:
(1) O pai não consegue seduzir o menino, que...
(1a) passa a atacá-lo e/ou atacar a nova sociedade - sem absolutamente nada que impeça de isso chegar ao nível dos maiores crimes; só não uso aqui a palavra 'psicopatia' porque para sê-lo de modo característico a separação traumática deveria ter ocorrido mais cedo (até quê idade, admito que preciso voltar à literatura sobre isso);
(1b) pode se fechar em si mesmo numa atitude de aparência similar a um autismo.
(2) O pai consegue seduzir o menino, acarretando com isso, porém, inevitavelmente, uma sensação de culpa tão grave e insuportável que conduz à cisão da personalidade (uma parte fiel ao pai, outra à família brasileira). Isto é: esquizofrenia e/ou quadros correlatos. De novo, sem nenhuma garantia de que não haja violência contra o pai, contra outras pessoas e coisas, ou contra si mesmo.
Aliás, nos dois casos o risco de comportamento suicida está presente. No segundo isso talvez seja mais grave porque a própria capacidade de racionalidade nas ações estará comprometida pela cisão.
Ou seja: esse pai chamou para si um concentração monumental de riscos. Se conseguir se sair bem dessa, eu no fim até terminarei tirando meu chapéu para ele.
Mas exclusivamente para ele, e não para as autoridades (ir)responsáveis dos dois países, que não pararam para ouvir o menino nem chamaram consultoria psicológica antes de decidir. Irresponsabilidade criminosa, não menos.
(Inclusive daquela mãe desnaturada que, em tudo que faz e diz, andaria sendo Hilária se as conseqüências não fossem trágicas).
(Inclusive daquela mãe desnaturada que, em tudo que faz e diz, andaria sendo Hilária se as conseqüências não fossem trágicas).
Ainda uma palavra sobre a substância e natureza da (ir)responsabilidade das autoridades
Está envolvida nesse caso uma questão de método importantíssima mas pouquíssimo reconhecida, que incide sobre qualquer análise e qualquer planejamento de ações: saber distinguir as dimensões diacrônica (como a questão vem se desenrolando no tempo, como chegou aqui) e sincrônica (qual é a dinâmica de uma questão num dado momento, independente de como veio até aqui).
Creio que quem introduziu essas palavras foi o antropólogo-lingüista Saussurre, e ignoro se alguém antes trabalhou sistematicamente com essa mesma distinção sob outras palavras - mas isso na verdade não faz diferença, as ideias valem pela verdade e eficiência que mostram na prática, não faz a menor diferença quem disse.
Enfim: no caso do menino Sean, a dimensão diacrônica é como a história se desenrolou no tempo, e como chegou onde chegou. Não há dúvida que houve inúmeros erros (se não, nem teria chegado onde chegou), pessoalmente duvido que os erros tenham sido só da família brasileira - mas na verdade meu interesse sobre essa dimensão é mínimo.
Na hora de implementar uma ação, é preciso saber abstrair totalmente o "como se chegou aqui", "como as coisas deviam ter sido feitas antes e não foram", e concentrar no "como se sai daqui com menos dano e/ou mais benefícios".
Não separar essas dimensões é irresponsabilidade. Não saber separar essas dimensões é despreparo para a ação no campo que estiver em questão (para não usar a palavra "incompetência", tão feia e de sabor tão burguês).
Estava ao alcance das autoridades ordenar os procedimentos de modo a minimizar os danos - de modo que não tê-lo feito é crime. Ainda se não for sob a legislação, moralmente é.
É óbvio que esse princípio vale para todos os casos, e não só para esse onde o padrasto é da elite e o caso apareceu na imprensa. Há milhões de injustiças iguais ou maiores acontecendo no país sem visibilidade nenhuma? Óbvio que há. Mas se temos este caso diante dos olhos no momento, seria bobeira não aproveitar para extrair dele todos os aprendizados possíveis, inclusive tendo em vista os casos que continuam à espera na invisibilidade, mas espero que não para sempre!
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