DOIS DEDINHOS DE ESPECULAÇÃO ONTOLÓGICA
( NA RESSACA DE COPENHAGUE )
eu
eus
eus no caos
nós no caos
nós
nó
eu
= nó no caos
nós no caos
= rede
nós na rede
.
sustentados?
presos?
pescando?
pescados?
(
tende piedade de nós
pescadores
agora
e na hora da nossa
recaotização !
)
As festas da virada do ano mundo afora, todas à base de luz, me fizeram lembrar deste trecho do meu projeto poético mais ambicioso, um poema cênico escrito aos 25, ainda nunca publicado nem montado:
De 1982
INTERMÉDIO: EVOCAÇÕES
(O Auto da Paixão da Cidade - quadro V)
quando o homem veio das estrelas
o mundo não lhe tinha cor ou cheiro
além dos que de graça dava
quando bem queria,
sua grande mãe.
escondidos estavam os perfumes
e as cores, e os vôos da embriaguez,
no colo da substância,
na carne das pedras, das plantas,
só aqui e ali eclodindo
na graça e presente do cristal,
da plumagem,
da flor.
no sangue dos caules, das folhas,
e nos miolos silenciosos das raízes
cochilavam, ocultos, calores,
cores,
e os vôos da embriaguez.
dormiam. e ao que ia ser homem
não davam notícia ou favor.
até
que ele sonhasse forças para explorar-te,
juntasse forças pra penetrar-te,
que encontrasse a esposa
pela qual havia de trocar-te,
ó velha mãe!
cidade! cidade!
para ele preparada
por cem turnos de anjos
dirigidos por seus arcanjos
sob os olhos dos arqueus ‑
cidade!...
que serpente passou pelo teu caminho e
‑ tão cedo ‑
te seduziu?
em ti segredos foram abertos
mistérios desvendados
um a um;
em ti conseguimos favores
das pedras,
do ferro e dos seus companheiros,
e o calor escondido nos troncos,
no solo
e até mesmo nos rios,
conseguimos por proteção
contra a ameaça anual
(pra apontar nossa vaidade)
que o sol faz
de se retirar.
fizemos vibrar toda matéria
enchendo-te de som e ritmo
e pra melhor neles dançarmos
desescondemos de entre os mistérios
uns trinta tipos de embriaguez ‑
e das substâncias
mais sutis
inventamos artes
até para o nariz.
ervas, resinas, incensos,
vinhos,
cafés,
e ametistas,
e linhos,
topázios e púrpuras,
e os chás, e as pimentas, e os óleos, e
(ah!...)
a doçura do açúcar.
e grãos,
grãos inteiros, cozidos,
moídos, assados, grãos
fermentados, bebidos...
e vinhos! e vinhos, licores, e pedras,
e pratas, pepitas cintilantes,
e os cafés, e os chás, e os fumos todos, e tudo
que faça brilhar nossos olhos,
por dentro,
por fora,
brilhantes e luzes,
e vinhos,
e pós, e tudo
tudo que nos envolva em brilho, tudo
que nos dissolva em luz!
queremos esquecer o frio e o escuro deste mundo!
queremos afogar a nostalgia das estrelas!
pra ser deuses e não bichos fomos feitos,
temos fome de luz!
cidade, ah cidade, luminosa esposa
tão longamente esperada ‑
que serpente te passou pelo caminho
e te prostituiu?
CIFRAS BREVES DE UM DISCURSO LONGO
( ÀS MARGENS DO RIO DA INFORMAÇÃO )
ninguém sabe por onde tenho andado.
o mundo não interessa a ninguém.
cada nuvem de mosquitos com sua própria delícia...
se algures há flit, e daí?
no entanto não labuto em desespero
esperança tem mais força que razão
.
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