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11 maio 2013

O que está por trás da ofensiva evangélica contra direitos de minorias, em qualquer lugar

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Não se enganem, amigos: não são desconexos os crescentes ataques de evangélicos à causa dos direitos humanos das pessoas homo, bi e transexuais: eles seguem um PROGRAMA, o programa que está implícito no livro “A Estratégia” (The Agenda) do pastor presbiteriano-conservador estadunidense Louis P. Sheldon, editado no Brasil por Silas Malafaia.

A ironia do livro é que ele é uma inversão: acusa “os homossexuais” de terem um programa conspiratório para a dominação do mundo e opressão dos evangélicos - programa de cuja existência não existe evidência nenhuma, a não ser as interpretações absolutamente fantasiosas de fatos e de textos bíblicos apresentadas no livro - quando O LIVRO, ele sim, é parte de um programa conspiratório, esse fartamente documentado.

Existe um movimento registrado oficialmente cujo objetivo é promover a dominação militar e econômica dos Estados Unidos SOBRE O MUNDO TODO durante o século 21. O movimento tem inclusive site na internet, embora obviamente mostre pouco no site. Sabe-se que ele e possivelmente outros congêneres são quem realmente detêm o poder nos EUA desde pelo menos 1980, não importa o presidente nem seu partido.

Esse movimento insufla o fundamentalismo protestante para garantir verbas para seus planos de dominação militar no Oriente Médio, fazendo acreditar que a guerra entre Israel e seus vizinhos é necessária para que depois ocorra a segunda vinda de Jesus.

Esse movimento também insufla a população civil a se rebelar contra o Estado democrático, caluniando-o de pretender destruir A FAMÍLIA.

Isso já ocorreu no Brasil em 1964, quando religiosos a serviço dos EUA, tanto católicos quanto protestantes, ajudaram a organizar a tal Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que serviu de pretexto para a intervenção de militares também comprados, que perseguiram mais de sete mil militares fiéis ao Brasil e impuseram por 21 anos o governo mais brutal e corrupto que já tivemos.

As forças do plano de dominação estadunidense não gostam nem um pouco do grau de independência que a América Latina e países “do Sul” conquistaram com a vigorosa participação do Brasil nos últimos 10 anos, e estão jogando todas as fichas para derrubar e/ou descaracterizar os governos do PT - recorrendo mais uma vez ao velho chavão de que “a família” está sendo ameaçada.

Hitler precisou perseguir uma suposta conspiração de judeus para conseguir o apoio das massas alemãs (em grande parte evangélicas) para seus planos de dominação. Os perseguidos eram caluniados de serem os perseguidores - e livros com “evidências” não faltavam.

Qualquer semelhança com o insuflamento das massas evangélicas contra os “planos de destruição da família” pelos “gayzistas” NÃO É NENHUMA COINCIDÊNCIA.

O Brasil vive seu momento mais perigoso desde 1964 - e VOCÊ, evangélico que acredita em tudo que um pastor fala ou escreve, está sendo mais uma vez UM INOCENTE ÚTIL NUMA TRAMA DIABÓLICA.

31 janeiro 2012

AS TRÊS ORDENS DA LIBERDADE - ou: por que não são iguais os direitos reivindicados por gays e por religiosos 'fundamentalistas'

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AS TRÊS ORDENS DA LIBERDADE
 - por que não são iguais os direitos reivindicados por gays e por religiosos 'fundamentalistas' -

Ralf Rickli - 25.06.2011
Versão 2: 31.01.2012

A direita religiosa, tanto evangélica quanto católica, tem se oposto à criminalização da homofobia (PLC 122) dizendo que isso seria uma interferência no princípio democrático da liberdade de religião, e que os gays não podem ter mais direitos do que eles, religiosos conservadores.

Infelizmente, de modo geral o outro lado (não só gays mas defensores da liberdade-de-ser em geral) só tem conseguido gritar "retrógrados! querem reviver a inquisição!", mas não tem sabido responder a esses religiosos com argumentos lógicos.

Na verdade, trata-se apenas de um caso particular de uma questão mais ampla, que se evidencia bem com este exemplo-limite: praticamente todos concordam que não se deve permitir propaganda nazista - mas por quê? Isso não é uma restrição à liberdade de expressão? Dizer que o nazismo incita a ações que vão contra a lei não é resposta suficiente, pois muitas pessoas que se opõem à propaganda nazista defendem que é legítimo se manifestar publicamente pela liberdade de uso de maconha - o que também é contra a lei. E também aqui essas pessoas provavelmente só saberão responder "ah, mas aí é diferente", sem saber dizer por quê é diferente.

Ou seja: a sociedade atual está sem critérios para fazer a mais vital das distinções para sua sobrevivência como sociedade.

É agradável ouvir que na pós-modernidade vale tudo, que deve ser proibido proibir... mas então por que proibir o estudante de Santo André de ter um arsenal em casa e alvejar as crianças do parque com chumbinho de pressão? Tá, então vale quase tudo - mas onde está a linha desse quase? Ela precisa ser clara, ou então ficaremos eternamente à mercê de arbítrios pessoais... que, sejam do guarda da esquina, sejam de um ministro togado, não passam disso: arbítrios pessoais.




LIBERDADES POSITIVA E NEGATIVA (primeira e segunda ordem) - Mas, ora... isso pode ser belamente enfrentado com uma pequena análise dos tipos de ação que a liberdade pode albergar - pois liberdade é sempre liberdade de agir (ir, vir, sorrir, beijar, dizer, pensar, são todos ações, mesmo que a última aconteça no espaço interno do psiquismo).

Porém tem mais: a natureza fundamental da liberdade é cada um poder determinar o seu próprio agir.

Quanto ao agir de outra pessoa... bem, se eu tenho minha liberdade ela também tem a sua própria, não? Então, sempre que tento dispor sobre a ação de outra pessoa eu estou não apenas exercendo a minha liberdade: estou também negando a liberdade de outro.

E aí, se considerarmos que é a minha liberdade que me faz cidadão, estou querendo ser dois cidadãos ao mesmo tempo, às custas de des-cidadanizar um outro, que também tem o direito de decidir sobre as suas próprias ações.

E se considerarmos que é a minha liberdade que me faz humano (para quem gosta da linguagem da religião: é a expressão da semelhança de Deus que existe em mim) estou tentando me fazer sobre-humano, valendo por dois (ou por 10 mil), às custas de desumanizar um outro (ou 9.999 outros) que têm tanto poder de decidir suas próprias ações quanto eu.

Então a liberdade de primeira ordem é positiva (do verbo "pôr") ou afirmativa: eu me ponho no mundo, me coloco com meu próprio modo de ser e agir, afirmo o "um" único que eu sou.

Mas quando quero determinar a vida de outro, estou dando um segundo passo: o primeiro havia sido me autodeterminar, o segundo é usar minha autodeterminação para negar a autodeterminação de outro. Por isso a liberdade de segunda ordem, que pretende ir além do passo de me autodeterminar, é sempre negativa.

Sim, sempre. E é possível extrair disso uma filosofia do direito completa, pois não é difícil demonstrar que todos os crimes - todos - podem ser descritos como imposição da liberdade de um de modo a transgredir a liberdade de outro. Se eu mato alguém, eu o faço morrer quando eu quero: estou transgredindo sua liberdade. Se tiro sua carteira, faço que o resultado das suas atividades pague o que eu quero e não o que ele quer: estou transgredindo sua liberdade. E se crio condições sociais em que ele se vê forçado a aceitar um salário indigno para não ver seus filhos passarem fome, estou fazendo precisamente a mesma coisa que se tomasse a sua carteira.

Bem, então não é difícil perceber que vivemos num mundo em que a liberdade de segunda ordem, ou negativa, predomina quase o tempo todo sobre a liberdade de primeira ordem, positiva, afirmativa. E a ideia de democracia só será realizada de fato quando liberdade significar o direito de afirmar sua própria autodeterminação, e não o de negar a autodeterminação de um outro.


LIBERDADE DE NEGAR A NEGATIVIDADE (terceira ordem) - Mas para parar a ação de um criminoso não é preciso negar sua autodeterminação? Impedir alguém de atirar num gay ou num desafeto qualquer não é uma negação da sua liberdade?

Sim... e não. Pois a liberdade de primeira ordem (positiva) é a de me afirmar; a liberdade de segunda ordem (negativa) é a de suprimir uma liberdade positiva de outro - e o sujeito que atira em outro já está exercendo uma liberdade negativa (de segunda ordem) ao tentando suprimir o direito-de-ser do primeiro. O que vou fazer ao impedi-lo de atirar é um ato de terceira ordem, um ato de negar sua negatividade. Eu, como terceiro a entrar em jogo, vou negar ao segundo apenas o "direito" (torto) de negar ao primeiro o seu direito primário legítimo de existir e ser como é.

E a negação de uma negação significa a restauração da afirmação original, que estava sendo negada (razão pela qual também podemos chamar a liberdade de terceira ordem de reafirmativa). 

Vejamos: Maria tem o direito primário de ser como é. Maurício quer negar esse direito de Maria. Se eu nego a Maurício a liberdade de negar o direito de Maria, o que estou fazendo é reafirmar o direito de Maria - e não é negar o direito primário de Maurício ser como ele é, para si mesmo; é apenas não deixar que ele destrua direitos alheios.

Então temos a Liberdade Positiva, de primeira ordem, direito de todo cidadão. A Liberdade Negativa, de segunda ordem, perversão do sentido da liberdade, e que não pode ser reconhecida como direito de ninguém. E a Liberdade de Negação da Negatividade, de terceira ordem, que encontramos em expressões tais como "restringir a restrição", "reprimir a repressão ou opressão", "excluir a exclusão", "não tolerar a intolerância".

Se quisermos uma sociedade livre, a liberdade de terceira ordem é mais que uma liberdade: é um dever, talvez a única coisa que precise ser considerada um dever, e a única que justifique o uso da força - pois é a Negação da Negatividade que garantirá a todos a condição de cidadãos, de seres propriamente humanos, ou (para quem gosta da linguagem religiosa) de indivíduos que respondem a Deus por si mesmos.

O famoso "monopólio do uso da violência" que, segundo Max Weber, caracteriza o Estado distinguindo-o de todas as outras instituições, só pode se justificar nesse sentido: que o Estado seja uma espécie de agente central de negação da negatividade (o que aponta para o maior de todos os problemas possíveis para uma Filosofia e/ou Ciência Política: como evitar que essa mesma força seja usada para a própria negação da liberdade, e não para o ato afirmativo da liberdade que é a negação da negação).


Voltando ao ponto de partida: a pregação das idéias do nazismo tem que ser contida pois é estímulo à liberdade negativa, a qual destrói não só as liberdades positivas como também toda possibilidade de democracia. A liberdade precisa se autoproteger reconhecendo-se como legítima só quando for de primeira ou de terceira ordem (ou seja: de afirmação ou de negação da negação).

E quanto aos gays, e à liberdade pretendida por alguns religiosos que é a de declará-los seguidores do mal, condenados por definição a tormentos eternos?

Não pode ser diferente: o que os gays pretendem é sua liberdade positiva, de primeira ordem, de apenas poderem ser quem são e como são, sem obrigarem nenhum outro a se modificar por isso. E a liberdade que os religiosos reclamam é tipicamente uma liberdade negativa ou de segunda ordem, que não pode ser reconhecida como um direito, já que é destruidora das demais liberdades.

Só que aqui entra o complicante do elemento "crença", de modo que a questão não se esgota tão simplesmente, mas envereda por outros capítulos que prefiro deixar para explorar em outro momento. Por hoje queria apenas compartilhar essa chave fundamental que é a distinção das três ordens de liberdade.

Em tempo: estes razoamentos fazem parte da Filosofia do Convívio, que venho elaborando lentamente ao longo de quatro décadas, embora só venha usando esse nome desde 2001. Ao lado de vários trabalhos por concluir, somando algumas centenas de páginas, existem alguns trabalhos introdutórios já publicados que posso sugerir a quem se interessar por entrar no baile (links as seguir). Nenhum deles usa esta nomenclatura das três ordens de liberdade, que está sendo introduzida agora, mas ainda que por trás de outras palavras as idéias são precisamente as mesmas.


RICKLI, R. (2007). BENDITO EIXO NO BENDITO CAOS - ou: em busca de um critério para o caos-de-critérios atual. 9 pp. Disponível em http://www.tropis.org/biblioteca/eixo-no-caos.pdf


RICKLI, R. (2008). MANIFESTO DO PLURALISMO RADICAL. 1 p. Disponível em http://www.tropis.org/biblioteca/manifesto-pluralismo-folder.pdf 

RICKLI, R. (2008). LIBERDADE SOCIALMENTE SUSTENTÁVEL: uma introdução à Filosofia do Convívio e a algumas de suas aplicações. 35 pp. Disponível em http://www.tropis.org/biblioteca/libsocsus.pdf


[Não sei quem criou este aqui, mas é perfeitamente no espírito!]

08 abril 2011

O atirador de Realengo e a tragédia do fator BOIEQ

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24 horas foram suficientes para ver um mar de palpites e especulações sobre a causa da tragédia da escola de Realengo, mas ainda não vi quem tenha tocado no que para mim se revela como causa óbvia, gritante, com a leitura já da primeira linha da carta deixada pelo jovem atirador. Falo com o olho de quem é educador há décadas, especialmente de jovens em situações não-formais, e estudioso atento de psicologia e das 'counselling arts' também há décadas, embora sem formação oficial em psicologia - isso tudo sem falar de um background familiar totalmente imerso em religião e teologia.

Temos em Wellington Menezes Oliveira apenas (sem ironia) um jovem com dificuldades de socialização e com a própria sexualidade, o qual, em lugar de encontrar ajuda psicológica, encontrou uma religião veiculadora de discurso de demonização do sexo. A denominação ou denominações precisa(s) da(s) igreja(s) não importa(m), pois isso pode acontecer em QUALQUER uma das denominações cristãs, e também em algumas linhas não-cristãs.

O discurso de repressão e demonização da sexualidade nem sempre leva a ações concretas tão terríveis, mas SEMPRE leva a distúrbio psíquico destrutivo. O fato de ter tomado essa forma precisa deve decorrer da combinação particular de fatos de sua história pessoal, mas é extremamente improvável que tivesse chegado a tanto sem a participação do discurso repressivo da "pureza" - que emerge com força total já na sexta palavra da carta, e primeira com significação relevante.

Isso leva a um questionamento sério não desta ou daquela religião, mas, sim, da liberdade de acesso das religiões em geral às mentes em formação - pois a quase totalidade delas se dedica à repressão dos instintos e pulsões, e não à sua educação esclarededora e não repressiva (na própria linguagem religiosa: acredita em expulsar "demônios", quando até a umbanda entende a possibilidade de no lugar disso educar os "demônios").

Só escapam, relativamente, os setores influenciados pela chamada "teologia liberal", desenvolvida por gente com maior formação intelectual, capaz de entender sua própria vida religiosa em termos antropológicos, e as igrejas como lugares de busca humana pelo que seja o bem (a "vontade de Deus"), e não de revelação divina. Mas esses setores são a exceção, não a regra, geralmente desprezados pelos religiosos autênticos como "espiritualmente mortos", traidores da "verdadeira religião", e com frequencia eles mesmos "se micham" diante de questões mais polêmicas em benefício da preservação de sua instituição. Não se pode, portanto, julgar os efeitos do fenômeno "religião" na sociedade por essas "minorias esclarecidas", e sim pelas formas imensamente majoritárias.

Sendo assim, creio que pela gravidade de suas consequencias a religião tinha que ser tratada como o álcool e grande parte das outras drogas: não dá para negar a liberdade de acesso voluntário aos cidadãos adultos, mas é gravemente questionável que se permita o acesso da religião aos menores de idade - sendo que na verdade 18 anos para isso é pouco: o córtex pré-frontal, das decisões autônomas responsáveis, só vai se desenvolver entre os 21 e 25 anos.

O drama é que as religiões constituem o caso provavelmente mais frequente do que chamo o Fator BOIEQ - BOas Intenções EQuivocadas: acreditam-se com sinceridade portadoras de um caminho de salvação - assim como Hitler se acreditava - e mais: portadoras do único caminho de salvação, sendo que tudo mais leva à desgraça no tempo e na eternidade. E sentem-se portanto no dever de ensinar seu caminho em idade quanto mais tenra melhor.

E diante disso, quê fazer em defesa da sanidade mental das nossas crianças e futuros adultos, sem pôr fogo na sociedade pela reação enfurecida das multidões dominadas pelo Fator BOIEQ?

É aqui que quarenta anos de reflexão e 35 de prática param e olham em absoluta perplexidade.
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