Acredite nos que buscam a verdade... Duvide dos que encontraram! (A.Gide)

17 dezembro 2009

SERÁ QUE AINDA NÃO PERCEBEMOS O TAMANHO DO ESCÂNDALO? (ZL de Sampa ainda inundada para proteger o resto)

Coleguinhas, parte considerável da cidade em que moramos continua transfomada numa Veneza fluvial - e infecta -, e isso não por fatalidade natural, e sim por gritante incúria, irresponsabilidade, incompetência no gerenciamento de um sistema já estabelecido há mais de meio século.
 
Mas tem mais uma coisa que me choca: só por sorte nós mesmos não moramos numa várzea dessas... É a nossa cidade, nossa pólis, nossos concidadãos que estão com suas casas com água pela metade... e a maior parte de nós não só não está gritando, como também nem se dando o trabalho de estar sabendo disso!!
 
Terça última (15/12) escrevi no meu Facebook: "... se eu tenho uma mínima noção do sistema, isso não é possível sem que essa água esteja sendo RETIDA lá intencionalmente para não aparecer em lugares onde dá mais na vista". Não deu outra: na reportagem abaixo um engenheiro confessa candidamente que a opção foi essa, e mais: entrega que o sistema de barragens do Tietê é administrado como na idade da pedra, não existe nem comunicação entre as equipes das diferentes barragens!
 
O que acabou com a carreira política do Bush não foram as aberrações da sua atuação no nível internacional (que infelizmente o Obama está mostrando que prefere continuar), e sim sua inércia diante de New Orleans inundada.
 
E nós, será que não estamos enxergando o tamanho da gravidade desta interminável seqüência de barbeiragens na terceira maior cidade do mundo? Isso é caso para impeachment nos primeiros escalões e defenestração em massa na cúpula dos múltiplos órgãos envolvidos. Será que não estamos percebendo o tamanho do escândalo?

17/12/2009 - 07h00

Comportas fechadas na barragem da Penha para proteger a marginal ajudaram a alagar a zona leste de SP

Fabiana Uchinaka
Do UOL Notícias
Em São Paulo

 
As seis comportas da barragem da Penha, na zona leste de São Paulo, foram completamente fechadas às 2h50 do dia 8 de dezembro, dia em que a cidade enfrentou fortes temporais e viu diversos pontos alagarem como há muito tempo não se via. Somente dois dias depois, às 17h20, todas as comportas foram abertas. Os dados, fornecidos pelo engenheiro responsável pela barragem, João Sérgio, indicam que houve uma clara escolha da empresa responsável: alagar os bairros pobres da zona leste para evitar o alagamento das marginais e do Cebolão, conjunto de obras que fica no encontro dos rios Tietê e Pinheiros.

"Mesmo fechando as comportas, encheu o [córrego] Aricanduva. Se eu não tivesse fechado aqui, teria alagado as marginais e toda São Paulo", justificou Sérgio, que explicou que a decisão vem da direção da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia). Ele acrescentou ainda que no dia 9 duas comportas foram abertas às 10h10 e mais duas às 21h.
 
O engenheiro argumenta que cada barragem (são quatro em São Paulo: Móvel, Penha, Mogi das Cruzes, Ponte Nova) é responsável apenas por administrar o fluxo de água do local e não sabe o que acontece nos outros pontos, porque não há comunicação. Mas ele acredita que as comportas foram abertas nas barragens de cima, em Mogi, e isso influenciou no alagamento da região da zona leste.

"Não recebo informações de outras barragens. As de cima são administradas pela Sabesp e as de baixo pela Emae. Eu só respondo por essa barragem e às ordens da Emae", disse. "Também acho estranho o nível da água não baixar aqui e não sei por que está indo para os bairros, mas não precisa ser especialista para ver que está assoreado [o rio]".

Ele trabalha há quase 15 anos no local e conta que desde o governo de Orestes Quércia (1987-1991) não são colocadas dragas para desassorear o rio na parte que fica acima da barragem. "O governo tentou colocar de novo, mas a própria Secretaria de Meio Ambiente não deixou, porque não tinha bota-fora [local para despejar a terra retirada]", afirmou.

O desassoreamento do rio daria mais velocidade ao escoamento da água e aumentaria a área de reserva de água perto da barragem, o que impediria o transbordamento para os bairros adjacentes.

Para Ronaldo Delfino de Souza, coordenador do Movimento de Urbanização e Legalização do Pantanal, o governo fez uma opção. "Ou alagava a marginal ou matava as pessoas no Pantanal. E matou", disse. "E ainda bota a culpa nas moradias. O Estado só se preocupa com o escoamento de mercadorias, só pensa em rodovia. Vida humana não importa".

Moradores e deputados estaduais fizeram nesta quarta-feira (17) uma inspeção no local para saber se a abertura das comportas tinha relação com o alagamento no Jardim Romano e no Jardim Pantanal, que já dura nove dias.

O movimento, formado por moradores de diversos bairros localizado na várzea do rio Tietê, acusa o governo do Estado e a prefeitura de manterem a água represada além do necessário como forma de obrigar as famílias a deixarem a região, onde será construído o Parque Linear da Várzea do Rio Tietê. Há anos, os moradores resistem em sair dali, porque dizem que o governo não apresenta um projeto habitacional concreto e apenas oferece uma bolsa-aluguel.

"Não era para as máquinas estarem trabalhando aqui? Cadê? Não tem um funcionário do governo aqui", reclamou, apontando para as ilhas que aparecem no meio do rio, logo acima da barragem da Penha. As dragas são vistas somente na parte de baixo da construção.
 
"Os córregos do Pantanal já estavam muito cheios três dias antes da chuva. Como não abriram a barragem sabendo que ia chover?", perguntou Souza, indignado. "O que a gente viu aqui é que não houve possibilidade de escoamento, porque a água ultrapassou o nível das comportas e não tinha velocidade para descer, não tinha gravidade", concluiu.

Segundo os registros da barragem, no dia 8 a água ficou acima do nível das comportas por 5 a 6 horas. Sérgio explicou que a queda do rio Tietê é de apenas 4% e por isso a vazão demora cerca de 72 horas desde a barragem de Mogi das Cruzes até o centro da cidade -- isso sem chuva. "É demorado, sempre foi", disse.

"Imagina o que uma hora de comportas fechadas não faz de estrago lá no Pantanal", falou Souza, diante dos dados. "Se fecha aqui, a água para de novo, perde velocidade e vai demorar mais 72 horas para descer", afirmou.
  •  Foto Rogério Cassimiro/UOL, retrabalhada

    Garoto passeia a cavalo pelas águas represadas do Jardim Romano, na zona leste
    Foto de Rogério Casemiro / UOL, retrabalhada


Os deputados estaduais que acompanharam a inspeção concordam con a teoria dos moradores. "Foi feita uma escolha e a corda estourou do lado mais fraco", afirmou o deputado estadual Raul Marcelo (PSOL). "É uma questão grave. A falta de comunicação e de um gerenciamento unificado são prova de uma falta de governância e de um planejamento na administração das barragens, o que levou, em grande parte, ao fato do bairro do Pantanal ter sido alagado".

"Há uma estranha coincidência de que no momento da desocupação há um alagamento desses e ninguém consegue escoar a água. Não havia uma inundação dessas há 15 anos e o nível das águas está subindo mesmo sem chuva. É muito estranho e as autoridades têm que explicar", completou o deputado estadual Adriano Diogo (PT).

Eles farão um relatório sobre a inspeção e pretendem denunciar o caso, junto com a situação da estação de tratamento de esgoto (leia aqui), aos Ministérios Públicos Estadual e Federal.
 

Um comentário:

  1. PS: UMA QUESTÃO COMPLMENTAR FUNDAMENTAL

    Quem controla a vasão do Tietê ABAIXO de São Paulo é a Barragem Edgard de Souza. É ela que eleva o nível do Tietê o suficiente para que sua água seja bombeada de volta pelo Pinheiros até a Billings. Não faz sentido falar de vasão do Tietê sem falar da Barragem Edgard de Souza. Estão todos falando das represas do Tietê acima de São Paulo. Será que ninguém vai lembrar de investigar ou pedir explicações sobre p que está acontecendo ABAIXO?

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