A máquina de suicídios da France Telecom
Por Sérgio Troncoso
Olha as teses de reengenharia total e competição interna sem sentido, levandos trabalhadores a doença e morte. Só na cabeça de empresários sem um pingo de sensibilidade para o que é o ser humano, para achar que essa loucura no trabalho seja uma condição "natural" para alguem.
A fábrica de suicídios
Um edifício antissuicídios, um local de trabalho com janelas fechadas e parapeitos altos, como se bastassem poucos aparatos técnicos para pôr fim a um desastre social com poucos precedentes. À primeira vista, a notícia de que a France Télécom ocupará a partir de janeiro aquele imóvel poderia parecer uma farsa, se não se inserisse em um contexto trágico: 24 suicídios em apenas 18 meses, dezenas de milhares de funcionários em estado de choque, um administrador sob acusação por ter transformado uma empresa gloriosa em uma fábrica de depressivos comandados com mão de ferro. A esquerda pede a demissão do presidente e do administrador delegado, Didier Lombard, mas o Estado, primeiro acionista da sociedade, talvez se limitará a pedir a cabeça do seu vice.
A reportagem é de Giampiero Martinotti, publicada no jornal La Repubblica, 01-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O edifício de Saint-Denis, às portas da capital, onde 200 mil funcionários da operadora telefônica irão trabalhar a partir de janeiro, tornou-se assim um símbolo de uma empresa aterrorizada: janelas fechadas, terraços e passarelas inacessíveis, parapeitos elevados. O medo paralisa um pouco todos: nos últimos tempos, pôde-se ver um dirigente apunhalar-se diante de seus colegas durante uma reunião, uma jovem mulher se jogou da janela do seu escritório do quarto andar. E aqueles que, entre os suicidas, deixou alguma explicação acusou implacavelmente a France Télécom, os seus dirigentes e os seus métodos brutais.
A mensagem enviada por e-mail por Stéphanie, 32 anos, ao pai é terrível: "O meu chefe não sabe, obviamente, mas serei a 23ª funcionária a se suicidar. Não aceito a nova reorganização do serviço. Vou mudar de chefe e, para passar por aquilo que eu vou passar, prefiro morrer. Deixo no escritório a bolsa com as chaves e o celular. Levo comigo a minha carta de doadora de órgãos, nunca se sabe. Não gostaria que tu recebesse uma mensagem desse gênero, mas estou mais do que perdida. Quero-te bem, papai". Poucos minutos depois, a jovem se jogou da janela do seu escritório.
Na segunda-feira, 28, em Annecy, um outro funcionário se jogou de cima de um viaduto. Na carta à mulher, disse-se desesperado por causa das condições de trabalho. Lombard, ao assumir o posto, teve que enfrentar a cólera de 300 funcionários.
A France Télécom decidiu impedir a mobilidade interna dos funcionários, considerada uma das raízes do estresse. Mas trata-se só de um elemento. Um livro recém publicado ("Orange stressé", de Ivan du Roy, que se refere à marca comercial da sociedade e brinca com a sonoridade de laranja espremida) aponta o dedo contra os métodos que têm um só objetivo: amedrontar as pessoas para estimulá-las a ir embora. Nesta quarta-feira, Louis-Pierre Wenes, o número dois do grupo, o homem encarregado de cortar os custos, estava sob fogo cruzado: "Uma vez ele nos disse: submissão ou demissão", conta um sindicalista.
Porém, o mal-estar vai além dos métodos de um homem. A France Télécom passou do mundo protegido de uma sociedade pública monopolista à de uma empresa obrigada a enfrentar um dos setores de maior concorrência hoje. A transição era objetivamente difícil, e nenhum dos dirigentes dos últimos 12 anos soube olhar para além do vermelho e do preto das contas. Os resultados estão debaixo dos olhos de todos, com o medo de que a longa lista dos suicídios possa aumentar ainda mais.
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