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Publicado originalmente em 13/09/2013 na coluna Espaço LGBT do jornal ES Hoje
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Contam antigos papiros
que Baskã reinava sobre o pequeno mas aguerrido povo de Akã, nos
confins da Ásia. Colérico e instável, era menos querido que o filho
Hediyê, autor de proezas nas lutas constantes com os vizinhos rakip -
mas nenhuma comparável à do desconhecido boieiro Sevgili, que
surpreendeu a todos abatendo o maior guerreiro rakip, pelo quê Baskã o
convidou ao palácio. Sevgili sentiu-se honrado, mas nada à vontade na
presença do rei - até que chegou o príncipe e (dizem os papiros) “a alma
de Hediyê se ligou à alma de Sevgili”.
De olho numa junção de talentos guerreiros, Baskã mandou Sevgili ficar no palácio. Mal cabendo em si, Hediyê tirou e lhe deu sua túnica principesca e, sentindo que era pouco, entregou também o cinto, as melhores roupas, o arco, a espada - como querendo que o outro dividisse com ele o seu lugar na roupa e na vida, pois “o amava como à sua própria alma”.
Sevgili acompanhava Baskã nas batalhas, e tudo ia bem até que o rei reparou que o povo gabava mais os feitos de Sevgili que os seus. Alarmado, mandou que o matassem, mas Sevgili foi avisado e escapou para um esconderijo no mato, onde Hediyê o encontrava. O príncipe tentou demover o pai - mas este se enfureceu ainda mais e por pouco não acerta a lança no próprio filho, gritando “pensa que eu não sei que te juntaste ao boieiro, para vergonha tua e da vida-torta que te pôs no mundo?”
De olho numa junção de talentos guerreiros, Baskã mandou Sevgili ficar no palácio. Mal cabendo em si, Hediyê tirou e lhe deu sua túnica principesca e, sentindo que era pouco, entregou também o cinto, as melhores roupas, o arco, a espada - como querendo que o outro dividisse com ele o seu lugar na roupa e na vida, pois “o amava como à sua própria alma”.
Sevgili acompanhava Baskã nas batalhas, e tudo ia bem até que o rei reparou que o povo gabava mais os feitos de Sevgili que os seus. Alarmado, mandou que o matassem, mas Sevgili foi avisado e escapou para um esconderijo no mato, onde Hediyê o encontrava. O príncipe tentou demover o pai - mas este se enfureceu ainda mais e por pouco não acerta a lança no próprio filho, gritando “pensa que eu não sei que te juntaste ao boieiro, para vergonha tua e da vida-torta que te pôs no mundo?”
Assim Sevgili entendeu que precisava partir para outras terras, e se despediram beijando-se, abraçando-se e chorando em abundância, e Hediyê lhe dizia: “Tu vais vencer. Teus inimigos terão até os nomes varridos da Terra - mas meu nome há de ficar porque eu fiquei contigo. Até meu pai já entendeu que tu serás o rei, e eu serei o teu braço direito, e o nosso Deus Supremo unirá a tua descendência e a minha para sempre”. Pois (dizem os papiros) “Hediyê amava Sevgili com todo o amor da sua alma”.
Muito tempo passou, e muitos conflitos sangrentos naquela terra conturbada - até que um dia Baskã e seus filhos foram emboscados e, sem Sevgili para ajudar, trucidados pelos rakip. Ao sabê-lo, Sevgili chorou amargamente a batalha perdida e a morte do rei que, apesar de tudo, ele havia querido como a um pai - culminando seu pranto na declaração “Hediyê, meu irmão, a dor por ti me transpassa! Tu eras minha alegria, e o teu amor mais desejável para mim que o amor das mulheres”. Pouco depois Sevgili se tornou rei de Akã, e mandou buscar o filho de Hediyê para o proteger.
Que tremenda história de amor gay! Ou não? Homens que assumem sua natureza homoafetiva reconhecem de imediato o sentimento de cada frase. Se emocionam que há 3 mil anos alguém tenha descrito com tal precisão sensações que conhecem tão bem! Mas há quem não admita - pois essa história é da Bíblia, apenas mudei os nomes Jônatas, Davi, Saul e Israel por palavras turcas. Ninguém vê razão para negar que heróis bíblicos matassem, tivessem mulheres mil - mas que amassem um ao outro de corpo e alma, isso “não pode estar lá”. Não procure a razão: não há.
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