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Publicado originalmente no jornal ES Hoje, em 09.08.2013
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É uma minoria barulhenta, entre
os religiosos, quem insiste em julgar a diversidade natural como anormal e
abominação. E essa deu de apregoar que uma meia dúzia de ex-gays ou
ex-travestis seriam prova de
que o caminho certo para todos os
20 milhões de LGBTs brasileiros é aceitar a religião deles para virarem normais. Ativistas LGBT retrucam
com fúria que orientação sexual não muda e os ditos ex só estão mentindo a si
mesmos. Não é sem razão - mas parece que travamos nesse -É! -Não é! e não vamos adiante. Que tal tentar enfrentar a questão
com um pouco mais de ginga?
Vejam: tem muito homem que nunca sonhou fazer sexo com outro, viveu um
casamento convencional por anos ou décadas, até que um dia, por brincadeira ou
bebedeira, consentiu em uma aproximação - e aí não quer mais ficar sem o sexo
entre iguais. Alguns desses conservam o interesse em mulheres, outros perdem
completamente. E aí: houve mudança de orientação sexual, não houve? Acreditem:
não!
Kinsey apontou 7 variações do
desejo, conforme seus objetos: 0: Só diferentes, nenhum igual. 1: Um
igual vez ou outra. 2: Iguais com considerável frequência, mas os
diferentes ganham. 3: Diferentes e iguais na mesma medida.
4: Diferentes com considerável frequência, mas os iguais ganham.
5: Diferentes só vez ou outra. 6: Exclusivamente iguais. Como se vê,
5 dos 7 tipos são capazes de prazer com os dois sexos, só 2 não são. A
população de gays/lés 100% é relativamente pequena, mas a de 100% héteros
também. Em períodos longos sem contato com o sexo oposto, a maior parte se descobre capaz de desejo por iguais. Dos que não
chegam a praticar, a maioria se contém com esforço e por medo incutido, bem
poucos por nem chegarem a desejar.
Nenhum hétero exclusivo optou
por ser assim: simplesmente é. O mesmo vale para gays/lés exclusiv@s. Já o
bissexual, tampouco optou por desejar os dois, mas tem sim 3 opções para realizar o desejo: só com iguais, só com
diferentes, ou com os dois. Sua história de vida pode ter levado a começar por
um dos lados, e esse ter sido satisfatório o bastante para ele nem desconfiar
que o outro lhe poderia ser igualmente bom, ou ainda melhor. Supostos ex-gays, se estão felizes, são é
bissexuais explorando outra de suas possibilidades. Ex-héteros podem ser a
mesma coisa, ou são gays quase-exclusivos que haviam se deixado dominar pela
doutrinação social heteronormativa. Alguns destes se libertam sozinhos ou com
ajuda de amigos, outros só com ajuda psicológica.
Reconheçamos: também existem héteros quase-exclusivos
que a vida levou a viver como homossexuais ou mesmo travestis em situações
p.ex. de prostituição forçada por penúria ou escravização. Quando essas
condições cessam, tais héteros reencontram sua orientação sem psicólogo nem
pastor, pois no rumo hétero a sociedade inteira ajuda. Mas se ser ex-gay te
custa esforço, terapia ou oração, meu bem… então seu caso não é esse - e aí só posso dizer: despacha da tua vida esses
parasitas, se solta… e (re)começa a ser feliz sendo o gay que Deus te fez!
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Como sempre muito didáticos seus textos, digo até que chega a ser como o "amigo íntimo" do leitor. Parabéns !
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