outubro de 2010
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neurociências
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Sidarta Ribeiro
neurobiólogo, chefe do laboratório do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra, professor titular da UFRN
NO BRASIL, NUNCA SE INVESTIU TANTO EM PESQUISAS SOBRE O FUNCIONAMENTO DA MENTE COMO NO ATUAL GOVERNO
Quase oito anos atrás, assisti comovido à posse do primeiro presidente vindo da classe operária do Brasil. Começava ali um imenso experimento social. Diante das dificuldades postas em 2003, o sucesso de Lula é quase um milagre. Somos um país com enorme força criadora, mas moralmente movediço e burocraticamente perverso. A façanha de Lula foi orquestrar o caos em prol do bem comum, mobilizando capital humano para imprimir direção progressista à sociedade.
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No discurso de posse, educação e ciência aparecem associadas à confiança em nosso capital humano: "Este é o país do novo milênio (...) por sua competência intelectual e científica, (...) pelos dons e poderes do seu povo". No governo Lula, os ministérios da Educação, da Cultura e Ciência e Tecnologia catalisaram a geração e disseminação do conhecimento. Houve concessão de bolsas e aumentos de salário, expansão do número de vagas e criação de muitos pontos de cultura, escolas técnicas, universidades e institutos de pesquisa. Nunca se financiou tanto a mente brasileira como agora, num processo que ampliou oportunidades na base da sociedade e impulsionou a pesquisa de ponta.
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Escrevo a um mês das eleições. A julgar pelas pesquisas, teremos a primeira mulher presidente do Brasil. Alguns a criticam por ser radical. Trata-se de uma pessoa que teve a coragem física de resistir à ditadura. Uma mulher inteligente que valoriza e articula com eficácia o saber técnico. Lidera ampla aliança partidária e pode ter maioria no Congresso. Governará uma economia pujante, vasta riqueza biológica e mineral e uma população relativamente pequena para nosso imenso território. Se tiver a bússola tão firme quanto a de Lula poderá completar nossa transformação em um país de todos.
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Mas para isso será necessária certa radicalidade. Por favor, presidente: adote ideias radicais na educação. Cumpra a carta-compromisso da educação, avaliando e oferecendo formação continuada a todos os professores, premiando os bons mestres e tratando com atenção aqueles inaptos a ensinar. Crie bolsas de estudos para todo aluno pobre, premie o desempenho escolar e garanta que nenhum aluno se desgarre pelo caminho. E por favor, vá além: federalize a carreira de professor, equiparando salários em todos os níveis aos vencimentos dos docentes universitários.
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Parece uma ideia louca, mas na verdade é apenas justa e necessária. O mais importante para o futuro são as nossas crianças. A revolução está ao alcance de suas mãos, presidente. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
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Sidarta Ribeiro
Revista Mente Cérebro - Duetto Editorial - outubro de 2010
Foto: Ayrton Vignola | Folhapress
Foto: Ayrton Vignola | Folhapress
Ilustração: Gonçalo Viana
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