Pois é, pessoal, por um lado é ótimo que a existência das civilizações africanas comece a ficar mais visível. A revista História Viva (Duetto Editorial) traz este mês uma matéria traduzida do francês sobre a cidade de Timbúktu - ou mais precisamente sobre sua busca pelos europeus na qualidade de lendário "Eldorado africano".
Não deixo de recomendar, apesar de não ser muito aprofundado. Está disponível em 5 (pequenas) páginas a partir de http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/em_busca_do_eldorado_africano.html , fonte das duas images que reproduzo abaixo.
O "pobrema" é que lá pelas tantas não sei se a autora ou quem traduziu deixa escapar uma "pérola" clássica - que vai explicitada na carta que acabo de mandar para a revista. (Ralf)
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Srs, o descuido terá sido da autora Françoise Labalette ou do(a) tradutor(a)?
Na matéria 'Em busca do Eldorado africano', em História Viva 79, maio 2010, lemos literalmente "'O vencedor de Timbuktu'", o primeiro homem a abrir caminho pelo Saara, desembarcou em Toulon em 8 de outubro de 1828", referindo-se a René Caillié.
Ora, a riqueza de Timbúktu e de tantas outras cidades da mesma faixa geográfica se devia justamente a serem portos de caravanas de um comércio transaariano regular que datava de séculos, e provavelmente mais: de milênios. Leiam-se a propósito, para citar um só nome, as obras de Basil Davidson.
Portanto, ao chamar esse francês do século XIX de "o primeiro homem a abrir caminho pelo Saara", o(a) responsável pelo texto deixa escapar mais uma vez a ideologia racista encravada nas profundezas do inconsciente: "homem" seria sinônimo de "europeu", ou no mínimo "branco"; e os próprios africanos não seriam exemplares dessa espécie...
É importantíssimo trazer a História da África a público - mas fazê-lo com total consciência e qualidade parece permanecer um ideal inatingido!
Ralf Rickli, autor do livro e da peça "O dia em que Túlio descobriu a África"
1. No caderno de Caillié, a mesquita da cidade é representada com um detalhado plano de sua localização. (Biblioteca Naiconal da França, Paris)
2. A grande mesquita de Djenné, cidade que impressionou o explorador francês pela prosperidade de seu comércio
A atenção é fundamental, não? Pequenos detalhes, palavras insignificantes, podem transformar completamente o conteúdo das coisas, dar outro tom.
ResponderExcluirE nossos ouvidos, mesmo que não detectem criticamente a coisa, registram tudo. E aí, já viu né? Dali a pouco tudo é reproduzido num mar de "sem querer" de uns, na terra do proveito de outros. Putz!
Beijão, Rarf. =)