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O último fim-de-semana era o da teoria... mas eu não consegui postar nada, pois estava tentando recuperar forças em Santos, na beira do mar...
Recuperar forças no fim das férias? - alguns poderiam perguntar ironicamente... ao que eu posso responder: "Como no fim? Esses 3-4 dias foram as minhas férias da virada 2007-2008..."
Enfim: há perguntas e comentários a responder, como os feitos aqui no blog pelos amigos Pedro Martins e Douglas A. Alencar, e outros feitos nos recados do orkut pela amiga que assina Brisa da Noite, residente no Pará... todos interessantíssimos, que rendem muito.
Mas essa vida de autônomo... 4 dias de férias já são seguidos por dias de aperto & correria!! Não posso me permitir redigir esses comentários antes de terminar mais um capítulo de tradução, ou melhor: tradu$$ão... :-)
Mas não quero deixar a semana teórica no vazio... e então resolvi transcrever aqui um trecho do artigo O Fantasma de Aristóteles que (com razão ou não) considero uma das coisas mais significativas que já escrevi, se não a mais.
Por quê? Leia você mesmo e avalie... Quero dizer apenas que pretendo fazer uma versão de leitura mais simples, que não seja entrecortada por tantos parênteses e notas de rodapé... mas que isso significaria um ou mais dias de trabalho, o que está fora de questão no momento.
E ainda que o artigo inteiro se encontra em www.tropis.org/biblioteca/pc12-aristoteles.doc (ou zip no lugar de doc). Abraços a tod@s!!!
12.4.2. A ética de que precisamos hoje: resumo
No capítulo 12.3 buscamos confrontar a Ética de Aristóteles com um corpo de idéias pelas quais optamos não por gosto arbitrário, e sim por crermos que fazem parte da ética de que precisamos hoje. Antes de prosseguirmos para considerações mais específicas, cremos que será útil um resumo de suas características principais:
• Uma ética baseada não na aplicação de regras pré-determinadas, mas no discernimento e opção do indivíduo;
- no discernimento da (ou pelo menos na aposta [1] na) organicidade universal, e com ela, da teia das conseqüências das ações; [2]
- na opção primeira de empregar nossa capacidade empática (com‑paixão) para informar nossas demais opções. [3]
• Uma ética que, a partir disso, não hesite em optar por afirmar a dignidade universal do humano e em se empenhar por todos os meios em fazê-la valer [4] – o que, ao contrário da visão de Aristóteles, deve incluir:
- uma valorização extra, compensatória, de todo trabalho tradicionalmente desprezado (como por exemplo e talvez emblema, o de faxineiros/as e lixeiros);
- a educação do trabalhador intelectual para a humildade e responsabilidade social;
- o poder de desfazer o véu de denegação que encobre dentro de cada um a distinção entre o necessário e o voluptuário,[5] de modo que a capacidade empática seja capaz de revelar a cada um, porém sobretudo ao próprio opressor, a indignidade do bem-estar baseado na opressão.
Cremos que é basicamente uma tal ética que pode viabilizar antes de mais nada um convívio inter-humano digno, e a partir daí o enfrentamento de quaisquer outras questões da humanidade.
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[1] No uso de Paul Ricoeur (segundo Rubem Alves), ou seja: como tradução da palavra "fé": não crença que denega a dúvida, porém ato de aposta existencial justamente quando na presença inexorável da dúvida – o que, embora talvez expresso com mais calor, não nos parece muito diferente do "como se" de Hans Vahinger (optar por agir como se tivéssemos certeza, mesmo sabendo que não temos).
[2] Que é o que nas filosofias da Índia recebe o nome de "lei da ação" ou, em sânscrito, carma. Embora também informe religiões, trata-se antes de tudo de um conceito filosófico e "com vida própria", não necessariamente vinculado a idéias como imortalidade, reencarnação etc.
[3] Escrevemos em 2001 no Manifesto do Reencantamento do Mundo (14, originalmente Rickli 2001): "Ética nascida não de regras, mas da percepção do brilho nos olhos do outro". E, relacionando isto já com o ponto seguinte, em um poema inédito de 1982; "você já olhou a luz que brilha / nos olhos daquelas mãos / que limpam a sua privada? / já? / não morreu de paixão?"
[4] Mais uma vez, isto pode partir de um sentimento de reconhecimento de algo dado, pré-existente como potencial (uma via reativa, possivelmente metafísica ou religiosa), ou não: pode partir simplesmente da decisão humana: "nós queremos que essa dignidade exista (quem sabe porque analisamos e julgamos melhor que seja assim), e se não existe vamos construí-la": via pró-ativa puramente ética – com possível recurso auxiliar à lógica mas sem submissão nem a essa: ato da vontade (opção) humana como soberana (antes de mais nada, ato de vontade inicial de se pôr em acordo pelo menos quanto a um mínimo indispensável – o qual porém provavelmente não brotará ou não será autêntico sem o discernimento inicial da organicidade).
[5] Na linguagem jurídica (apropriada aqui por brevidade): entre o que é a necessidade vital e o que é mero desejo. Adiantamos que em certa medida Aristóteles pode voltar a sem bem-vindo neste ponto, pela sua noção de educação das paixões.
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