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Este é o fim-de-semana poético deste blog, que se alterna com o teórico, fora as postagens ocasionais. Uma alternância POE/TEO, poderíamos dizer.
Este é o fim-de-semana poético deste blog, que se alterna com o teórico, fora as postagens ocasionais. Uma alternância POE/TEO, poderíamos dizer.
E desta vez, em lugar de buscar alguma coisa já "envelhecida nos barris", resolvo compartilhar duas doses de vinho extra-verde - aliás, talvez um vinho e uma cachacinha... -, brotadas justamente na manhã de 29 de fevereiro, como interrupção a uma pouco frutífera tentativa de produzir algo que pagasse as contas da virada do mês (um capítulo de tradução).
Irresponsabilidade, compartilhar trabalhos ainda por amadurecer? Provavelmente. Mas deu vontade... e lá vai:
MAIS UM ENSAIO (EM OBRAS)
SOBRE UMA LENDA PESSOAL
Trabalhando, deparo com as palavras: "local
de moradia". Tudo pára -
e me torno, inteiro, uma pergunta:
"onde
é a casa da minha alma, enfim?"
O farol da Rural Willys
de repente ilumina um alargamento da estrada;
de repente ilumina um alargamento da estrada;
espaço quase plano, arredondado feito um abraço;
uma terra solta e granulosa, gostosa de brincar.
A estradinha em meio ao mato
vinha sufocada de escuridão.
É aqui! É aqui!
Uma cerca de madeira
sugere casas e vidas por trás.
Uma tábua deitada sobre dois cepos:
lugar de repouso e conversa junto ao largo da estrada,
e duas árvores frondosas,
domésticas, amigas dos humanos,
diferente das que reinam prepotentes
ao longo da estrada sem fim.
É aqui! É aqui!
Aqui minha alma está em casa,
aqui eu quero ficar.
Aqui tem cama fofa que exala a alfazema
colhida ali no jardim.
Aqui tem fogão com chapa sempre quente
e o cheiro do café
nunca abandona ar.
Aqui alguns grandes conversam por perto
enquanto, por entre frutas mordidas,
a gente reina com empenho
sobre uma cidade de areia e pedrinhas brilhantes,
outra de toquinhos de madeira,
e outra, e ainda outras
que pra existir
nem carecem de materiais.
Qualquer coisa,
tem os grandes ali pra dar um jeito,
nossos serviçais.
E no entanto o carro não pára.
Prossegue em solavancos, frio e desalento
cruzando a treva que faz caras monstruosas
até um tope, uma curva, e mais estrada,
outra curva, outro tope, e mais estrada,
uma estrada de nunca, nunca,
nunca chegar.
UMA LETRA DE SAMBA
Pois é, amor...
acabou o café, amor...
samba de Serginho Cachaça
/ Gunnar Vargas, 2007
/ Gunnar Vargas, 2007
pois é, amor, eu sei
é o aluguel, é a mãe, o irmão doente,
é a prestação, é o pão, é sei lá o quê
eu sei que quem trabalha
vive sempre no tormento
mas assim já é demais:
você trocou o nosso amor
por um aumento
pois é, amor, eu sei
você tentou, quem não deixou foi o gerente
de repente tão bonzinho com você
e eu te esperando sempre
paciente feito um jumento -
mas agora foi demais (, meu bem) :
você trocou o nosso amor
por um aumento
.
É nesse aqui que quero ficar, Ralf... onde a noite apresenta ondas de vagalumes que dançam antevendo o dia.
ResponderExcluirDo lado fora é tanta gritaria...
Coisa boa ler o que você escreve.
Grande abraço