Já é de novo o "fim-de-semana teórico" deste blog... e eu nada de achar tempo de escrever as respostas a vários questionamentos que foram levantados quanto a postagens anteriores...
Mas alguma coisa eu prometi que ia postar todo fim-de-semana, não é? Então vai aí, sem muita explicação, o primeiro capítulo de uma nova apresentação introdutória da Filosofia do Convívio (ou Pluralismo Radical)... sobre a qual explico mais durante a semana. Vai lá:
No final do século XX tornou-se comum dizer que havíamos entrado numa "condição pós-moderna", em que não existe mais nenhum esquema explicativo absoluto, de modo que de certa forma "vale tudo".
De modo bem simplificado, é essa a tese central do livro de 1979 do francês Jean-François Lyotard (1924-1998), chamado O pós-moderno na primeira edição e A condição pós-moderna nas seguintes.
Naturalmente muitos contestaram até que exista alguma coisa que possa ser chamada pós-modernidade, enquanto outros autores propunham também outros traços para caracterizá-la – por exemplo Jean Baudrillard (1929-2007), que apontava a vida pós-moderna como dominada por simulacros.
Olhada com seriedade, a idéia de Lyotard não é porém nenhuma bobagem. Sobretudo, apresenta uma característica interessante: quando mais for contestada, mais estará comprovada – pois afirma justamente que não existem verdades seguras e fora de contestação!
Lá por 1995 tive a oportunidade de ouvir um professor doutor da PUC-SP falando com entusiasmo dessas concepções, mostrando o patamar superior de liberdade que havíamos atingido com isso –
... e aí lhe dirigi a pergunta: "professor, se agora de certa forma vale tudo, com que base poderemos dizer que as propostas do nazismo não valem? Que critério restou para explicar por que elas, ou outras semelhantes, não devem ser aceitas? Ou então elas devem ter lugar como quaisquer outras?"
Para minha surpresa, esse experiente professor – que apesar disso tenho fortes motivos para respeitar e estimar – ficou perturbado e terminou dizendo algo como: "É, de fato, a teoria não prevê isso. É preciso pensar essa questão."
Naquele momento eu achava – e continuo achando – que já sabia a resposta, mas teria sido bem deselegante, anti-ético mesmo, pretender "cortar a bola" na palestra de outro professor, ainda mais não tendo nenhum dos seus títulos. E além disso seria imprudente, pois na ocasião eu ainda não tinha nada escrito e muito menos publicado sobre essa resposta, a que dou o nome de Princípio do Pluralismo Absoluto.
Tive porém muitas oportunidades, antes e depois, de apresentar publicamente essa resposta, e observei que isso costuma ter um efeito ambíguo: por um lado a resposta convence; sua lógica é auto-evidente. Por outro lado, porém, parece causar certa perplexidade, e até mesmo irritação, porque é simples demais – e nos acostumamos a só apostar no complicado.
Confesso que eu mesmo me sinto extremamente perplexo de que um ponto tão pequeno possa ter conseqüências tão vastas, mas qualquer um que se dê o trabalho de refletir seriamente sobre essas conseqüências verá que o Princípio do Pluralismo Absoluto realmente dá conta do recado de preservar a liberdade plural conquistada pela pós-modernidade (o estado de maior liberdade que o ser humano já conquistou até hoje) protegendo essa liberdade de si mesma, impedindo que ela se auto-destrua –
... e, além disso, dá conta de uma infinidade de outras questões – pois quase que sem perceber acerta na raiz de onde brotam grande parte dos galhos que afligem a humanidade.
Por isso o chamo também de Pluralismo Radical – no sentido de Marx e de Paulo Freire: porque se dirige à raiz.[1]
[1] Karl Marx (1818-1883) e Paulo Freire (1921-1997) usam a palavra "radical" em sentido positivo, reservando a palavra "sectário" para o sentido negativo que se costuma atribuir a "radical".
[1] Karl Marx (1818-1883) e Paulo Freire (1921-1997) usam a palavra "radical" em sentido positivo, reservando a palavra "sectário" para o sentido negativo que se costuma atribuir a "radical".
Olá Ralf...estava passando por aqui e dei uma espiada no seu blog. Bom, não consegui aparecer no sábado, o cansaço me venceu.
ResponderExcluirDe qualquer forma fiquei pensando no seu texto e sua reflexão, e pensei nas questões em economia. Tenho a impressão, que pelo menos em economia, temos que ser plural também, mas estabelecer critérios sobre que teoria suar em determinado momento, em determinada situação.
Tenho comigo que muitas teorias têm um forte teor ideológico, seja para direita, esquerda, se é que essas coisas existem. Então, apesar de ler de tudo, tenho um filtro, no qual estão contidas minhas experiências com a Trópis, com os Direitos Humanos, com teorias de vinculadas a Marx, enfim. Temos mesmo que ser plurais, mas com posições mínimas de compromisso com a humanidade.
abraços parceiro