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PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL ES HOJE, em 13.07.2013
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO JORNAL ES HOJE, em 13.07.2013
Em junho prometi seguir detalhando as 1001 Diversidades
da sexualidade - e não deixarei de cumprir. Mas, conversando com gente que leu
a coluna, ouvi falas como “para mim até tal ponto vai - mas tal outra coisa já
passa dos limites” - e percebi que antes de prosseguir é fundamental conversar
sobre isso: existem mesmo esses limites? E, se existem, quais são? Existem,
p.ex., mulheres trans que anteriormente viviam o papel de homem em um casamento
hétero, fizeram operação de transgenitalização, e quiseram continuar vivendo
com a esposa de antes num casamento lésbico. E aí? Conheço quem fique indignado
dizendo que isso passa dos limites - e quem veja aí uma comovente
história de amor.
Há mais de cem anos surgiu a psicanálise. Milhões de
pessoas já foram analisadas, e se descobriu que todos têm fantasias
sexuais que não dá pra falar, pois
vão bem além do que as pessoas dizem umas pras outras que é o normal. Por volta
de 1950 Alfred Kinsey pesquisou também as práticas de milhões de pessoas
- e se comprovou o dito de Nelson Rodrigues: de perto ninguém é normal!
Então a Ciência diz que pode tudo? Não! A Ciência descreve
o que acontece, quem analisa o que se pode é a Ética, filha da Reflexão com a Investigação,
mestra de todo Direito digno desse nome (Ética filosófica, não a da tradição, pois esta, religiosa ou não, costuma
ser só desculpa para manter a Lei do Mais Forte - que é a própria negação do
Direito). E a primeira coisa que a Ética diz é o óbvio que todo mundo pensa que entende - só que não: o limite
da liberdade de um é a liberdade do outro. Também na cama: o que dois (ou
mais!) fazem por querer, sem um forçar o outro, por que não poderiam? É esse o
único limite necessário: quando se força alguém a fazer algo, aí devemos
entender que há crime - não por se tratar de sexo, e sim porque, ao tratar um
ser humano como objeto, lhe estamos violentando o órgão que o faz ser humano:
sua liberdade.
Estuprar, fazer entregar a carteira ou a vida, ou criar
situações que obriguem o outro a aceitar condições de trabalho indignas para
não ver os filhos na fome, são no fundo a mesma coisa. Forçar o outro devia ser
considerado crime sempre, exceto em um caso: reprimir a execução desses crimes,
o que não é violentar nenhuma liberdade legítima: é impedir que a liberdade primária
de alguém, legítima, seja destruída por uma liberdade nível 2, ilegítima. Já a
liberdade nível 3, que reprime a nível 2, é legítima, pois significa proteger a
liberdade primária, a qual é a própria humanitude de cada ser humano.
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