Cientistas já constataram que quanto mais frequentes as
relações homoeróticas em determinada espécie animal, mais pacífica é essa
espécie em comparação com outras (como no contraste clássico entre os pacíficos bonobos e os internamente violentos chimpanzés).
Por que, então, o atual movimento evangélico faz ponto de
honra da rejeição homossexualidade? Afinal, o cristianismo não almeja a paz?
Bom... aí depende de qual cristianismo,
independente de qualquer palavra que Jesus tenha dito. Inclusive, na maior
parte da história as vertentes pacifistas do cristianismo foram minoritárias, e
frequentemente perseguidas.
No caso dos que atualmente chamam atenção no
Brasil sob o nome “evangélicos”, é preciso antes de mais nada apontar que suas igrejas ou têm origem direta nos Estados Unidos, ou são
aplicações nativas de programas teológicos estadunidenses.
E há algo que poucos sabem "do lado de fora": na maior parte dessas
igrejas prega-se abertamente que é preciso que venha uma grande batalha física
entre Israel e as demais nações. Para eles já está decidido que Israel
vencerá, pois quando a batalha parecer perdida Jesus aparecerá nas nuvens,
Israel admitirá que ele era o messias esperado, e aí Jesus garantirá a vitória,
assumindo o poder do mundo como rei de um Israel cristianizado, e “regendo as
nações com mão de ferro” (segundo palavras da Bíblia).
O objetivo maior dessas igrejas não é, portanto, a salvação da alma
ou coisas afins, e sim apressar o estabelecimento do império terrestre de Jesus como rei de Israel da linhagem de Davi - este último de tanta importância simbólica por ter sido o primeiro e penúltimo rei a reunir os hebreus sob
um poder único, estabelecido fisicamente sobre o Monte Sião, na então já
multimilenar cidade de Jerusalém que ele acabara de conquistar pelas armas.
Nem é preciso dizer que essa crença agrada muitíssimo aos
judeus sionistas, que com isso capitalizam o apoio da maioria evangélica
estadunidense, e sabem muito bem que não precisam mencionar que depositam muito
mais esperança nos poderes do átomo que no de um tal messias ressurreto.
E as duas crenças agradam muitíssimo às mais altas elites
do capitalismo, que sabem que dependem da existência de grandes aparatos
bélicos (armas e exércitos) para manter as multidões do mundo em estado de
escravidão, ou no mínimo quietas quando não são necessárias.
De modo que esses missionários “evangélicos” que vêm se
fazendo tão visíveis no Brasil, tanto na mídia convencional quanto na internet, são
todos ou cúmplices ou inocentes úteis nas mãos dos poderes de sombra que hoje
governam dos bastidores os EUA e um bocado mais do mundo -
... poderes esses que
dependem fundamentalmente de que o mundo esteja num estado de guerra
permanente, visível como ou não tal.
E isso a ver com a homossexualidade?
Bom, não começamos por dizer que cientistas têm constatado
que, no mundo animal, quanto mais frequente o erotismo homossexual mais pacífica
a espécie?
Ou... sejamos mais precisos: quanto maior o papel do
erotismo em geral na espécie - o qual, quanto mais livremente se manifesta, menos
restringe sua face homossexual - mais inclinada a espécie é a encontrar
soluções não violentas para seus conflitos.
Ou quem sabe possamos dizer: essas já
perceberam que o prazer concedido mutuamente relativiza as diferenças, e que
afinal uma boa trepada é bem mais agradável que uma briga.
Daí que a esquerda gay italiana dos anos 70 talvez não delirasse tanto quando marchava ao som das palavras de ordem il
coito / anale / abbatte il capitale (“o coito / anal / derruba o
capital”) - embora eu pessoalmente nem ache que esse dom seja exclusivo dessa
forma específica do erotismo!
Mas sobretudo dá para entender que qualquer coisa que
apresente um bom potencial de pacificação seja execrada pelos ideólogos da
guerra e seus servidores conscientes ou inconscientes -
... servidores da guerra que podem até ser
judeo-cristãos (ou seja: idealizadores de um ungido da tribo de Judá, seja ele
qual for), mas jamais seguidores do Jesus que transparece no que se considera
sua mais longa fala preservada, o Sermão da Montanha, no qual se lê,
entre outras coisas:
- Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus;
- Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados;
- Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.
(Casualmente ou não,
escrito na Páscoa de 2012)
Excelente texto caríssimo Ralf!! Resta compartilhá-lo!! Obrigado!! Forte Abraço!!
ResponderExcluirAtt, Tarles Souza
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