Em relação à notícia feia/triste que postei aqui ontem, acabo de receber uma resposta auspiciosa de Givanildo Manoel, que me estimulou a retomar um tema que ficou em aberto na lista Amigos da Biblioteca Trópis há meses. Primeiro transcrevo a mensagem do Giva, depois vai meu comentário:
----- Original Message ----- From: Givanildo Manoel - Sent: Friday, March 19, 2010 8:03 AM
Subject: Re: Fw: preconceito contra mãe cigana / violência oficial contra criança em Jundiaí SP
Bem, felizmente o desfecho foi outro. A comunidade cigana me procurou, articulamos a defensoria publica, ontem teve audiencia. Hoje a representante da comunidade me ligou, falando que o Juiz admitiu o erro e que os guardas civis serão responsabilizados!Abraço fraterno,
Giva
blog:http://infanciaurgente.blogspot.com/
"Governo que não respeita a Defensoria Pública, não respeita os direitos da sua população!"
Meu comentário:
RRrrrrrapaz - parabéns, tiro meu chapéu!!
O absurdo era gritante, mas quando eu li que tinha sido "por determinação da justiça" imaginei que fosse causa perdida - ou no mínimo para se arrastar por meses, anos.
Aliás, talvez você e os demais colegas de lista não imaginem o quanto me cai bem essa notícia que você está nos dando! Isso porque ela não fala apenas desse caso em si, mas de uma questão mais geral da relação entre nós seres humanos e as instituições que criamos. E eu andava muito pessimista e amargurado com essa questão - o que foi uma das razões (não a única) que me afastou dos debates de que vinha participando e tudo mais.
Bem a propósito, uma das últimas coisas que eu trouxe na lista foi a pergunta se alguém conhecia Hinkelammert; fiquei devendo relatar um pouco do pensamento dele aqui, e não tive mais tempo e/ou força de levar essa investigação adiante. Mas o cerne do que me interessou nele foi o papo da dialética entre utopia e instituições: criamos as instituições como instrumentos para a realização das utopias, dos nossos sonhos - e elas tendem a se tornar negação das utopias, transformação de sonhos ideais em pesadelos concretos... para cuja transformação temos que sempre produzindo novos sonhos novas utopias. A utopia tem portanto a função perpétua de servir de inspiradora, motivadora, da transformação do real... mas jamais poderá ser integralmente realizada; à medida em que se realiza já passa a ser parte dum real que precisa existir, mas que ao mesmo tempo precisa, perpetuamente, ser questionado.
Então foi extremamente auspicioso o seu relato de que a articulação da defensoria pública funcionou! Porque foi talvez o único em muito tempo em que vi um sonho concretizado de aperfeiçoamento das instituições funcionar (no caso a defensoria, e outras instâncias organizadas que possam ter participado). Quero dizer: atuar de fato em favor do incremento da felicidade humana, que na verdade é a única razão de ser das instituições, e não no sentido de "enquadrar o redondo", forçar a vida a entrar em estruturas aparentemente lógicas que podemos ter criado democraticamente, mas não têm a necessária agilidade e flexibilidade para acomodar o vivo dentro de si, terminando por ser um acréscimo à infelicidade prévia, em lugar de um alívio desta.
Ou seja: sua notícia me reacende a esperança de que não esteja necessariamente perdida a luta contra a degradação dos sonhos de felicidade em burocracia opressora. VALEU!!
Abraços a tod@s,
Zé Ralf
"Não aprendemos a fazer o que nos dizem:
aprendemos a fazer o que nos fazem."
(formulação de Marcos Ferreira Santos
para a chave de toda educação)
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