Urariano Mota
Receita para a liberdade de expressão
Publicada em 03/03/2010 por Urariano Mota, em Direto da Redação
http://www.diretodaredacao.com/site/noticias/index.php?not=4996
Reproduzido em 04 de março de 2010 às 10:41 no VIOMUNDO (L.C.Azenha)
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/urariano-mota-receita-para-a-liberdade-de-expressao/
Por isso, decido expor aqui uma receita para a liberdade de expressão que nos salve de Stalin na imprensa brasileira. Como toda boa receita de bolo, há que se começar pelos ingredientes. Que são, saudáveis:
O povo, com todos seus tentáculos
Fascismo, com o nome de Princípio Ativo do Capital
Mão forte, para o golpe
Democracia, no gênero defesa do mercado
Liberdade, para quem sempre a possuiu
Ovos de crocodilo, para as lágrimas
Ovos de serpente, para o veneno
E farofa, muita farofa, de preferência pronta na saliva.
Modus operandi, ou modo de fazer o cremoso criminoso:
Na batedeira dos noticiários, bata as claras dos ovos de serpente primeiro, bem unidas, a ponto de se tornarem venenosas só de serem vistas. Faça o mesmo com as claras dos ovos de crocodilos, que devem ficar no ponto do close de lágrimas na imagem e na tinta de pesar dos obituários. Acrescente o açúcar de voz melosa, suave, beatífica, de apresentadoras que de tão boazinhas, puras e pulcras viram santas no Vaticano. Bata por mais 3 minutos em cada flash de exposição dessa matéria.
Agora ponha as gemas de crocodilos e serpente em deliciosa mistura, junte a Democracia do mercado, Liberdade da classe mais A do Brasil, mais o Princípio Ativo do Capital, que jamais se chamará de Fascismo, e, para dar o gosto e o sabor do passado, da tradição que não falha, agite a mistura com Mão Forte, com golpes rápidos e de surpresa, à semelhança dos ladrões e assaltantes. Isso até formar uma massa homogênea, unida, submetida pela força e pela persuasão da força.
Por último, ponha o fermento bem armado e bata e bata, e bata, e golpeie. Despeje a massa numa forma de classe média bem untada de valores familiares e de nossa classe contra o resto do mundo. Asse em frigideiras de reputação bem aquecidas, até fazer a massa dourar pela aceitação do fogo. Reforce o fogo.
Os ingredientes da cobertura são simples: farofa e os ovos de serpente que sobraram.
Modus operandi da cobertura:
Retire as claras para que sejam batidas às escuras, em off. Deixe-as respirar em papel de jornais e revistas, bem expostas na sala durante o tempo dos informativos na televisão. Depois, adorne a cobertura com a frase "eu tenho medo", em todos os espaços livres da liberdade de expressão. Sirva-a com palavras dramáticas e lágrimas de Regina Duarte.
Sei que a esta altura devem estar perguntando: e o povo, e o povo com todos os seus tentáculos, como está escrito lá em cima nos ingredientes? O que fazer com o povo? Ora, o povo entra nesta receita por figuração estética. É simples. Usa-se o povo e se joga fora.
Esta é a nossa receita para a liberdade de expressão, conforme o seminário promovido pelo Instituto Millenium. Jornalistas, editores e donos do pensamento em geral poderão ter com ela a paz de evitar a eleição da Dilma Roussef. É possível que a receita não seja digerível por estômagos mais humanos. Mas com certeza dará um belo bolo.
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