No sábado passado, mandei a vocês uma mensagem que dizia "Ao lado de Paulo Freire, criador da Pedagogia do Oprimido, [AUGUSTO BOAL] é um dos poucos teóricos brasileiros reconhecidos com unanimidade em todo o mundo". Podem ter pensado que era exagero retórico meu - como pensam tantas vezes... :-D
Então olha o que saiu na imprensa hoje - envolvendo juntos o Paulo Freire (que mencionei na mensagem anterior) e o Brecht (sobre quem mandei mensagem ainda da Alemanha, mencionando a emoção de ter estado diante do teatro dele).
Grande abraço,
Ralf
Dramaturgo brasileiro recentemente falecido é comparado a grandes teatrólogos como o alemão Bertolt Brecht e o húngaro George Tabori
A morte do criador do Teatro do Oprimido, Augusto Boal, no último dia 2 de maio, aos 78 anos, foi destacada na imprensa alemã na forma de um renovado reconhecimento pela obra de um artista que esteve à frente de seu tempo.
Os maiores jornais do país foram pegos de surpresa pelo fato, mas aqueles que se pronunciaram foram categóricos ao enfatizar o caráter democrático e revolucionário das ideias plantadas pelo autor teatral carioca, que passou parte significativa da vida no exterior. Isso contribuiu decididamente para que Boal se tornasse a principal referência do teatro brasileiro no mundo.
Admirado por parcela da esquerda alemã e por uma legião de atores e diretores teatrais provenientes da cena alternativa de Berlim, Munique e outro centros culturais europeus - como Paris, Viena e Londres -, Boal tinha na Alemanha escala certa para suas investidas teatrais nos campos da emancipação política, da educação e até da psicoterapia.
Brilhantismo intelectual e carisma
Oliver Scheiber, do semanário Die Zeit, que circula principalmente no meio acadêmico e intelectual, lembrou a última vez em que Boal esteve em Viena, na Áustria, em abril de 2008.
Na ocasião, o dramaturgo brasileiro ministrou um workshop para 400 juristas vienenses, explanando como o Teatro do Oprimido poderia enriquecer o trabalho da Justiça. "O carismático pedagogo teatral brasileiro teve diante de mais de 400 espectadores uma performance inesquecível no Palácio da Justiça, um lugar pouco usual para o encontro", escreveu.
Fascinado por Boal, Scheiber descreveu-o como artista, político e pedagogo delicado e atento. "A divulgação de seus métodos teatrais e modelos para processos de modificação política da sociedade o colocam à altura de Brecht, Paulo Freire e Tabori", comparou.
O diário Frankfurter Rundschau destacou a importância de Boal na comunidade internacional. "Em março último, a Unesco nominou Boal, que sofria de leucemia, embaixador mundial do teatro. Na teoria e na prática do Teatro do Oprimido, os espectadores se tornam protagonistas. Eles tomam a iniciativa do que acontece no palco e trabalham para sua própria libertação. Seus métodos, praticados por seguidores no mundo inteiro, são aplicados também na pedagogia e no trabalho social".
Fritz Letsch, um dos principais responsáveis pela divulgação das ideias de Augusto Boal na Alemanha, e que escreveu com Simone Odierna o livro Teatro faz política. O Teatro legislativo segundo Augusto Boal - Um Livro Oficina, foi um dos que defenderam e propagaram a candidatura do brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz de 2008.
"Pela sua obra, que vem se aprimorando desde o começo de seu exílio em 1971 até os dias de hoje, Boal merece com certeza esse prêmio", escreveu Letsch em seu blog pessoal no ano de 2007. "Boal é um dos mais significativos homens de teatro deste século."
A emissora de rádio Deutschlandradio abordou o êxito dos livros do dramaturgo na Alemanha: "Seu livro Teatro do Oprimido é um sucesso mundial. Foi traduzido em 25 idiomas e só na Alemanha cerca de 50 mil exemplares foram vendidos desde a primeira tiragem."
A obra na Alemanha
Em 1997, durante uma de suas passagens pela Alemanha, Boal não escondia sua satisfação pela boa acolhida de seus métodos teatrais no país de Brecht: "Aqui na Alemanha já existem seis livros publicados por outras pessoas sobre o Teatro do Oprimido, como Teatro do Oprimido na Escola, O Teatro do Oprimido e o Psicodrama e o Teatro do Oprimido e os Professores. Isso mostra que a dimensão é enorme", declarou ao jornal Euro-Brasil Press, sediado em Londres.
Indagado sobre qual importância seu teatro teria num mundo transtornado ideologicamente, Boal soltou mais uma de suas originais observações: "Meu teatro é um processo extremamente democrático, em que as pessoas podem expressar os seus desejos. Aí eu acho uma condição do momento, em que o mercado está provocando nas pessoas o que eu chamo de 'a prótese do desejo'. Ele está tirando aquilo que é o nosso desejo autêntico e fazendo com que a gente suponha que deseja aquilo que eles querem vender".
As comparações com Bertolt Brecht
Era comum Boal se deparar com afirmações de que sua obra guardava parentesco com a do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. O brasileiro não negava a influência, mas não o considerava a maior inspiração teatral. Seu coração e seu intelecto pendiam mais para o russo Konstantin Stanislawski e para o inglês William Shakespeare.
Antes de partir para o exílio, no começo dos anos 1970, a última peça que Boal montara no Brasil havia sido A resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht. Já O Círculo de Giz Caucasiano, também escrita pelo autor alemão, chegou a ter uma pré-estréia nos palcos brasileiros, mas Boal e seu grupo não gostaram do resultado e abriram mão de seguir com ela. "É evidente que Brecht me influenciou, mas no sentido que muitos outros me influenciaram. Eu não sou a decorrência de Brecht", afirmou o dramaturgo brasileiro.
Autor: Felipe Tadeu
Revisão: Alexandre Schossler
A morte do criador do Teatro do Oprimido, Augusto Boal, no último dia 2 de maio, aos 78 anos, foi destacada na imprensa alemã na forma de um renovado reconhecimento pela obra de um artista que esteve à frente de seu tempo.
Os maiores jornais do país foram pegos de surpresa pelo fato, mas aqueles que se pronunciaram foram categóricos ao enfatizar o caráter democrático e revolucionário das ideias plantadas pelo autor teatral carioca, que passou parte significativa da vida no exterior. Isso contribuiu decididamente para que Boal se tornasse a principal referência do teatro brasileiro no mundo.
Admirado por parcela da esquerda alemã e por uma legião de atores e diretores teatrais provenientes da cena alternativa de Berlim, Munique e outro centros culturais europeus - como Paris, Viena e Londres -, Boal tinha na Alemanha escala certa para suas investidas teatrais nos campos da emancipação política, da educação e até da psicoterapia.
Brilhantismo intelectual e carisma
Oliver Scheiber, do semanário Die Zeit, que circula principalmente no meio acadêmico e intelectual, lembrou a última vez em que Boal esteve em Viena, na Áustria, em abril de 2008.
Na ocasião, o dramaturgo brasileiro ministrou um workshop para 400 juristas vienenses, explanando como o Teatro do Oprimido poderia enriquecer o trabalho da Justiça. "O carismático pedagogo teatral brasileiro teve diante de mais de 400 espectadores uma performance inesquecível no Palácio da Justiça, um lugar pouco usual para o encontro", escreveu.
Fascinado por Boal, Scheiber descreveu-o como artista, político e pedagogo delicado e atento. "A divulgação de seus métodos teatrais e modelos para processos de modificação política da sociedade o colocam à altura de Brecht, Paulo Freire e Tabori", comparou.
O diário Frankfurter Rundschau destacou a importância de Boal na comunidade internacional. "Em março último, a Unesco nominou Boal, que sofria de leucemia, embaixador mundial do teatro. Na teoria e na prática do Teatro do Oprimido, os espectadores se tornam protagonistas. Eles tomam a iniciativa do que acontece no palco e trabalham para sua própria libertação. Seus métodos, praticados por seguidores no mundo inteiro, são aplicados também na pedagogia e no trabalho social".
Fritz Letsch, um dos principais responsáveis pela divulgação das ideias de Augusto Boal na Alemanha, e que escreveu com Simone Odierna o livro Teatro faz política. O Teatro legislativo segundo Augusto Boal - Um Livro Oficina, foi um dos que defenderam e propagaram a candidatura do brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz de 2008.
"Pela sua obra, que vem se aprimorando desde o começo de seu exílio em 1971 até os dias de hoje, Boal merece com certeza esse prêmio", escreveu Letsch em seu blog pessoal no ano de 2007. "Boal é um dos mais significativos homens de teatro deste século."
A emissora de rádio Deutschlandradio abordou o êxito dos livros do dramaturgo na Alemanha: "Seu livro Teatro do Oprimido é um sucesso mundial. Foi traduzido em 25 idiomas e só na Alemanha cerca de 50 mil exemplares foram vendidos desde a primeira tiragem."
A obra na Alemanha
Em 1997, durante uma de suas passagens pela Alemanha, Boal não escondia sua satisfação pela boa acolhida de seus métodos teatrais no país de Brecht: "Aqui na Alemanha já existem seis livros publicados por outras pessoas sobre o Teatro do Oprimido, como Teatro do Oprimido na Escola, O Teatro do Oprimido e o Psicodrama e o Teatro do Oprimido e os Professores. Isso mostra que a dimensão é enorme", declarou ao jornal Euro-Brasil Press, sediado em Londres.
Indagado sobre qual importância seu teatro teria num mundo transtornado ideologicamente, Boal soltou mais uma de suas originais observações: "Meu teatro é um processo extremamente democrático, em que as pessoas podem expressar os seus desejos. Aí eu acho uma condição do momento, em que o mercado está provocando nas pessoas o que eu chamo de 'a prótese do desejo'. Ele está tirando aquilo que é o nosso desejo autêntico e fazendo com que a gente suponha que deseja aquilo que eles querem vender".
As comparações com Bertolt Brecht
Era comum Boal se deparar com afirmações de que sua obra guardava parentesco com a do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. O brasileiro não negava a influência, mas não o considerava a maior inspiração teatral. Seu coração e seu intelecto pendiam mais para o russo Konstantin Stanislawski e para o inglês William Shakespeare.
Antes de partir para o exílio, no começo dos anos 1970, a última peça que Boal montara no Brasil havia sido A resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht. Já O Círculo de Giz Caucasiano, também escrita pelo autor alemão, chegou a ter uma pré-estréia nos palcos brasileiros, mas Boal e seu grupo não gostaram do resultado e abriram mão de seguir com ela. "É evidente que Brecht me influenciou, mas no sentido que muitos outros me influenciaram. Eu não sou a decorrência de Brecht", afirmou o dramaturgo brasileiro.
Autor: Felipe Tadeu
Revisão: Alexandre Schossler
----- Original Message ----- From: Ralf Rickli / Tropis Sent: Saturday, May 02, 2009 8:58 PM
Colegas
Foi-se Augusto Boal, o criador do conceito Teatro do Oprimido, grande nome do teatro e da cultura brasileira em geral.
Concorde-se ou não com tudo dele, sua importância é ENORME. Ao lado de Paulo Freire, criador da Pedagogia do Oprimido, é um dos poucos teóricos brasileiros reconhecidos com unanimidade em todo o mundo. Quem sabe antes de mais nada pela características de serem teóricos práticos, pessoas para quem toda ação continha reflexão, e toda reflexão estava totalmente a serviço da ação - ação de transformar o mundo.
Há umas duas semanas foi-se aqui em Sampa outro nome do teatro - um tanto menos conhecido, mas também comprometido com o teatro-como-arma-de-transformação: Reinaldo Maia, envolvido com a história do Teatro Arena. Desde que ele se foi me sinto com a dívida de registrar publicamente o quanto as oficinas de dramaturgia dele foram de valor para mim, entre outros contatos. Homem de um enorme conhecimento da cultura popular brasileira! Dei umas aulas de inglês no apartamento dele - e mal conseguia me concentrar, tantos eram os objetos de arte e artesanato maravilhosos que enchiam todas as paredes e estantes - sem falar dos livros!
Quero me permitir imaginar que o Maia esteja recebendo o Boal alegremente agora, em algum lugar, e tramando-se no maior bate-papo... Que a inspiração deles possa estar conosco e com eles a nossa gratidão!
Zé Ralf - em 02.05.2009
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