HOMOFOBIA NO EXÉRCITO
Alípio de Sousa Filho
Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN
Editor da Revista Bagoas: estudos gays - gêneros e sexualidades
A matéria de capa da revista Época do domingo 1 de junho, com a história do casal Laci Araújo Marinho e Fernando Alcântara de Figueiredo, sargentos do Exército nacional – o primeiro é norteriograndense e o segundo é pernambucano –, relata o que é sabido: nas forças armadas de nossos diversos países, existem gays e lésbicas e estes podem ser tão bons e importantes profissionais como aqueles que se declaram heterossexuais (sim, os heterossexuais se declaram como tais a todo momento. Ninguém estranha, tornou-se natural: contam suas histórias de amor, beijam-se e andam de mãos dadas em público, aparecem em cenas de afeto e sexo em filmes, novelas etc. Toda a esfera pública é dominada por sua heterossexualizaçã
Matérias que circulam na imprensa de Brasília dão conta que o sargento Laci Araújo é perseguido em razão de sua atividade como artista, pois, além de sargento do Exército nacional, ele fazia cover da cantora Cássia Eller em shows na capital federal. Seus shows tornaram-se sucesso. O fato irritou comandos que não aceitam ter no Exército um militar gay que se assume como tal e que desenvolve atividade artística imitando ícone da cultura gay. Os comandos do Exército (como, de resto, toda a sociedade) preferem a invisibilidade dos homossexuais. De fato, o que socialmente incomoda é a visibilidade da existência gay, a conquista e a afirmação de direitos, o reconhecimento social e político. Enquanto permanece no silêncio e na invisibilidade, a homossexualidade é admitida, embora cercada de preconceito.
O Ministério Público recebeu denúncia, oferecida pela mãe do sargento, que acusa o Exército de preconceito e discriminação. Conforme a imprensa, entre as provas apresentadas pela mãe, estão conversas gravadas em que um general homofóbico acusa o sargento Laci Araújo de ser um traidor, pois, segundo acredita o general, o Exército não pode ter em suas fileiras quem põe em dúvida a suposta masculinidade verde-oliva. Na mesma gravação, o general expressa seu desejo de castigar o sargento com sua prisão e transferi-lo para o Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que exprime seu desejo de separá-lo de seu companheiro, o sargento Fernando, transferindo-
Toda a pressão psicológica sofrida pelo sargento Laci Araújo o adoeceu. Hoje, ele é portador de síndromes que certamente não deixam de ter relação com o sofrimento que experimenta. À repressão a que foi submetido no Exército some-se a angústia que guardou por muito tempo, produzida pela violência do silêncio a que gays e lésbicas são submetidos. O que, todavia, é mais perverso é a tentativa do preconceito de tornar controvertido um caso que nada tem de controverso. Temos aí um caso de perseguição por homossexualidade e todo o resto é pura desculpa homofóbica. O caso é claro: ódio contra aqueles que não se deixam tornar reféns do preconceito. Ódio contra aqueles que, felizes, não vivem sua sexualidade com culpa, vergonha, medo e alienação.
Não vamos deixar que nosso Laci Araújo torne-se um novo Genildo Ferreira de França, também soldado do Exército, que, em 1997, sob a pressão do preconceito por ser gay, matou 15 pessoas em São Gonçalo do Amarante, matando-se em seguida. Não vamos deixar que nosso bravo sargento Laci Araújo torne-se um novo Oscar Wilde, poeta e escritor, que, em 25 de maio de 1895, na Inglaterra, foi condenado a dois anos de prisão com trabalhos forçados pelo crime de amar um rapaz. Todos nós, homossexuais ou não, devemos combater o preconceito e suas atrocidades. Não há mais desculpas para ninguém ficar de fora desse combate. O Brasil não pode mais continuar admitindo violências como as que agora são submetidos os sargentos Laci Araújo e Fernando Alcântara. Condenações por homossexualidade nunca mais! O preconceito ignorante e a homofobia é que merecem condenação!
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