Esses dias resolvi ler a sério um
livro que tenho “bicado” desde a juventude: Eros e Civilização, de Herbert
Marcuse - sujeito que executou a proeza de mostrar como as teorias de Freud e
de Marx se articulam. Quase um ídolo nos anos 60 e 70, nunca foi superado,
apenas injustamente esquecido no rescaldo da onda neoliberal.
No capítulo 3, tio Herbie tenta explicitar
os sentidos da teoria apresentada por Freud em forma simbólica, como um mito, sobre
a derrubada de uma tirania patriarcal
primordial e o que teria vindo depois. E lá topei com o seguinte - levemente
adaptado pra facilitar a leitura - e aqui peço a vocês que não se ponham a
julgar por esse parágrafo isolado uma ideia que é discutida através de um livro
inteiro. Sugiro que “aceitem experimentalmente” pelo menos por uns momentos, para
entender o impacto que isso me causou agora, neste outubro de 2014:
“Na hipótese de Freud, parece
essencial que, na sequência do desenvolvimento rumo à civilização, um
despotismo patriarcal primordial tenha vindo antes do período matriarcal. Estão
tradicionalmente associados ao matriarcado um baixo grau de dominação
repressiva e uma amplitude de liberdade erótica. Na hipótese de Freud, estas
nos aparecem mais como consequências da derrubada do despotismo patriarcal, do
que como condições “naturais” de origem. No desenvolvimento da civilização, a
liberdade só se torna possível como libertação.
A liberdade vem depois da dominação - e termina conduzindo à reafirmação da
dominação. O matriarcado é
substituído por uma contrarrevolução patriarcal, e esta última é estabilizada
mediante a institucionalização da religião.”
Deu calafrio. Lembrei de imediato das
gestões petistas de Luíza Erundina e de Marta Suplicy na prefeitura de São
Paulo. Foram sem dúvida as melhores gestões municipais de toda a história de
São Paulo - pelo menos antes de Haddad. A qualidade de vida deu um salto, e a
vida cultural entrou em ebulição. Apesar disso, nenhuma das duas foi reeleita,
e as duas foram sucedidas por dois pares de cafajestes - Paulo Maluf/Celso
Pitta e José Serra/Gilberto Kassab - que rebaixaram de imediato as políticas
sociais e a qualidade de vida, e calaram toda efervescência cultural numa
espécie de noite gélida e silenciosa.
E agora temos novamente uma mulher, de
esquerda, tentando a reeleição ao final de uma gestão que o mundo inteiro
reconhece como extraordinária.
E daí? Isso é bastante para falar de “contrarrevolução
patriarcal”?
Acontece que não estou pensando apenas
em Aécio Neves. Há tempos eu vinha observando que o tradicional clamor “em
defesa da família” não significa defesa de uma comunidade familiar internamente
democrática, e sim defesa da restauração do poder absoluto do pai dentro dela. “O macho adulto branco sempre no comando”, como
cantou (ou antes gemeu) Caetano
Veloso. Esse clamor sobe e desce de tempos em tempos - e a atual onda começou
precisamente na época da campanha de Dilma em 2010. (Não deixem de reparar, a
propósito na menção de Freud/Marcuse ao papel da religião).
Aí em setembro de 2014 temos uma
campanha em que as grandes estrelas foram três mulheres (o homem que conseguiu
maior ressonância não foi na condição de estrela e sim de buraco negro, eu
diria...). Uma das mulheres com intensa presença simbólica, as duas outras claramente
previsíveis como as competidoras na batalha final. Até a véspera. E aí, de modo absolutamente
imprevisível, uma das competidoras cai, e o macho que ela vinha deixando longe
atrás desde sua entrada na competição aparece, de repente, já na cola da
competidora que vinha na dianteira - num salto tão improvável, tão “fora da
curva”, que jamais poderá deixar de levantar suspeitas sobre a lisura do
processo - ainda se houver acontecido a limpo mesmo. (Se uma das eleições mais
decisivas da história do país considerado mais importante do mundo foi ganha em
fraude com participação ativa do judiciário, há apenas 14 anos, quem dirá que
fraude neste caso é impossível?)
O mais estranho é que no mesmo momento
entra em campo todo um coro e gigantesca legião de figurantes louvando o
candidato macho - que ainda há uns dias era tratado como uma piada de mau gosto
por muitos dos que de repente apareceram cantando no coro - e com tal “música”
e “coreografia” que evidentemente não se preparam em um dia.
A questão era apenas derrubar Dilma?
Marina tinha sido o tempo todo a única candidatura a lhe representar ameaça.
Mas ao que parece - voltando a Freud e Marcuse - a substituição de uma “deusa”
por outra não traria o mesmo sabor sadomasoquista da restauração da dominação
por um “deus” macho.
Ouvi de um amigo de Governador
Valadares que neste dia 9 a cidade foi percorrida por um “triunfo romano”: uma carreata
não em tom de campanha, e sim já de celebração de vitória de Aécio Neves. Eu
não estava lá e não perguntei, mas conheço o suficiente os interiores do Brasil
para ter certeza de quem estava lá: patriarcas rurais e seus sucessores em
preparação, o empresariado urbano, a elite dos “profissionais liberais” e dos “homens
públicos” profissionais. Em resumo: os “homens de bens” - os quais costumam
se definir como “homens de bem” quando via-de-regra não são nada do que isso possa
significar literalmente. E não será surpresa nenhuma se essas ações tiverem
sido combinadas em espaços maçônicos, e não nos espaços partidários abertos aos
comuns dos mortais.
Aécio os representa não por qualquer
capacidade, virtude ou realização própria: ele é um membro da classe com chances de vir a ocupar o posto individualmente
mais decisivo do Estado, e isso basta. Naturalmente, “classe” aqui não se mede
apenas em termos de patrimônio econômico: sejam quais for suas deficiências,
quem está ali é o neto de Tancredo Neves, por sua vez neto de José Juvêncio das
Neves, e este neto do Alferes José Antônio das Neves, nascido ainda no século
18 num lugar cujo ressonante nome a biografia de Tancredo faz questão de mencionar:
“Angra do Heroísmo”. Virtuoso ou não, um herdeiro da condição “natural” de
patriarca.
Pelo que se viu nestes poucos dias, não
hesito em dizer que eles aguardam o segundo turno como mera formalidade para
uma entronização que eles já decidiram a seu modo. Ou, em outras palavras: já deram o golpe.
E isso significa: se apesar da
manipulação pela mídia e pela a irmandade Judiciário & Ministério Público (e
falo aqui não das suspeitas mas apenas de seus atos públicos, oficiais, do mais
deslavado contrapartidarismo - “contra”
porque o que os une é apenas serem todos contra o PT), e ainda da “torcida” estrangeira
(que tem razões para ser de novo muito concretamente participativa, como já foi
no passado)...
... o PT e sua militância conseguirem
garantir que no dia 26 seja anunciado um número que dê vitória à nossa Dilma -
ainda assim podemos nos preparar para novas batalhas, provocadas por essa
gente, para fazer valer a eleição de Dilma. Entre outras coisas, não é de
duvidar que o inverno de 2013 tenha sido uma espécie de ensaio.
E isso tudo acontece, espantosamente,
no momento de maior prosperidade e bem-estar na história do país!
Espero com todas as minhas forças que
eu esteja enganado - mas sei que não
é nada impossível que não esteja.
Deixemos para depois de dia 26,
discutir o erro que foi não ter cerceado a liberdade de conspirar contra a
democracia - o que, obviamente, NÃO pode fazer parte do rol das liberdades
democráticas - e isso sem nem ao menos tentar criar algum veículo de educação
política da população, que atuasse no sentido contrário da manipulação pela
“imprenstituta”.
Me pergunto se ajudarão agora
invocações a todas as deidades femininas do universo - e por via das dúvidas,
sugiro: quem é disso, que comece a invocar!
Isso, é claro, enquanto continuamos
firmes da nossa militância por todos os meios virtuais e materiais!
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