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FALA MORIN:
FALA MORIN:
"É impressionante que a educação, que visa a transmitir conhecimentos, seja cega quanto ao que é o conhecimento humano, seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão, e não se preocupe em fazer conhecer o que é conhecer.
Na verdade o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta pronta para usar, que possa ser utilizada sem que a sua natureza seja examinada.
Assim, o conhecimento do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira, que sirva de preparação para enfrentar os riscos permanentes de erro e ilusão, que não cessam de parasitar a mente humana. Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo à lucidez.
É necessário introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais, mentais e culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro e à ilusão". (MORIN 2000, p. 13-14)
"A importância da fantasia e do imaginário no ser humano é inimaginável; dado que as vias de entrada e de saída do sistema neurocerebral, que colocam o organismo em conexão com o mundo exterior, representam apenas 2% do conjunto, enquanto 98% se referem ao funcionamento interno, constituiu-se um mundo psíquico relativamente independente, em que fermentam necessidades, sonhos, desejos, ideias, imagens, fantasias, e esse mundo infiltra-se em nossa visão ou concepção do mundo exterior". (MORIN 2000, 1.1)
FALAMOS NÓS:
[É preciso livrar-se do preconceito] de que a razão seja por natureza “fria”, “mecânica”, e portanto incapaz de intervir de modo apropriado na complexidade pulsante e sempre móvel da vida humana.
Na verdade ... uma “razão fria” ou “razão puramente utilitária” nem são possíveis, são contradições em termos; as atitudes apontadas por essas expressões realmente existem, mas não são razão, são arremedos, falsificações da razão – e sua correção não se encontra para o lado de uma redução da racionalidade e sim de sua intensificação até um grau em que se torne verdadeira – pois uma verdadeira racionalidade não ignorará jamais o papel do emocional ou do estético: sabe que estes são partes inalienáveis da realidade, e que seria irracional deixar de tomá-los em consideração em qualquer caso.
Ou, em outras palavras: toda verdadeira racionalidade é de tal ordem que abrange ou compreende dentro de si as famosas razões do coração, de que fala Pascal, bem como as do corpo e demais razões que houver.
Uma racionalidade perenemente fiel a si mesma – isto é, que não se retira do campo tão logo tenha encontrado uma fórmula fixa para deixar atuando em seu lugar, o que entre outros nomes se chama “dogma” e “preconceito” – reconhece até mesmo a existência do imprevisível e irracionalizável, e aprende a identificar o seu campo e a tratá-lo com respeito, como vemos no recente desenvolvimento da Teoria do Caos.
Todo pensar efetivamente desenvolvido é portanto um “pensar com coração”. Se não o for, é que ainda se trata de um pensar imaturo, ou aleijado. Ou talvez sequer chegue a ser um pensar.
A importância deste fato não tem como ser exagerada, pois, ainda que seja a serviço do “coração” ou do que for, é de fato só a razão que tem o poder de libertar. Outras forças podem conduzir todo o processo, mas no momento crucial as chaves que abrem as cadeias estarão nas mãos da razão – ou nem estarão presentes, se a razão não estiver.
Por isso mesmo todo apelo a uma redução da racionalidade é enganoso: na pior das hipóteses parte de quem está enganando (em posição ativa), na melhor de quem está enganado (em posição passiva). Pois a ausência ou insuficiência da racionalidade sempre pode ser instrumento da instauração ou da continuidade de servidões – e usualmente o é, seja nas mãos dos efetivos culpados, seja na mão de inocentes úteis que os servem sem percebê-lo (e que, também eles, só poderão se libertar pelo desenvolvimento de sua própria razão)." (RICKLI 2010, 1.2.1)
PELA SUPERAÇÃO DO FATOR BOIEQ!
(BOas Intenções EQuivocadas)
FONTES:
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000. Texto português com ligeiras adaptações nossas, em busca do melhor foco e inteligibilidade.
RICKLI, Ralf. Aos que podem salvar o mundo: a Pedagogia e Filosofia do Convívio e seu apelo por uma nova consciência & arte dos pais. São Paulo: Trópis, 2010.
Este material está sendo publicado simultaneamente nos nossos blogs Brasilianas.Org e Blogspot, na nossa página no Facebook "Olhares de uma Razão Apaixonada sobre EDUCAÇÃO & TRANSFORMAÇÃO", e será em breve em página no domínio tropis.org. Para fins não comerciais, pode ser reproduzida à vontade desde que mencionando autoria e linkando uma destas fontes originais; onde houver ganho financeiro com isso, a reprodução só estará autorizada mediante contribuição previamente acordada. (Ralf Rickli)
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