Olá Ana Estrella,
você me pergunta como foi mesmo que eu defini "casa" na nossa conversa de ontem - mas eu não costumo gravar conversas de msn, então aquelas palavras exatas nunca mais... A idéia, de qualquer modo, era a seguinte:
A casa não é meramente um lugar onde você abriga o corpo, mas é um pedacinho do mundo exterior que você impregna com a sua alma. É um pouco do seu interior, exteriorizado. Faz parte ao mesmo tempo do mundo exterior, e de você: foi você que escolheu as coisas, pôs do seu jeito, impregnou até com o seu cheiro.
Por isso (e isto eu não disse ontem) a gente SE reconhece na nossa casa, seus detalhes e objetos. É um pouco como um espelho, mas de maneira ainda mais rica, pois não reflete apenas aquele mesmo instante e estado de alma (como faz a imagem do espelho - com a qual continuamos solitários, convivendo com uma imagem que apenas reafirma o mesmo tom que estamos emitindo a cada momento, perpétuo samba-de-uma-nota-só): na casa eu como que me reencontro em diferentes momentos e aspectos de mim, projetados em diferentes detalhes e aspectos da casa - detalhes e aspectos que vêm carregados da memória do momento em que foram adquiridos e de todos os momentos que já passaram conosco...
Desse modo a casa ajuda a tornar meu interior visível, não só aos outros a quem recebo nela como se fosse um pouco dentro de mim, mas visível também a mim mesmo - e me ajuda portanto a ordenar e a integrar diferentes partes de mim.
Fazemos isso sabendo ou não sabendo - mas saber pode ter uma grande utilidade: afinal nem sempre podemos estar em casa, e se eu sei que o que me acolhe em casa é menos a sua matéria que os aspectos de mim mesmo que estão projetados e impregnados naquela matéria... então sei que a essência da minha casa está comigo em qualquer lugar onde eu estiver. Assim como me reconheci no exterior, posso agora me voltar para dentro de mim e reconhecer minha casa no meu interior.
Talvez como o clarão da Terra que ilumina a Lua, e de lá ilumina mais uma vez a Terra: quando vemos a Lua quase-nova, geralmente não sabemos que a sutil luz azulada que vem da sua parte quase-escura é nossa própria luz.
Mas se eu souber que o calor que me vem da minha casa é meu próprio calor, então posso reduzir a sensação de estar sem lar e desamparado quando estiver longe dela: sei que a carrego dentro de mim onde eu estiver.
Pois na verdade la maison c'est moi (ou, tornando o francês mais correto e o trocadilho ainda mais infame: chez moi c'est moi): minha casa sou eu.
PS: o blog da Ana Estrella desta conversa é http://anaestrella.blogspot.com/
Hoje, 27/12, é aniversário dela... e então mando ESTA CASA de presente!
(Aliás, coitada... quem mandou ter pai metido a filosofador: ganha de presente UMA TEORIA DE CASA... Se eu tivesse me dedicado a ser capitalista, alto executivo ou outro tipo qualquer de ladrão, poderia dar uma casa de verdade... :(
Mas aí me pergunto: será que a tal casa, construída com trabalho alheio expropriado,
conseguiria ter esse calor de que falamos aqui? )
Mas aí me pergunto: será que a tal casa, construída com trabalho alheio expropriado,
conseguiria ter esse calor de que falamos aqui? )
Muitíssimo obrigada!!! :)
ResponderExcluirAdorei a casa!!(super aconchegante)!
Amei a teoria! (algo de vc veio)...
Nao há presente que possa superar o seu esforço por nos criar tantas casas e aconchegos pra nos criar!
Obrigada sempre!
Beijos e abraços calorosos e masagísticos (como sempre)! ;)
nada mal como albañil, o carpintero, o arquitecto!
ResponderExcluirFELICITACIONES...
y gracias, porque si la casa es para mi hija, la considero también un poco mía...
no tanto para disfrutarla cuanto para criticarle la bagunça...je je, manías vengativas de vieja bruja....